As mãos ensanguentadas de Jesus

As mãos ensanguentadas de Jesus

Está começando a semana mais triste do ano. Aprendi com a minha mãe e com a igreja, que esta é a semana em que nos penitenciamos com a dor de Cristo. E ela sempre teve o poder de me fazer sentir triste e culpada. Desde criancinha, ouvi dizer que Jesus morreu por nossa causa. Que a sua tortura e morte foi para a redenção dos pecados do mundo e que nós fomos os culpados pela sua dor e crucificação. Lembro-me até hoje do aperto que eu sentia no peito quando via a encenação de sua flagelação no palco armado em frente à igreja, a consternação de meus pais diante da dramatização da dor e o eco dessas palavras nos meus ouvidos dizendo que nós éramos os culpados de sua morte. Foram anos assistindo a esse martírio, e a culpa que eu não entendia me incomodando, apertando o meu peito. Depois vieram os filmes. A dor era ainda mais cruel quando via na tela o rosto desfigurado e as mãos sendo atravessadas pelos pregos, naquela imensa cruz. Eu tinha pavor em ver as mãos ensaguentadas de Jesus.

Jamais entendi porque eu seria culpada de uma morte que aconteceu milênios antes de eu existir. Não enxergava dentro de mim a maldade que diziam existir nos homens, razão pela qual Deus enviou seu Filho a terra, para nos redimir. E passei muitos anos, evitando ver essa imagem que despertava minha culpa e meus medos inexplicáveis. Depois de conhecer as passagens da história e descobrir a natureza selvagem do homem não só naquela época, mas também ainda hoje, entendo a missão de Jesus. Deus deve ter se decepcionado muito com a ambição humana, que desde os primórdios dos tempos, só viviam em função de conquistar impérios, acumular riquezas, usurpar o poder através de guerras que destruíam civilizações inteiras, tudo em seu nome. As cruzadas ostentavam a fé para o derramamento de sangue e a demarcação de limites, muros que eram feitos de escudos humanos para defender coroas de poder absoluto. Não havia amor e nem respeito entre os homens. Era a lei do mais forte imperando no mundo. Por isso Jesus veio ensinar a lição da humildade e do amor ao próximo e os homens enfim descobriram que a paz não morava onde a guerra era coroada com a glória, mas sim com a serenidade e o bem semeados nos seus corações.

Ainda existem alguns lugares na terra onde essa lei impera. Lugares onde o exemplo de Jesus não teve alcance e onde os humildes ainda veneram deuses de barro, líderes fanáticos, governos opressores que manipulam a humildade e a ignorância de seu povo para se manter no poder e no domínio, seja ele político ou econômico. Usam a vida de seus súditos para defenderem suas ideologias e não têm escrúpulos em lavar as mãos com sangue. Estes jamais souberam o significado das mãos ensanguentadas de Jesus. O amor ao próximo ainda está bem distante deles. E não sei se Deus lhes dará outra chance de redenção, como aconteceu no passado. Mas nós que fomos abençoados com o seu exemplo, estamos aos poucos aprendendo a lição da humildade e do amor, apesar de tantos ainda apegados só à riquezas materiais, vítimas de uma ambição que não se justifica, já que a vida é transitória. Hoje já vejo com mais serenidade a imagem do martírio de Jesus. E nas minhas preces, quando tenho meus momentos de proximidade para agradecer todas as graças que eu alcancei na vida, ainda sinto a necessidade de pedir perdão pela crueldade dos homens. Mas ainda prefiro ver imagens onde a serenidade resplandece no rosto de Cristo. Elas me lembram que Deus ainda tem esperança nos homens.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 02/04/2012
Código do texto: T3589900