Horizonte menos belo

Nasci num ambiente menos cinzento, contemplando um horizonte mais belo, acordado pelo despertador natural das aves em polvorosa nas árvores do quintal, as mesmas aves que anunciavam também a hora do banho após momentos únicos de brincar de pique-de-esconde na matinha perto de casa. As verduras e legumes, sempre presentes à mesa, vinham direto da hortinha caseira, sem remédio, tudo muito natural e saudável. O único risco em se comer as frutas dos pomares ao redor era o de cair das árvores e quebrar um braço ou uma perna.

Depois cresci, estudei e vim pra cidade grande, sinto falta das cores daquele horizonte belo de outrora. Aves, quando as vejo, são apenas pombos e pardais, mais conhecidos como pragas urbanas transmissoras de doenças respiratórias, numa tentativa da sociedade pós-moderna de arranjar um bode expiatório em quem impingir a culpa pelos atropelos em nome do progresso. Verduras e legumes foram substituídos por fast foods, traduzindo a fome das pessoas por sucesso e lucro a curto prazo sem pensar nas consequências dos próprios atos. E os que insistem em manter a dieta das folhas e legumes, precisam tomar cuidado com intoxicações e com o excesso de água sanitária para evitá-las.

Hoje, sacudida pelas respostas da própria natureza, a sociedade vive um aquecimento global de atenção ao meio ambiente, fazendo surgir movimentos de paz verde, de não-às-sacolas-plásticas, de salve-a-Amazônia, de preserve-a-camada-de-ozônio. Todos vivem na ânsia de compreender o que o meio ambiente tem a dizer ao expor suas feridas causadas pelos desmatamentos, ao vomitar num hálito iluminado sua lava incandescente, ao tremer incontrolavelmente diante de tanto descaso, ao escoar dos polos a crosta que lhe resta para refrescar o mundo.

As nações se reúnem, fazem pactos, assinam protocolos, estipulam multas e sanções para que se reduza o impacto ambiental de seu famigerado progresso, porém, o horizonte fica menos belo. O meio ambiente, esse incompreendido, geme e suporta, até não aguentar mais, chorando pelos seres extintos de sua fauna e flora, enquanto aguarda a redenção.