DONDO

Ontem, sábado, fiquei até mais tarde no computador bisbilhotando a Internet revendo alguns e-mails e jogando um pouquinho de “Bubble Shooter. Já tinha varado a madrugada de domingo, os olhos começaram a querer fechar e resolvi ir dar atenção ao sono.

Estiquei as pernas, puxei o cobertor, quentinho, e mergulhei profundamente pelos terrenos de Morfeu.

Não me lembro se sonhei. Só sei que, quando acordei, já na manhã de domingo, meu lado ainda dormindo ouviu um pedaço de palavra. Alguma coisa dentro da cabeça quis dizer algo que a minha metade acordada não conseguira captar.

Olhei bem para dentro de mim, prestei atenção, e pude captar um pedaço de palavra; “DONDO”.

Mas, afinal, o que queria dizer isso? O que é “DONDO”? Será que não ouvi direito? O que será que estão querendo me dizer?

Em vez de levantar-me, virei para o lado, cobri a cabeça e agucei os ouvidos internos para tentar captar melhor o que estavam querendo me dizer.

Não foi preciso esperar muito tempo e a voz balbuciou mais alguma coisa que pude decifrar: “RE”.

Afinal, “RE” pode ser tanta coisa! Uma sílaba desconexa, um prefixo, talvez, ou um outro pedaço de palavra! Quem sabe?

Continuei atento, com a cabeça coberta, quando ouvi, mais nitidamente a tal sílaba que, associada às outras do “DONDO”, era uma palavra que se formava. Já fazia sentido!

Embora a palavra tivesse conseguido “nascer”, não fazia sentido, isoladamente. Por mais que desse “tratos à bola” não conseguia entender o que significaria “REDONDO”!

Resolvi levantar, pois lá de dentro da cozinha, um perfume de café quente misturado com cheirinho de “shapati” ia, despudoradamente, invadindo minhas narinas, ainda encharcadas de “Afrin”, por conta de uma rinite alérgica, crônica e renitente.

Ainda meio tonto, procurando acostumar os olhos à claridade que invadia o quarto, pela janela adentro, ouvi mais alguma coisa que me fez pensar pelo restante dia.

Já estava escovando os dentes quando tomei um tremendo susto e quase engasguei. Ouvi, perfeitamente, mais uma parte do enigma e, em seguida, a frase completa: “DEUS É REDONDO”!

O que? Que maluquice é essa? De onde veio essa idéia sem pé nem cabeça? “DEUS É REDONDO”?

Por mais que esperasse por uma explicação adequada para a expressão, nada mais me foi dito e nem perguntado. Fiquei boiando mais do que rolha de cortiça no meio de uma lagoa...

Já à tardinha, enfadado com o que acontece em todos os domingos, desliguei a televisão e fui procurar alguma coisa para ler. Em minha modesta biblioteca, peguei um livro, aleatoriamente.

Era um livro que tratava de assuntos relacionados com a “Tradição”. Embora não fosse específico sobre “Gnose” parecia ser indício de que era por ali que devia buscar a resposta para a dúvida que nascera, com o diálogo interno...

Foi então que me lembrei da figura geométrica, composta por “um ponto inserido em um círculo”, simbolizando a idéia de Deus. Imaginando que ali pudesse encontrar alguma pista para o raciocínio que começava a desenvolver corri para o “Google” e fui atrás do “ponto no círculo”

Não tardou muito e encontrei um trabalho do pesquisador, Jaime Balbino, sob o título, “O Ponto Dentro do Círculo”, que abaixo transcrevo:

“Os corpos celestes foram a base sobre a qual se inspiraram os sábios da Antiguidade para definir as primeiras formas geométricas. Assim, os símbolos mais antigos das tradições esotéricas são o Círculo, o Ponto e as demais figuras planas. Como conseqüência, todas as Cosmogonias se desenvolveram tendo como base o Círculo, o Ponto, o Triângulo, o Quadrado e, na seqüência, até ao número nove; tudo sintetizado no dez, formado pelo Círculo e pela primeira unidade, ou ponto, constituindo a Década Mística de Pitágoras.

Não seria possível conceituar uma divindade lógica, universal e absoluta, sem a existência do Ponto dentro do Círculo. Nos primórdios da Humanidade, o Ser Supremo, o Criador, não tinha nome nem símbolo algum que o representasse. O mesmo não acontecia em relação à Sua primeira manifestação, a Criação, o Universo, cujo símbolo já então era o Círculo com o Ponto Central. Este também era o símbolo do Tempo Eterno e do Espaço sem Limites.

O Zohar, o Livro do Resplendor, ensina que o Ponto Original e Indivisível se dilatou e, por meio de um movimento constante, se expandiu e deu vida e forma ao Universo. A Divindade se expande de maneira ilimitada, e enche continuamente o Universo com suas obras.

Na Índia, os Vedas ensinam que Deus é um Círculo, cujo centro está em toda a parte e cuja circunferência não está em parte alguma. “Assim, o Círculo no qual o seu Ponto Central se expandiu e desdobrou é o símbolo esotérico da diferenciação e da geração”.

Essa visão panteísta nos transporta ao “murmúrio do sonho” permitindo inferir sobre a “redondeza de Deus”:

É isso mesmo que a voz interior queria mostrar: “Deus é Redondo”. É redondo porque não tem arestas, quinas ou linhas quebradas. Deus é absolutamente redondo porque não tem limites. O Círculo em que se inscreve como Ponto, não tem limitações e a Sua expansão está unicamente conduzida por Sua Vontade. Ele se expande ou se contrai conforme o Seu desejo e a Sua determinação...

Deus, na Sua redondeza, não tem limitações dentro da Sua própria e absoluta eternidade. É redondo porque o Circulo a que aludimos é, apenas, um referencial humano, foi uma criação do homem primordial e o ser humano não tem sabedoria para definir o que ou como Ele É!

Mas, o homem matéria, necessita de um referencial físico para O definir. Assim, criou um “deus à sua imagem e semelhança”. Isto é, um deus com figura de homem, com barbas, bigodes, cabelos de homem, com sentimentos de ira ou bondade, intrinsecamente humanos; um deus que inspira medo, pavor, que julga, que premia, que condena, que apascenta e protege filhos preferidos e execra filhos enjeitados...

Ainda, um deus que tem mãos, ouvidos e olhos perscrutadores e que se atira em porfias, no comando dos “seus exércitos”; o homem criou, para si mesmo, “um deus antropomórfico”, cuja palavra atemoriza e inspira medo...

Foi isso que a voz interior quis dizer com, apenas, um punhado de sílabas, aparentemente desconexas: “DONDO”, “RE”, “É” e “DEUS”.

A voz quis dizer que Deus é redondo na perfeição e é dentro da Sua redondeza que se insere tudo o que existe, pois não há um só átomo da Sua criação que esteja fora d´Ele mesmo.

Simplesmente, podemos dizer que Ele é “A FONTE” de tudo em Sua própria redondeza... É indefinível! Simplesmente, Deus É o que É!

Amelius
Enviado por Amelius em 16/06/2013
Código do texto: T4343585
Classificação de conteúdo: seguro