CORPUS CHRISTI

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR *

Tomou em seguida o pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós.

São Lucas 22, 19-20

Etmologicamente falando, vem latim o termo: “corpus”, “corporis”, com o sentido de corpo. Assim o referido termo é o composto orgânico onde o homem, tido como ser racional, afirma direta e indiretamente sua presença naquilo que chamamos e ou conhecemos como sendo o mundo material. De modo que é nesse sentido entendemos como sendo um princípio constitutivo e ou substancial daquilo que constumamos chamar de totalidade humana, segundo o nosso entendimento dentro dos principios de humanização. Outrossim, entendemos de que o ser homem nem sempre é só matéria e ou corpo e muito menos só espírito. O que vale dizer que o ser homem é nada mais nada menos do que é uma totalidade ou corpo informado e que obrigatoriamente é penetrado por um principio espiritual. Diante desse fato, podemos dizer que a união é tão ítima, que o corpo condiciona as funções mais primitivas e/ou elementares do espírito, além do mais as suas condições biológicas são possuidoras de reflexos e/ou revoluções mentais profundas na vida psíquica de cada ser humano. É assim que a humanidade entende como sendo as mais altas abstrações do espírito e que tem que passar pela percepção dos órgãos dos sentidos vitais do ser humano em todos os tempos. Tanto espiritualmente, quanto materialmente falando, compreende-se como corpo sadio, aquele que é um instrumento admirável para uma vida psíquica, moral, religiosa, social, política e intelectual sadia em cada ser humano em sua individualidade. Por outro lado, quando o corpo humano sofre uma dor física, sua repercussão espiritual é inevitável, onde poderá levar a sofrimento interminável do tipo depressão e outros tipos de abatimentos. O espirito de cada ser humano tem atuação permanente sobre o corpo do individuo, de modo que através dos estados de afestividades, vem influênciar aquilo que chamamos e/ou conhecemos por funções biológicas. Tem algo sobrenatural no que se refere ao reino animal que causa distinção impar no tocante ao fato do ser humano ser o único que atingiu a posição ereta, além de permitir ao ser humano a visão dos grandes horizontes, tendo em vista que a pobreza, por exemplo, não é um cancer que se nasce com ele e tem que morrer com ele. Cada ser humano constituído por sua única individualidade, composto corpo formado por matéria e espirito, passa por revoluções mentais as mais diversas possíveis para atingir seus objetivos pessoais para o bem e ou para o mal de si e da humanidade. Alguém já afirmou que o ser humano por ser dotado de plasticidade admirável é singularmente falando um instrumento dócil em sua espiritualidade, uma espécie de anjo. O ser humano sempre foi e continua sendo em todos os tempos, inventor de tecnologias para atender suas próprias necessidades prementes, envolvendo seu passado, seu presente e prevendo o seu futuro. De modo que sua inventividade em termos de criação de utencílios aos quais confiou funções que os animais irracionais são sempre obrigados a concretizar e ou realizar de modo imperfeito tais atividades com seus próprios membros inferiores e ou superiores. Diante de tais afirmações, podemos citar de que pelos órgãos dos sentidos, o corpo humano in loco realiza com absoluta naturalidade uma variedade de operações, onde aparelhos eou tecnologias de última geração são ainda incapazes de cumprir tais funções e ou objetivos. É sabido de que o corpo humano, simultaneamente, oculta e revela o espírito e bem assim, seus estados afetivos de maneira admirável. É notável a existência da inteligência humana no simples olhar de uma criança, por exemplo. O espírito tem leis próprias que determinam o seu desenvolvimento e equilibrio diante de suas atividades, de modo que tais leis devem ser respeitadas para evitar a profanação de sua nobreza inexplicável e ou misteriosa.

Assim sendo, por analogia ao que acima foi mencionado, a instituição Santa da Eucaristia: “Corpus Christi” e ou solenidade do “Corpo de Deus”, festejada ou celebrada na Quinta Feira Santa na última ceia por Nosso Senhor Jesus Cristo, continua sendo o grande e único ministério da fé cristã determinada pelo Mestre e Salvador do mundo. A florescente piedade cristã do grande mistério da fé eucaristíca teve origem no século XI, e foi introduzida na Igreja Católica Apostólica Romana pelo Santo Padre Urbano IV, no dia 11 de agosto de 1264, através da edição da Bula Papal denominada de “Transiturus de hoc mundo”, não obstante de ter escritores teólogos que afirmam ter sido no dia 08 de setembro de 1264, o que não é verdade. O seu ofício para dar caráter especial a festa do “Corpus Christi”, foi composto por Santo Tomás de Aquino, por amor à tradição litúrgica, serviu-se em parte de Antífonas, lições e responsórios já então em uso em algumas igrejas de sua época e tem a seguint redação, segundo a tradução do Dr. Mendes de Aguiar:

Louva, Sião, ao Salvador,

Louva ao Principe e ao Pastor

Em teus hinos e cantares.

Quanto possas, tanto ousa:

E o teu louvor não repousa,

Pois que Ele é mor que os louvares

Tema ao louvor especial,

O pão vivo, o pão vital.

É hoje a nós oferecido.

O qual, a fé patenteia,

Aos doze irmãos foi na ceia

Por mãos divinas servido.

Haja ao louvor plenitudes.

Lêda sõe nas latitudes.

De nossa alma a exultação.

Pois raia o dia solene

Essa eterna instituição.

Na mesa do novo Rei.

A Páscoa da nova Lei

A fase antiga termina.

A sombra cede à verdade.

O vetustoà novidade.

E a luz bulcões elimina.

Na ceia, o que ele fizera.

Fazer-se Cristo dissera

Em sua recordação.

Ditames tais praticamos.

Pois vinho e pão consagramos

Em hóstia de salvação.

Um dogma é dado ao Cristão:

Quem em carne se volve o pão

E em sangue o vinho também.

Do que não vês nem alcanças.

Fornece a fé seguranças.

Da natureza indo além.

Sob espécies diferentes.

Por sinais tão só patentes.

Se ocultam coisas do céu.

Pasto é a carne, e verdadeiro

Sangue é o vinho; e Cristo inteiro

Das espécies está no véu.

Quem comunga não o parte,

Não o quebra, não reparte.

Pois que inteiro ele se come.

Um comunga e mil também.

Tem aquele o que estes tem:

E o cibo não se consome.

Dão-no aos bons, e a maus é dado,

Mas diverso é o resultado.

Vida, ou sim, perda final.

Morte aos maus, aos bons é vida

Aos que é dada igual comida:

Como o efeito é desigual!

Eis partido o Sacramento;

Não vaciles, lembra, atento.

Tanto haver sob o fragmento.

Quanto em si o todo inclui.

Do real não há cissura;

Do sinal tão só fratura.

Nem estado, nem estatura.

Certo a Deus se diminui.

Pão dos Anjos inocentes

Fez-se o pão dos viventes;

Sendo o pão dos filhos crentes.

Eis que aos cães jamais se dá.

Em figura assinalado,

Como Isaac, ei-lo imolado.

É o pascal Cordeiro Abado.

A Israel dado maná.

Pão real, Pastor bondoso.

Vinde a nós, Jesus piedoso!

Ah! Nutri-nos cuidado.

Dai-nos no céu, Pai donoso,

Dos viventes ser irmãos!

Vós que os orbes dominais.

E aqui nos nutris mortais.

Fazei-nos lá comensais.

Co-herdeiros fraternais

Dos Santos concidadãos.

Assim seja.

Aleluia.

A história registra que a procissão de Corpus Christi surgiu 1.270 em Colônia (Alemanha) e difundiu-se primeiro na Alemanha, depois na França e na Itália. Somente em 1.350 é encontrada a procissão de Corpus Christi em Roma. A Santa Eucaristia é o excelência o “Mystérium fidei”, porque nela estão escondidas a divindade (espírito)e a humanidade (corpo) de Jesus Cristo, tal qual ele próprio a instituiu em sua última ceia com os doze apostolos, ex-vi Epistola de São Paulo Apóstolo aos Corintios, capítulo 1, versículos, 11,23-29. Igualmente comprovada tal instituição do “Corpus Christi”, pela simples leitura do Santo Evangelho, egundo São João, capítulo 6, versículos 56-59, onde está escrito: “ Naquele tempo, disse Jesus às turbas dos Judeus: A minha carne é verdadeiramente comida, e o meu sangue é verdadeiramente bebida. O que comea minha carne e bebe do meu sangue, fica em mim e eu nele. Assim como o Pai que vive me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim o que me comer a mim, esse mesmo também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu. Não como vossos pais, que comeram o maná e, não obstante morreram. O que come deste pão viverá eternamente”. A eucaristia é um dos sete sacramentos e teve origem na última ceia do salvador do mundo.

A festa católica do Corpo de Cristo é realizada no mundo inteiro na quinta feira seguinte ao domingo da Festa da Santíssima Trindade ou da descida de Pentecostes. É dia santo de guarda para os católicos, inclusive com a obrigatoriedade de assistir a Santa Missa neste dia. A procissão do Corpus Chisti pelas principais ruas das cidades do mundo inteiro atende a recomendação do Cânone 944 do Código de Direito Canônico Romano em vigor, eis que determina ao bispo diocesano ou arquidiocsano de cada localidade que a providencie, onde for possível, "para testemunhar publicamente a adoração e a veneração para com a Santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo." Assim sendo, recomenda ainda, a não ser por causa grave e urgente, não se ausente da diocese o bispo, no período da realização da procissão mencionada, em obediência ao Cânone 395, do mesmo diploma legal antes citado.

Em suma, a procissão de Corpus Christi lembra a caminhada do povo de Deus, peregrino, em busca da Terra Prometida. O Antigo Testamento diz que o povo peregrino foi alimentado com maná, no deserto. Com a instituição da eucaristia o povo é alimentado com o próprio corpo e o sangue de Jesus Cristo. Nas grandes e pequenas cidades as ruas são enfeitadas para a passagem da procissão do Corpus Christi e acompanha por milhares de fies. Uma curiosidade nos chama a atenção do inicio da tradição devocional do Corpus Christi, que o Papa Urbano IV, antes mencionado, esteve com o Cônego Tiago Pantaleão de Troyes, Arcediago do Cabido Diocesano de Liège, na Bélgica, que recebeu desse o segredo das visões da freira agostiniana Juliana de Mont Cornillon, que afirma ter tido visões de Jesus Cristo demonstrando desejo de que o ministério da Sagrada Eucaristia fosse celebrado com destaque. Assim sendo, por determinação do Santo Padre Urbano IV, então gestor da Igreja Católica, os objetos milagrosos foram para Orviedo em grande procissão, sendo recebidos solenemente por sua santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a primeira procissão do Corpo e Sangue de Jesus Cristo. De modo que em 11 de agosto de 1264, o papa lançou de Orviedo para o mundo católico a bula (decreto) “Transiturus de hoc mundo”, que determina o preceito de uma festa com extraordinária solenidade em honra do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. A pedido do papa Urbano IV, São Tomás de Aquino, escreveu o cântico denominado de “Lauda Sion” (Louva Senhor), que ficou conhecido como o “Ofício” do Corpus Christi para dar maior explendor a festa até nossos dias.

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ACADEMIA PARAIBANA DE POESIA

CADEIRA 7 – PATRONO: CARLOS DIAS FERNANDES

REsp-1282265 PB (2011/0225111-0)

http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/detalhe.asp?numreg=201102251110&pv=010000000000&tp=51

https://ww2.stj.jus.br/websecstj/decisoesmonocraticas/decisao.asp?registro=201102251110&dt_publicacao=7/5/2013

https://ww2.stj.jus.br/websecstj/decisoesmonocraticas/frame.asp?url=/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/MON?seq=28033890&formato=PDF

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL

http://www.academialetrasbrasil.org.br/albparaiba.htm

http://www.academialetrasbrasil.org.br/ArtFPMAdetentos.html

http://www.academialetrasbrasil.org.br/albestados.htm

http://www.academialetrasbrasil.org.br/artfranaguiar.htm

http://www.academialetrasbrasil.org.br/galeriamembros.htm

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 19/06/2014
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