UM "MORTO" PELO QUAL MUITOS MORREM (Antônio Estêvão Allgayer)

O enigma do seu triunfo, que não encontra símile na história, ainda hoje confunde os que desejam a sua morte e a erradicação de sua memória. Como explicar que filósofos, homens de ciência, pessoas simples ou inveterados pecadores continuem vendo nele alguém que vale a pena seguir e por quem vale a pena morrer? Como justificar que, decorridos quase dois milênios de sua morte ignominiosa, incontáveis são os mártires que dele têm dado testemunho com o sangue e a vida? Como traduzir em termos de lógica simplesmente humana o fato de que, somente no século passado, sobre ele se editassem cerca de 62.000 volumes?

Esta pergunta, aparentemente ingênua, queima como ferro em brasa o ceticismo dos tergiversantes e a fé simplista dos incoerentes.

Couchoud, depois de tentar convencer a si mesmo e a seus leitores de que a "divinização" de Jesus de Nazaré não passa de um fenômeno cultural, faz este desabafo, verdadeira confissão de perplexidade:

"Quem quer que tente esclarecer as origens do cristianismo, deverá tomar uma decisão.

Jesus é um problema.

O cristianismo é outro.

Não poderá resolver um dos problemas senão deixando o outro insolúvel.

Se abordar o problema de Jesus, deverá percorrer os caminhos de Renan, Loisy, Guignebert (ou seja, os caminhos da escola crítica, n.d.r.). Pintará, com mais ou menos colorido, um agitador messiânico, um mestre do tempo dos últimos Herodes. Atribuir-lhe-á traços verossímeis para poder integrá-lo na história. Se for um crítico hábil, fará um retrato plausível, merecedor de aplauso.

Mas o cristianismo erguer-se-á como fato inexplicável.

Como o mestre obscuro se mudou em Filho de Deus, objeto inexaurível do culto e da teologia cristã?

Encontramo-nos aqui fora dos caminhos abertos da história. Faltam as analogias. O cristianismo é um absurdo incrível e o milagre mais extravagante" (MESSORI, Vittorio. Ipotese su Gesù, Ed. bras. intitulada Hipóteses sobre Jesus. Ed. Paulinas, S. Paulo, 1978, p. 177).

A réplica nos vem de Santo Agostinho e toca no cerne de um encontro já presente numa busca inefável: "Não me procurarias se já não me tivesses encontrado".

A resposta aceita pelos que decidiram apostar no triunfo da fraqueza de Deus sobre o poder da morte e do pecado foi dada pelos dois anjos postados junto ao túmulo vazio: "Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo" (Lc 24,5)?