As motivações de Judas Iscariotes

AS MOTIVAÇÕES DE JUDAS ISCARIOTES
Miguel Carqueija


Judas Iscariotes era um dos Doze, isto é, os Apóstolos originais. Além dos chamados apóstolos, base do episcopado, o mestre tinha também os discípulos, homens e mulheres em número pelo menos de 72, ainda que os apóstolos sempre se sobressaíssem pois eram o corpo auxiliar principal e futuros pilares da Igreja que viria a surgir em Pentecostes, ou seja, após a Ressurreição de Cristo.
Mas Judas desperdiçou o grande privilégio que recebeu; traiu o Mestre e, desesperado da própria salvação, não buscou a misericórdia divina mas se enforcou.
Por que Judas traiu Jesus Cristo? Pouco se sabe sobre o traidor, menos ainda sobre as suas verdadeiras motivações. A seu respeito os Evangelhos falam relativamente pouco, mas há uma passagem (Jo 12. 1-8) bastante expressiva:

“Seis dias antes da Páscoa foi Jesus a Betânia, onde vivia Lázaro, que ele ressuscitara. Deram ali uma ceia em sua honra. Marta servia e Lázaro era um dos convivas. Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os seus cabelos. A casa encheu-se com o perfume do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair, disse: “Por que não se vendeu esse bálsamo por trezentos denários e se deu aos pobres?” Dizia isto, não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam. Jesus disse: “Deixai-a; ela guardou este perfume para o dia da minha sepultura. Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a mim nem sempre tereis.”

Existe uma curiosa teoria para explicar o procedimento de Judas. Ele teria sido um zelote ou coisa que o valha, um nacionalista extremado que, como os fariseus e a mentalidade da época, que misturava religião com materialismo (o mesmo se dá hoje em dia com a tal “teologia da libertação”), esperava um Messias político, um líder revolucionário que guiaria os judeus na luta contra o invasor romano. E Judas achava que Jesus, diante de soldados que quisessem prendê-lo, reagiria com milagres de combate, fazendo cair o fogo do céu ou algo parecido. E assim teria início a guerra de libertação de Israel...
Essa ideia esdrúxula e sem nenhum fundamento nas Escrituras é defendida numa superprodução de 1961, “O Rei dos Reis”, de Samuel Bronston (não se deve confundir com o homônimo de Cecil B. De Mille, feito no cinema mudo). Mas trata-se de um filme ridículo, que mostra invencionices absurdas como Jesus, diante de Pilatos, sendo defendido por um advogado; ou, nas tentações do deserto, o diabo nem aparece, só se ouve a sua voz; ou uma absurda rebelião em Jerusalém logo após a chegada festiva de Jesus, sendo duramente reprimida pelo exército romano.
Pelo texto supracitado do Evangelho de São João vemos que, antes da traição, Judas já era uma pessoa de caráter tortuoso, pois dado ao furto. As trinta moedas cobradas ao Sinédrio pela entrega de Cristo não eram tão grande coisa assim mas, afinal de contas, serviram para que o templo comprasse um terreno, depois que Judas as devolveu. Portanto também não era um valor tão baixo. Um caráter corrompido poderia praticar tal infâmia por essa quantia.
Mas afinal o próprio pecado é um mistério, o “mistério da iniquidade” como disse São Paulo; os verdadeiros e profundos motivos para a traição de Judas permanecem um enigma. Porém Cristo não poderia ser derrotado e sendo Deus, triunfou da morte, comprando a nossa salvação com seu sangue e sua Ressurreição.

Rio de Janeiro, 14 de abril de 2017.







imagem: Paulinas