O crime não pode compensar

O poder público, a despeito da sua incumbência, continua moroso e minimiza o interesse em desvendar os recorrentes delitos de toda ordem, ensejando que uma maioria de atos anti-sociais se torne insolúvel ao mesmo tempo em que muitos apenados continuam no pleno exercício de uma liberdade há muito cassada por sentença judicial. Por conseqüência, quando a segurança não é priorizada, de imediato a delinqüência ganha espaço e se fortalece, estabelecendo-se como força marginal, expandindo-se. Isto, inegavelmente, a princípio faz presumir que o crime compensa e como tal há quem assim se comporte ao ponto de embutir uma grave insegurança subjetiva na população que já busca a autodefesa a qualquer custo, tornando-se refém do medo que é real e permeia entre todos. Em razão do descaso para com a ordem pública, o crime se sucede no cotidiano da sociedade em todo o país, ascendendo a curva das estatísticas, ganhando espaço na mídia, causando infortúnios de toda sorte, ao mesmo tempo em que fomenta a incerteza da incolumidade pública. O mais grave é que essa ausência do Estado está suscitando uma precipitada e repetitiva condenação pelo poder de reação dos segmentos mais radicais da sociedade que toma para si, a prerrogativa medieval de fazer o seu tipo de justiça pela prática coletiva de outros delitos publicamente, como se seus atos fossem isentos das cominações de ordem penal, a exemplo de linchamentos e barricadas nas vias de tráfego cerceando o livre direito de ir e vir além do perigo de danos ao patrimônio e ao meio ambiente, fazendo com grande perigo para si e um infeliz legado para outros estamentos que ainda não despertaram para uma reação à revelia da lei. A marginalidade protegida pela omissão de deveres dos agentes públicos causa precedente de elevado risco e preocupação, enquanto desacredita as leis que já são paternalistas em excesso e põe em xeque as autoridades que continuam indiferentes na promoção da segurança objetiva e se mostram refratárias na prevenção e na resolução dos fatos que assumem a definição de violência humana, hoje dissipada por todos os espaços sociais, cujo grau de incidência assume características de poder paralelo, e, blindados pela impunidade, os autores de delitos sentem-se muito à vontade nos nichos da criminalidade. Neste contexto, mesmo sabendo que todo agente de crime pertence a uma família e isto nos diz respeito, ainda assim temos que exigir mais empenho do poder público para que inverta a curva da criminalidade para que todos tenham a certeza de que o crime não compensa.

Próximo tema: “Furto, o crime de colher sem plantar”.