A DENGUE COMO INDICADOR SANITÁRIO DO ABANDONO SOCIAL

PICAR, PEGAR, HIDRATAR E REZAR...eis o nosso filme da hora.

Venero a Democracia.

E se tem algo que é bem democrático pelo planeta todo é o "modus operandis" das doenças, principalmente quando, epidemiologicamente, falamos de doenças infecto-contagiosas.

Aqui por São Paulo, embora também ela ocorra em todo territtório Nacional, a dengue faz suas vítimas em caráter epidêmico assustador e democrático, e acredito eu que todo brasileiro hoje é PHD nos assuntos relacionados a essa doença, conhecimentos que vão desde o vetor de transmissão (mosquito Aedes Aegypti) dos quatro tipos de vírus, I, II, III, IV, até período de incubação, pródromos, sintomas , tratamento, prognósticos e riscos da doença.

Mas aqui quero falar de prevenção o que é mais importante, obviamente.

Porque geralmente remendar soneto não dá rima boa.

E a fórmula da prevenção é simples: se não tiver mosquito não tem dengue.

O problema é identificar os criadouros do mosquito que agora parece não fazer questão de águas sujas...

Bem, a natureza tem lá os seus mecanismos científicos de mutações mil para se adaptar aos momentos modernos que não são dos mais limpos, de fato não são.

É sujeira pra todo lado e os mosquitos vampiros prezam pela vida deles.

O que me causa estranheza é ouvir por parte das autoridades administrativas e sanitárias a informação à população de que 80% dos focos do mosquito são domésticos.

Ok. Eu acredito. Mas...

...resta saber o que é considerado domicílio e ou residência para esses senhores que dão declarações na mídia um tanto quanto polêmicas já que nós cidadãos ao andarmos pela cidade de São Paulo nos impressionamos com a montanha de lixo que acumula recipientes com água princialmente depois das chuvas, criadouros que coexistem muto próximos às residências de muitas pessoas, em comunidades ou não, inclusive se amalgamam com o batalhão de pessoas abandonadas que hoje habita as ruas de São Paulo a mercê de todo tipo de abandono e violência.

Se é doença em destaque, é preciso se falar a verdade da intimidade dos fatos.

Não sei se é impressão minha de cidadã desconfiada, mas tenho a nítida sensação de que a população é sempre a culpada de tudo, e isso seria uma meia inverdade.

Verdade seja dita: há realmente os que não colocam o lixo no lixo, não tampam as suas caixas hídricas, não fazem reciclagem de descartáveis, abandonam piscinas em desuso, deságuam a casa nos rios da cidade, enfim...vivemos um preocupante caos urbano que eu acredito que até milagre teria um trabalhão para o consertar.

Mas um caos urbano tão bem montado, convenhamos, não se constrói da noite pro dia.

É preciso muito, mas muito abandono do tudo mesmo por longos anos a fio.

Há a necessidade de anos e anos de abandono, de indiferença, de desrespeito, inclusive abandono da educação das pessoas e do demais prioritário da cidade para que convivamos com um agravo sanitário dessa monta, um estado de calamidade pública: os mosquitos Aedes, afora toda a violência da marginalidade à qual estamos submetidos por aqui, também nos atacam e nos matam aos baldes.

Vir na televisão dizer que o foco está nas residências das pessoas é provar que ninguém abriu os olhos gestores ao entorno da cidade que se transformou em ilhas de lixo a céu aberto. Afora as greves recentes das coletas. Nada a se relacionar?

No meu caminho de todas as manhãs me deparo com um depósito de ferro velho, meu Deus, eu não sei como aquele recinto ainda está por ali anos e anos a fio...

Quem olha? Quem vê? Quem fiscaliza? Quem multa?

É culpa dos munícipes? Ali não tem criadouros?

Gente, precisar da força do Exército para identificar larvas de mosquito...sinceramente...é de arrepiar o entendimento.

O que percebo é que qerem nitidamente desviar a atenção e culpar a população sob a notoriedade de que o lixo tomou conta da cidade...e os mosquitos fazem a festa, com banquete a céu aberto.

O triste é que aqui no Brasil tudo funciona como aquela piada do homem que chega em casa, pega a mulher com o vizinho no sofá, e resolve seu suposto problema vendendo o sofá. E fica todo satisfeito...com a sua eficiência resolutiva de agravos.

Genteeeee!

Venderam o sofá também no caso da Dengue! Perceberam?

É sofá a venda pelo país inteiro pra todas as soluções do "insolucionável"!

E ainda um doutor hoje me fala na televisão que a Dengue não é doença grave.

Deus! Foi até interpelado pelo próprio entrevistador...

"como assim?" perguntou o jornalista assustado.

Claro que é grave!

A Dengue faz choque hemorrágico por desidratação e queda acentuada das plaquetas, os soldadinhos do início da coagulação, só isso.

Mata em horas...

Mata mais idoso sim, não porque idoso tem músculo cardíaco fraco, como foi dito, mas sim porque sua imunovigilância (defesa às infecções) é atenuada pela idade avançada e idosos desidratam mais rapidamente, e muitas vezes NÃO FAZEM FEBRE em plena infecção, então são menos diagnosticados, afora as doenças degenerativas que podem estar associadas na terceira idade, as que caminham para descompensações graves diante da infecção dengosa. Só isso. É picar, pegar, hidratar e rezar.

Hoje, na mídia daqui, foi demais!

Mais que na hora de contar para a população que a epidemia de Dengue, essa de extrema gravidade que se delineia entre nós, assim como o é com toda doença infecto- contagiosa que eclode aqui e no mundo (vide o Ebola a exemplo), é só mais um indicador sanitário do nosso abandono social do planeta, e aqui do Oiapoque ao Chuí, multidisciplinar aliás, ou seja, o abandono que nos mapeia muito fidedignamente o tudo que deveria ser feito pelo social e pela saúde pública do brasileiro e não foi. Triste assim!

E como não tem saúde que dê conta nem do básico "feijão com arroz" do dia a dia do público do Brasil, surge a Dengue a desafiar e delatar o sistema emperrado em tudo, e a checar as explicações que nos são dadas... nem sempre muito convincentes e algo, digamos, polarizadas.

Seria intencional? Acredito que não.

Então, mais que na hora de montar as tendas e chamar o exército para tentar ao menos salvar as vidas epidemiologicamente negligenciadas que resistem, as vidas de absolutamente TODOS NÓS.

O mosquito?

Ah, está dando risada da nossa ineficiência social, da nossa incongruência de atos, da nossa falta de prioridade, a falta de tudo que nos é essencial e que sustenta todos os ductos pelo país afora.

Pronto: pensei e expressei.

E rezei também, claro.

Ao menos para que mais esse mosquito não me vampirize...