Deus não é babá

DEUS NÃO É BABÁ
Miguel Carqueija


“Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia.”
(Ap. 21,1)

Uma idiossincrasia muito comum entre nossos irmãos ateus é aproveitar cada desastre, cada catástrofe natural ou tragédia humana para dizer, até raivosamente, que Deus não existe porque se exisitsse não consentiria nessas coisas. Ocorre um tsunami, mata milhares de pessoas, desarruma a vida de milhões, eles perguntam: “Onde estava Deus?”
Tal objeção é extremamente tosca. A existência de Deus, do Ser Supremo, é atestada e garantida numa instância anterior à dos acontecimentos: a própria existência do universo, que não possui em si suporte algum que lhe garanta existir sem um Criador.
Sobre isso a própria Ciência endossa a Religião, que nos afirma no Gênesis (logo na primeira frase) que o universo foi criado por Deus. A Ciência hoje comprova o “big bang” ou surgimento do universo pela expansão de uma singularidade que por sua vez somente existiu numa fração irrisória do tempo. A Religião também nos diz que o Universo não é eterno e findará na Parusia, ou o final dos tempos, e a Ciência, pela Segunda Lei da Termodinâmica, confirma este ensinamento ao garantir que os processos naturais são irreversíveis e portanto caminhamos para a entropia final da matéria e da energia, quando então o próprio Tempo deixará de existir. O Apocalipse promete uma nova Criação.
Por aí se vê que, não podendo o universo ter criado a si próprio, depende de Deus para existir. São tolas portanto as objeções ateístas baseadas no dano, no mal, nas desgraças. Além do mais, desde criancinhas nós sabemos que existem a morte, a doença, a violência, os acidentes e os desastres naturais. Por que então tamanho espanto quando ocorre um incêndio, uma inundação, um terremoto ou qualquer outro grande desastre? Vivemos num mundo de provação mas somos imortais e, após a morte, viveremos outra vida, com ou sem Deus, dependendo da nossa escolha. E convenhamos: que pessoas nós somos, que reclamamos tanto das vicissitudes da vida? Não aguentamos sofrer? Tantos santos (sem falar em Jesus Cristo) sofreram horrivelmente e não renegaram a Deus. Queremos que Deus seja a nossa babá, socorrendo-nos a cada passo, interferindo diretamente nos acontecimentos naturais (as chamadas causas segundas)?
Se a tal ponto supervalorizamos os acontecimentos temporais o resultado é que caímos no subjetivismo, pois onde estará a linha divisória além da qual se “provará” a inexistência de Deus? Não há como estabelecer. Isso é vontade de não crer na Divindade. Se levarmos tal critério às últimas consequências veremos que qualquer coisa servirá de pretexto para professar o ateísmo. Um grande amigo me disse certa vez, e jamais esqueci: “Perfeição só no Céu”. Aqui, se querem caçar imperfeições, temos um prato cheio. Até se eu sair à rua e der uma topada, contundindo o dedão, se quiser ser ateu poderei exclamar: “Estão vendo? Deus não existe! Se Ele existisse não deixaria que eu desse essa topada e machucasse o dedão!”
O ser humano, às vezes, perde a noção do ridículo...

Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 2017.




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