Eu quero ver Deus! Já cansei da minha aparência.

...Importa que ele cresça e que eu diminua. (João 3.30)

Não sei porque sempre fiquei intrigado com o fato de não me sensibilizar com “shows da fé”. Sempre me questionei com essa minha falta de sensibilidade para os milagres. Confesso, eu até me esforcei muito para me sensibilizar, eu assisti muitas vezes a estes testemunhos mirabolantes, mas no final sempre foi a mesma coisa, sempre me vi sofrendo com o mesmo dilema: isso não tudo! Ah! Ele foi curado, tá, mas e depois da cura? E aqueles outros diversos fiéis que continuam doente? Será que é sua falta de fé que não o permite receber o milagre? Ah! Ele conseguiu sair da falência e agora é um empresário bem sucedido, tá acredito, mas e aqueles tantos outros fiéis que ninguém divulga que continua na “pindaíba”? Também a culpa da sua falência material é a fé? E a outra parte, e o outro lado da moeda, como é que fica? Esse é o meu dilema. A vida não pode ser colocada num livro de regras e ser monopolizada como um padrão de vida.

No entanto, quando o filho do Homem vier, achará, porventura, fé na terra? (Lucas 18.8)

Que tipo de fé é essa explorado por Jesus no versículo citado acima? Será aquela fé que conhecemos? A fé no eu “posso”, eu vou “vencer”, eu tenho certeza que Deus vai me tirar dessa? Será que Jesus se referia a esse tipo de fé? Não tenho medo de afirmar: não! Jesus falava de outro tipo de fé.

Vivemos num mundo caótico, onde a cada dia que passa aumenta-se o número de desgraças oriundas do coração sujo do homem.

O mundo ao qual vivemos é propício ao enfraquecimento da fé. Novamente quero enfatizar que me refiro a fé que Jesus ensinou.

Diariamente somos bombardeados com notícias do tipo: Pai mata a filha, o genro, o neto e depois se mata; mulher tem o rosto desfigurado antes de morrer; Pai é preso acusado de pedofilia contra a própria filha; filho(a) planeja a morte dos pais; enfim, notícias desse tipo já não nos impressiona. Será que Deus continua no controle de tudo? Achará, porventura, fé na terra?

Chegamos, enfim, ao empasse da questão. Jesus em nenhum momento se referia a “fé” em milagres, ou mesmo a “fé positiva”, talvez você esteja se perguntando agora: mas o que é fé positiva? Eu respondo: fé possitiva é a fé que todas as pessoas tem em sua essência, é a fé nas coisas naturais, por exemplo: ah eu vou conseguir! Ah isso vai passar! O mundo dá voltas (ainda bem por isso), Deus está trabalhando (esse trabalhar de Deus que me refiro, é o em prol de mim), eu diria que este tipo de fé é bem próximo do pensamento positivo, ou talvez seja a mesma coisa.

Jesus Cristo morreu e ressuscitou. Nos deixou diversos exemplos e ensinamentos práticos, e não somente teóricos, de como ter uma vida melhor aqui nessa terra. Passou a maior parte do seu tempo aqui propagando o Reino de Deus. Uma de suas falas preferidas era a de que “o Reino de Deus está próximo” (Marcos 1.14 e 15), no entanto, mas de 2000 anos se passaram desde que ele subiu ao céu e que dois homens vestidos de branco pronunciou as seguintes palavras: Esse Jesus, que dentre vós foi elevado ao céu, retornará do mesmo modo como o viste subir. (Atos 1.11) Porém nós não o vimos ele subir, e ele não veio...

Muita coisa mudou de lá pra cá.

Engraçado, parece que a história se repete. Antes da primeira vinda de Jesus, o povo ficou 400 anos sem ouvir a voz de Deus. Agora nós estamos a 2000 anos sem a presença física dele aqui. E com isso, seria inevitável não dizer que realmente o amor de muitos se esfriou. Achará, porventura, fé na terra?

Jesus prometeu que um dia viria buscar os seus escolhidos, os seus discípulos foram mortos dizendo o mesmo, no entanto, Jesus não voltou... E como todos nós sabemos, quando o Homem de Deus não “desce do monte” nós criamos bezerros de ouro para suprir a sua ausência. E como o povo de Israel, pegamos não os nossos ouros, porém pegamos tudo aquilo que possuímos: nossas teologias, filosofias, experiências religiosas e pessoais, mitos, supertições, crenças e valores, e com isso, criamos o nosso próprio deus. Criam-se então os diversos tipos de campanhas de oração, criam-se o “martelo da fé”, criam-se as “meias ungidas”, criam-se o caminho de sal-grosso, criam-se as regras e os mitos religiosos, criam-se a corrente dos 318 pastores, criam-se os métodos de oração, criam-se os shows da fé, enfim, fazem tudo isso dizendo ser em nome de Deus, mas de qual deus?

Jesus Cristo só pediu pra gente semear o amor, Ele só nos pediu compaixão para com o próximo, Ele só nos pediu pra gente ir e fazer discípulos (Mateus 28.19). Mas vamos parar por aqui, quem disse que o Jesus a que muitos se referem hoje é o Jesus de Nazaré? Não se esqueçam do episódio relatado em Lucas 24.13-35 onde dois discípulos conversam entre eles sobre um “Jesus” que nem o próprio Jesus o conhece, até que o Jesus verdadeiro surge no caminho deles e eles não o reconhecem, até o partir do pão.

Agora que chegamos até aqui posso dizer que compreendi o porque de não me sensibilizar com os “shows da fé”, é porque no show da fé está a aparência do homem e não a de Deus. Eu não sei você, caro leitor, mas eu quero ver Deus! Eu já cansei da minha aparência.

Deve ser esse o motivo de me sensibilizar com uma mãe que perde o seu filho para as drogas, no entanto, ainda assim mantém uma fé genuína no Pai de amor, e espera como o pai do filho pródigo dia-a-dia o retorno do filho querido, ou mesmo com aquele servo cansado do mundo que volta para a casa do Pai, mas sem forças, vai embora novamente, mas apesar de tudo insiste em querer voltar, ou mesmo com o cara que por diversas vezes disse que “nunca” mais iria colocar um gole de bebida alcoólica na boca, porém tem o casamento destruído por causa do álcool, ou mesmo com o individuo que morre de câncer após uma luta inenarrável com a doença, porém ainda assim, dizia que a vida é bela. Sabe por que me identifico com os fracos? Porque na fraqueza não há glória. Ninguém jamais irá fazer um show da fé com pessoas fracassadas, fraqueza não dá ibope. Não sensibiliza novos fiéis. Mas eu vejo Deus exatamente na fraqueza do homem. Eu vejo Deus nas mães que mesmo perdendo o seu filho para as drogas, ainda assim, compartilha o amor,eu vejo Deus na vida do alcoólatra que mesmo com a vida destruída, ainda acredita que um dia irá vencer o vício, eu vejo Deus no doente que mesmo não tendo a cura, compartilha sorrisos. Eu vejo Deus na fraqueza do homem. Não que eu não creia em milagres. Mas o milagre maior é aquele que não acontece, mas ainda assim produz no homem o milagre da fé genuína na graça de Deus. (2 Coríntios 12.7-10)

Jesus prometeu voltar. 2000 mil anos se passaram, e ele ainda não voltou... Achará, porventura, fé na terra?

A fé que Jesus se refere é a fé que abre mão da vida, é a fé que diz não aos holofotes, é a fé que diz não aos aplausos da multidão, é a fé que vai na contramão dos possíveis milagres para enriquecer o próprio ego daqueles que se dizem portadores do dom da cura, é a fé que caminha para o alvo, para a terra celestial. Terra celestial? Soa até estranho, né? Em pleno século 21 a gente ainda falar de coisas surreais assim.

É essa fé genuína que Jesus se pergunta se a encontrará quando voltar a terra. (Filipenses 3.12-21)

João batista fora o homem escolhido para preparar o caminho de Jesus Cristo.

João teve uma vida sem regalias, ele se alimentava de mel silvestre e gafanhotos, usava roupas de pele de carneiro, fora criado no deserto, porém em nenhum momento ousou pensar ser maior que o seu sucessor. E diga-se de passagem, ser o precursor do Messias não é para qualquer um, no entanto, quando alguns discípulos de João e alguns judeus discutiam a respeito da purificação (talvez em nossos dias, quem teria maior unção, ou mais poder), e foram até João para dizer que o povo estavam indo até Jesus para ser batizado por ele, João responde com as seguintes palavras: importa que ele cresça, e que eu diminua...

Não é isso que vemos nos dias de hoje. O que vemos hoje são pastores de multidões, pastorem que querem mais ovelhas que o maior pastor de todos: Jesus Cristo, pastores que se autodenominam autoridades espirituais, porém falam de si e de suas megas igrejas, falam mais dos seus feitos do que o feito maior de todos os feitos: “Deus entregou o seu próprio filho por amor a nós” (João 3.16). Ah! Já havia me esquecido novamente, eles não falam do Deus altíssimo, eles falam de outro deus. Achará, porventura, fé na terra?

Desce do monte Deus. A aparência dos nossos deuses nos machucam demais.

Eu quero ver Deus! Já cansei da minha aparência.

Luciano Cavalcante
Enviado por Luciano Cavalcante em 29/01/2012
Reeditado em 29/01/2012
Código do texto: T3467804
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