“Respeite seu irmão; diferenças existem para serem respeitadas”

É comum que em locais de relações coletivas, como em terreiros de axé haja conversinhas, disse-me-disses ou coisas parecidas, infelizmente é inevitável, você pode evitar fazer as conversinhas ou participar delas, mas você não pode evitar ser vítima das mesmas.

Esse tipo de situação faz com que o Orixá se entristeça. O Orixá não está ali para que haja enredos, para compactuar com isso, o Orixá está ali para que seja zelado, e para zelar do seu filho. Quando vivemos em nossa casa ditamos nossas regras, de forma que mais nos beneficie, não temos obrigações de pensar no outro; pensamos por sensatez, e mesmo que alguns não estejam de acordo com suas decisões, com seu jeito, sua forma de agir, pensar e se comportar, na sua casa você faz como bem entender.. - Mas o terreiro onde está meu Orixá, também não deve ser a minha casa? Não devo ter sempre minhas convicções?

Sim, o terreiro do seu zelador, é a sua casa também, e ao mesmo tempo em que é sua casa, é também a casa de todos os seus irmãos, ali entre irmãos são todos iguais, mas o arquétipo do seu irmão não é o seu arquétipo, o temperamento do seu irmão não é o seu temperamento, e é assim que tem que ser, o seu irmão não tem que ser como você, não tem que ver como você, ou agir como você age. Devemos ser sempre nós mesmos, defendermos nossa essência que é o que faz de mim ser quem eu sou, e você quem você é, e o Candomblé é de uma grandeza tão nobre, que não exige de nós uma mudança de essências, de valores e não permite tratamento indigno, muito pelo contrário o axé aceita cada um da sua forma, e nesse misto, une todos em irmãos, essa é a verdadeira essência da religião.

Conviver com pessoas que não fariam o que você faria, não se veste como você se vestiria, não possui o seu comportamento ou não concorda com suas concepções não é motivo para que brote a desunião, as fofocas, os enredos, os grupos de exclusão, as críticas e imposições, não mesmo. Falar do irmão pelas costas, esperar que se ausente para que começa apontar seus defeitos é indigno, é mesquinho, sujo, desumano e o Orixá não compactua com mesquinharias, o Orixá não é seu cúmplice em sujeiras, por isso ele se entristece, fica desapontado com seu filho, nosso Orixá não merece que falemos mal do irmão pelas costas, nem o Orixá do irmão, é um ato injusto.

Por mais que esses motivos sejam reais, por maiores que sejam os motivos, devemos considerar, ter a amor pelo Orixá do outro, da mesma forma que nosso Orixá reina em nosso Orí e nós nos orgulhamos disso, no Orí do seu irmão também reina um Orixá que merece ser respeitado, e o mínimo que podemos fazer é conquistar o amor, a afeição do Orixá, que em nenhum momento nos ofende, nos desrespeita, só nos engrandece; seja ele seu ou do seu irmão, quem é do santo, respeita o Orixá, porque deve isso, porque precisa do Orixá.

Pessoal, não caia nessa de sentar com terceiros para notar ou apontar os defeitos do seu irmão, respeite seu irmão como ele é, seja digno de seu Orixá ter te escolhido, respeite o Orixá do seu irmão, que tudo vê, não é só o seu Orixá que merece respeito, todos os Orixás merecem muito respeito, muita devoção. Dizer que tem Orixá, que o irmão não tem, é de uma vaidade, de uma futilidade, que torna qualquer filho de axé indigno, desmerecedor de ali está.

Se o meu Orixá merece respeito, o seu também merece, se você tem Orixá, seu irmão também tem.

- Rose Almeida