A ARTE DA BUFOFAGIA*

"A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira." (Provérbios 15:1 - NVI).

Geralmente, não respondemos bem aos insultos, diante dos conflitos nossa reação natural, típica da natureza adâmica, é uma reação de mesmo nível, altura e até volume de voz. Um exemplo? Basta uma simples pesquisa na internet para nos certificarmos disso, digite apenas: "conflitos no trânsito". Outro dia o fiz, e a quantidade de notícias no tema era exorbitante, brigas, desentendimentos, prisões e, tristemente, até mortes foram as consequências mais comuns a esses eventos cotidianos. Parece-me que nós estamos cada vez mais intolerantes. O mundo em que vivemos mais agitado, mais elétrico, mais informatizado, não tem se tornado melhor com todos os avanços tecnológicos, ao contrário, tem aumentado a pressão, acirrado os ânimos, já não contamos mais até dez, é perda de tempo, temos de chegar logo! Onde? Quando? Não interesssa, temos de chegar! É o pensamento comum.

Provavelmente, o versículo acima é um dos mais conhecidos do livro de Provérbios, entretanto, muito pouco praticado. Acreditamos, geralmente que temos sempre de "lutar pelos nossos direitos", uma frase muito usada, outra é: "Não sou de levar desaforo para casa". Dificilmente estamos dispostos a baixar a guarda. Isso pode muitas vezes trazer-nos transtornos, mas, acreditamos que, se pisam em nosso calo devemos revidar. Outro frase muito usada é: "Não gosto de briga, mas, se tiver que entrar numa é para ganhar". Nos, esquecemos que em uma guerra ambas as partes saem perdendo.

Os conflitos sempre existirão, mas, é possível evitar que o conflito transforme-se em uma batalha, há um ditado muito antigo que diz: "Quando um não quer, dois não brigam", mas, geralmente, não fazemos todos os esforços suficientes para evitar as querelas. Não foi apenas o sábio Salomão que deu tal conselho, o apóstolo Paulo também nos orienta na mesma linha em Filipenses 4:5: "Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos. Perto está o Senhor"(NVI). A expressão traduzida pela NVI por amabilidade é na verdade um termo que significa, agir com misericórdia mesmo quando se tem todos os direitos a exigir. Em outras palavras, Paulo nos ensina a abrir mão dos nossos direitos em muitas ocasiões, tal qual o fez o maior de todos os exemplos para nós, como ele descreve nesta mesma carta no capítulo 2:5-8. Aquele que era sobre todos, Maior que todos, fez-se servo. Tudo que Jesus fez foi para nos dar sua graça e a vida eterna, mas, também deu-nos o maior exemplo de humildade. Aquele que ensinou que os humildes serão exaltados.

Talvez possa parecer que a minha defesa seja a de que sejamos sempre conformistas ou reacionários, de forma alguma, a Palavra de Deus nos ensina que o verdadeiro amor deve lutar contra as injustiças (I Co. 13:6), por outro lado, também diz que o amor está disposto a sofrer (I Co. 13:7). O que devemos aprender é que em muitas ocasiões não necessitamos e nem devemos lutar com unhas e dentes para termos sempre a razão, pois, em muitas ocasiões podemos sair "vencedores" em disputas ao preço de perdermos coisas muito mais valiosas. Podemos chegar em casa e pensar, hoje estou de alma lavada, quando na verdade podemos ter ferido alguém, ganhar uma disputa e perder uma amizade jamais compensará, mesmo que não seja uma amizade íntima.

Exemplo de guerras inúteis são as redes sociais, que têm se tornado palco de debates ferrenhos e discussões acirradas, onde nem todos têm maturidade para divergirem opiniões sem levar para o lado pessoal: "Magoei, não quero mais você no rol de amigos!".

A arte da bufofagia é muito importante para evitar-se quebras-de-braços inúteis, guerras infindas, amizades desfeitas,feridas e rancores, como dizia a música "Superman"(Fruto Sagrado): "Às vezes eu machuco, às vezes me machuco, explodindo por fora, explodindo por dentro, mas, eu tô aprendendo..." Precisamos aprender sempre.

Obviamente, engolir sapos não é muito agradável, mas, é uma prática, até uma arte compensadora e muito benéfica, ao contrário do que muitos pensam, não é um sinal de fraqueza, antes, é de muita força e sabedoria. A princípio o bufófago pode parecer ter sido derrotado, quando na verdade é um vitorioso, tal prática evita dores, rancores, desamores, e, em casos extremos, como nas brigas de trânsito pode ser a diferença entre a vida e a morte.

*bufos- nome científico do sapo cururu, fagia- alimentar-se de, engolir

REV. EJF ÁZARA

Edson Ázara
Enviado por Edson Ázara em 10/02/2017
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