O DEUS QUE CREMOS

Entre os discípulos de Jesus sua personalidade se destacava. Sua gentileza e cortesia por vezes o transformava no relações públicas da equipe missionária, até os gregos que queriam ver Jesus procuraram seus serviços de intermediação. Conhecedor profundo das Escrituras, tinha especial admiração pelos escritos dos profetas. Sua perspicácia teológica lhe garantia a perícia de desvendar os mistérios proféticos para seus ouvintes convergindo-os para a revelação e cumprimento dos mesmos em Jesus Cristo. E não importava se o público era um Bartolomeu de sua cidade ou um desconhecido eunuco etíope. Ah! e sem falar nos milagres e maravilhas que realizava em nome de Jesus que deixaram atônito até Simão, o famoso mágico de Samaria. Era um homem sábio, competente administrador que acabava atraindo para si até a responsabilidade pelas provisões e aquisição de comida para o público.

Seu nome? Filipe de Betsaida, um destacado diácono, um fervoroso evangelista e um sincero discípulo de Cristo. Porém houve um mistério teológico que até a essa grande personalidade do cristianismo intrigou. Ele acompanhara Jesus durante todo o ministério deste. Pregara, curara, fizera milagres no nome de Jesus. Mas esse enigma ele ainda não havia entendido. Quantos períodos de meditação e reflexão ou quem sabe até noites de seu sono havia investido na elucidação deste mistério e até agora nada. Ele vira Jesus fazendo milagres que só poderiam vir do legítimo Filho de Deus. Ele percebera que a autoridade de Jesus sobrepunha-se aos demônios, as doenças, as forças da natureza e até sobre a morte. Jesus tinha tudo a ver com o que ele aprendera sobre o próprio Deus. Jesus possuia uma sabedoria onisciente, um poder onipotente e uma visão onipresente. A visão de Jesus ultrapasava os limites de tempo e espaço. Poderia ver Batolomeu debaixo da figueira mesmo sem estar presente no local bem como poderia saber que daqui a dois dias Lázaro estaria morto. Mas Filipe não estava querendo inventar a roda. Não ele nem era destas coisas, aliás Moisés mesmo dissera em Deuteronômio 6.4 "Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR." E até então achava que entendia o que Moisés queria dizer com isto.

Porém, o dia oportuno chegou. Jesus começou a dar o que conhecemos como "As últimas instruções de Jesus aos discípulos". O clima é de intimidade e mútua confiança. A pouco Jesus lavara os pés de todos eles e lhes ensinava sobre humildade, submissão, seu sacrifício e até apontara um traidor entre eles. Nesse particular discurso Jesus desvenda mistérios até então inimaginados por eles e claro, se coloca a disposição para sanar as mais inquietantes perguntas. Foi quando Jesus tocou no assunto de ir para o Pai, voltar e levá-los para que onde estivesse Ele, os discípulos e nós também estivéssemos. Filipe tomou coragem e disse: "Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta." [João 14.8] Sábio Filipe, que benção ter feito esta pergunta! Aqui Jesus esclareceu em todos os termos o mistério da Trindade. "Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras." [João 14.9-10] E nos versículos 16 e 17 dos mesmo capítulo Jesus revela: "E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o Espírito da verdade,..." Aqui e em várias outras passagens entendemos claramente de que o Deus eterno é ao mesmo tempo único e triuno. [Mateus 28.19; João 5.18; João 8.42; João 10.30-38; Efésios 4.6; Hebreus 1.8; II Coríntios 13.13] Não há três deuses, há um só Deus mas que subsiste em três pessoas o Pai, o Filho e o Espírito Santo. As pessoas são diferentes mas não independentes. O Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. Não temos que separar as pessoas para estudá-las separadamente pois Deus é um só. Um só Deus se manifestando de três formas, em três funções em três pessoas.

Isto é o que denominados Trindade. Embora o termo não defina muito bem, pois parece sugerir três divindades e haja apenas um Deus. O que importa é que cremos neste Deus eterno e imenso que nem a cabeça do teólogo Filipe nem a nossa pode conter. Não dá para limitar Deus, não dá para segurar este Deus e enquadrá-lo no nosso raciocínio limitado e falho. Tudo o que precisamos "saber" sobre Deus, Ele mesmo já nos revelou. "As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre" [Deuteronômio 29.29] Este é o Deus que a Bíblia nos revela. Tanto que nos primeiros capítulos de Gênesis quando os verbos se referem as ações divinas estão no plural. Não nos soa estranho quando percebemos no primeiro capítulo de João que o Verbo, ou seja Jesus, estava no princípio com Deus e o Verbo era Deus. E todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada do que foi feito se fez. Outra passagem que merece nossa atenção, esta com relação a pessoa do Espírito Santo, é Atos 5.3-4. Aqui Pedro adverte um homem que mentiu ao Espírito Santo que nos cristãos estava e terminantemente ele afirma: "Não mentiste aos homens, mas a Deus."

Todo ser humano que existe deve crer em Deus. Crer em Deus é mais do que uma necessidade psicológica é uma questão de sentido a propria existência. O máximo que alguém que queira não crer em Deus consegue fazer, é fechar seus olhos ao mundo, trancar sua mente, abraçar o ateísmo como religião e mentir para si próprio dia após dia que não crê em Deus. Porém apesar disso, cedo ou tarde perceberá que tudo foi esforço inútil que Deus é real e que até o ateu crê nisso. Porém, crer em Deus da maneira como Ele se revelou a humanidade é uma questão de fé. Fé não no sentido de religiosidade mas no sentido de decisão devotada. Como um casal de noivos que diante do altar dizem publicamente um sonoro sim um ao outro. Aquele sim é mais do que uma opção pública é um exercício de fé. Eles estão manifestando publicamente que apostam naquele relacionamento, que acreditam no outro, que creem que vai dar certo. Eles estão se devotando um ao outro. Assim Deus faz conosco, em sua soberana sabedoria se revelou de uma maneira ao mesmo tempo simples e complexa. Complexa para uma mente inquieta, simples para um coração devotado. Ele quer que o abracemos por decisão devotada porisso diz: "Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; serei exaltado entre os gentios; serei exaltado sobre a terra." [Salmos 46.10]

Realmente não é sem propósito que o Eterno, Único e Santo Deus, em sua multiforme sabedoria revelou-se aos homens subsistindo em três pessoas. A unidade da pluralidade percebida em Deus através da revelação bíblica, por ser uma verdade inescrutavelmente profunda e incontestável, é uma lembrança sempre presente para nós todos de que o desejo de Deus é que busquemos a comunhão com Ele e com seu povo escolhido. Quanto mais nos apaixonamos por este Deus infinito, pessoal e que busca relacionar-se com suas criaturas tratando-nos como filhos. Quanto mais nos aproximamos deste Deus pelo vivo e novo caminho aberto com o sangue do seu próprio Filho. Quanto mais nos relacionamos com este Deus através da comunhão do Espírito Santo. Mais desejo dEle sentimos e mais desejo de comunhão com nosso próximo sentimos. Quanto mais sentimos seu amor mais compassivos e amáveis somos com nossos irmãos e semelhantes.

Há muitas inquietações nos corações e nos escritos dos teólogos de nossa época. Havia também no coração de Filipe. Porém ele reportou-se não para sua própria sapiência que apesar de profunda era limitada. Ele voltou-se para Aquele "Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência." [Colossenses 2.3] Que bom seria se os inquiridores de nosso século tivessem semelhante humildade. Não haveria duas interpretações, dois caminhos ou duas teologias. Antes, pelo contrário se cumpriria o desejo de Jesus manifestado publicamente em sua oração sacerdotal "Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste."

Heleno Pedroso
Enviado por Heleno Pedroso em 21/07/2012
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