Ritmos da vida

Publicado em: Revista Terceiro Milênio, Ano 11, No. 115, Dezembro 2011.

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A vida moderna desconectou o ser humano dos ritmos da natureza. Até alguns séculos atrás, a noite era o tempo de dormir para recompor as forças vitais. Aí veio a Revolução Industrial, a luz elétrica, depois as linhas de montagem, o revezamento em turnos, jornadas múltiplas... E o ser humano foi avançando noite adentro com suas tarefas.

Mais recentemente, o sábado e domingo viraram dias úteis.

Claro que tudo isso teve um lado positivo. Não precisamos mais planejar os compromissos com tanta antecedência. Mas o lado negativo isso é que perdemos o vínculo com os ciclos naturais. Tanto é que muita gente ignora, por exemplo, que as datas móveis do nosso calendário, as estações do ano, as horas do dia, etc. têm base em ritmos planetários.

Apesar da vida cada vez mais acelerada, e das nossas atividades cada vez mais independentes dos ritmos naturais, ainda existem coisas que não podemos acelerar, por maior que seja a tecnologia disponível. Uma gestação, por exemplo. Até para se fazer uma cesárea é preciso esperar o tempo certo. O crescimento das plantas, idem. Até podemos apressar o crescimento por meios artificiais, mas ainda assim é preciso ter paciência para aguardar a colheita.

A produção de matéria prima para os medicamentos e cosméticos antroposóficos é um verdadeiro exercício de respeito aos ritmos da natureza. Por exemplo: várias plantas medicinais levam cerca de três anos para atingir o ponto ideal. O que faz o produtor? Mantém três canteiros ao mesmo tempo de modo a ter uma safra a cada ano. Como não é possível apressar a natureza, devemos aprender a lidar com ela. Quem trabalha no campo sabe muito bem disso.

Outra solução é manter vários canteiros de plantas diferentes, em vez de uma grande área plantada com só uma espécie. O respeito à biodiversidade é um dos pilares da agricultura biodinâmica, uma prática de manejo agrícola baseada na antroposofia que visa devolver à agricultura suas forças originais que se perderam com a monocultura e a industrialização.

Portanto, respeitar os ritmos da natureza não significa “fazer tudo devagar”, como pode parecer. Aliás, esse é um preconceito comum de quem mora na cidade grande. É mais uma questão de saber lidar, de observar os ritmos. Afinal, desse ritmo depende o sucesso (ou não!) do trabalho no campo. O sol, a chuva, os ventos, tudo influencia no crescimento das plantas.

É evidente que a vida moderna, com todos os seus confortos, tem muitos pontos positivos. A questão aqui é contrabalançar a correria da cidade através do contato com a natureza – seja através de uma pequena horta, animais domésticos, visitas ao campo, caminhadas, etc. Isso ajuda a resgatar a noção de ritmo, de passar do tempo. Podemos aprender com a natureza a mudar nossa rotina de modo a favorecer o curso natural das coisas.

Rodolfo Schleier é farmacêutico-bioquímico (USP) e especialista em fitoterapia (FACIS-IBEHE). Desde 2005 atua no Departamento Médico-Científico do Laboratório Weleda.