Mentiras, verdades, silêncios, intrigas, farsas... e heróis de ocasião saltam das mais de 200 mil palavras e 250 páginas de depoimentos de militares, Bolsonaro e aliados na Polícia Federal. Vejam:                     

 

 

Leia com exclusividade a íntegra do comentário:

 

MILITARES E BOLSONARO NA PF: MENTIRAS, VERDADES, SILÊNCIOS, INTRIGAS, FARSAS... E HERÓIS DE OCASIÃO

 

Vamos a militares.

O Supremo Tribunal Federal retirou o sigilo de todos os depoimentos sobre o 8 de janeiro de 2023.

São 250 páginas de depoimentos.

Com fotos, documentos. E mais ou menos umas 200 mil palavras.

Nos últimos dias e nas manchetes, alguns militares soaram heroicos.

Especialmente dois ex-comandantes. Do Exército e Aeronáutica.

O general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior.

Que saem retumbantes das 250 páginas de depoimentos à Polícia Federal.

Retumbam também as contradições.

Embora quase soterradas pelas manchetes.

Contradições nos depoimentos, mas não só.

Também na caminhada de Freire Gomes e Baptista Júnior nos últimos anos.

Resumo dos depoimentos.

O brigadeiro Baptista disse à PF que ele e Freire Gomes se opuseram à minuta e a planos golpistas de Bolsonaro.

E que o comandante do Exército, Freire Gomes, ameaçou prender Bolsonaro se ele atentasse contra a democracia.

Vamos à caminhada de ambos nos últimos tempos.

Durante o governo Bolsonaro, o brigadeiro curtia comentários de Bolsonaro no Twitter.

Soava como ultradireita.

Curtindo comentários do presidente de teor racista.

Com mentiras, golpismo e até tiros.

O jornalista Guilherme Amado expôs posts que marcam essa caminhada.

Como vocês podem checar nestas manchetes exibidas enquanto falo.

O herói da hora aplaudiu comentário que atacava “preto vitimista”. Post-dejeto publicado por Sérgio Camargo, que dirigia a Fundação Palmares.

Curtiu comentário em que medidas contra a covid-19 eram comparadas ao “comunismo”. E com a esquerda sendo acusada de “permitir incestos”.

Baptista curtiu até um post em que um mulher atirava rindo e gritando “Bolsonarooo”.

Note-se, além disso, que, ao ir Twitter ostentando seu posto de brigadeiro, Baptista infringia os regulamentos militares.

Mas, claro, isso não deslustra a versão heroica do brigadeiro diante da PF.

General Freire Gomes, ex-comandante do Exército.

Por que autorizou manifestações às portas dos quartéis por 60 dias?

60, não 70 dias, porque deixou o Comando do Exército três dias antes da posse de Lula.

Dia 28. A 29 de dezembro, Bolsonaro se mandou pros EUA.

Isso com quartéis cercados, país afora, e com lunáticos pedindo golpe militar.

A quem do novo governo Gomes denunciou a ânsia golpista?

Por que não denunciou ao Ministério Público Militar, por exemplo?

Freire Gomes disse à PF que não desmobilizou as manifestações por falta de pedido da Justiça.

Como sabemos, juízes estão sempre dispostos a interpelar generais, brigadeiros etc.

Que, por sua vez, costumam atender prontamente.

Perguntas.

Freire Gomes estava no Alto Comando entre 2018 e 2022.

Qual foi a posição do general quando o Comando autorizou militares, no caso generais, a assumirem cargos políticos?

Só militares ocupando ministérios no Palácio do Planalto em dado momento.

E mais de 6 mil empregados no governo, na União.

Fato solar então, a politização das Forças Armadas.

No governo deste mesmo Bolsonaro.

Não era necessário bola de cristal.

Freire Gomes é da mesma turma de Paulo Sérgio Nogueira na Academia Militar das Agulhas Negras, a AMAN.

O general Paulo Sérgio que o antecedeu no Comando do Exército e depois foi ministro da Defesa.

Golpista, segundo a versão dos ex-comandantes nos depoimentos.

Golpista também Almir Garnier, ex-comandante da Marinha.

Os generais Paulo Sérgio, Rêgo Barros, que foi porta-voz de Bolsonaro, e Amaro, que hoje é o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, são os três generais quatro estrelas da turma de 1980 na AMAN.

O que fizeram os estrelados ao longo dos anos de encenação golpista?

Freire Gomes e Baptista Júnior assinaram, como o almirante Almir Garnier, a nota dos comandantes a 11 de novembro de 2022.

Afirmando serem as Forças Armadas o poder “moderador”.

O que não são, ao menos segundo a Constituição.

Dito isso, mais contradições.

E delírios, e também amnésia.

À PF, Freire Gomes disse que não deu ordem ao subordinado general Theóphilo Gaspar, para que fosse se encontrar com Bolsonaro.

No dia 9 de dezembro, um dos encontros sobre a minuta golpista.

Freire Gomes disse que soube da convocação de Theóphilo por Bolsonaro, ao receber um áudio de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Disse também à PF que não tinha ciência do motivo da convocação do subordinado Theóphilo para a reunião.

E que não se recorda de onde estava naquele 9 de dezembro.

Perda de memória é um mal do nosso tempo.

Já o general Theóphilo, quiçá por ser um desses mitológicos Forças Especiais, citados nas mídias como Kid Pretos, está com a memória tinindo.

Disse à PF que foi apenas três vezes ao Palácio da Alvorada. E só depois da derrota de Bolsonaro.

E que, nas três vezes, foi ao Palácio “a pedido... do comandante Freire Gomes”.

E que, em duas destas três vezes, estava acompanhado pelo comandante do Exército, o general Freire Gomes. Que se esqueceu de tais visitas.

Dizem que é bom tomar gingko biloba.

Reparem...

A PF perguntou ao ex-comandante do Exército por qual motivo ele recebia de Mauro Cid informações sobre os financiadores das manifestações.

Freire Gomes disse acreditar que Mauro Cid lhe passava tais informações como “uma ação proativa”...

Sem que ele tivesse solicitado tais informações.

Isso é mais ou menos como se você, caro amigo, ou a cara amiga, subitamente recebesse mensagens de Scarlett Johansson, Michael B. Jordan ou Brad Pitt.

Por ter você assistido a seus filmes e terem Scarlett, Michael e Brad decidido se tornarem proativos.

Outros grandes momentos.

Militares vieram construindo suas verdades nos últimos anos.

E burilando-as nos últimos meses.

Por coincidência, vésperas do aniversário de 60 anos da ditadura.

Aquela ditadura instituída por eles, militares e os parças habituais.

Ditadura para livrar o Brasil de...uma ditadura.

A outra ditadura, hipotética, que, segundo militares, seria instaurada também por… militares.

Por isso, 6.500 militares foram perseguidos pela ditadura.

Pela ditadura que não seria, mas foi ditadura.

Não a outra ditadura, que foi sem nunca ter sido.

Das 250 páginas de depoimentos, saltam súbitos heroísmo e legalismo em defesa da democracia.

Lembremos. Mauro Cid ficou preso por meses... no quartel.

Por meses, estes personagens todos se visitaram.

Conversaram, confabularam.

Mesmo assim, se contradisseram nos depoimentos.

E não só.

Quebrados os sigilos telemáticos.

Um deles, do general inativo Laércio Vergílio.

Que, numa conversa, diz que Freire Gomes não resistiria a “uma boa conversa de rapó”.

Diz o dicionário que rapó pode ser cortar com lâmina, navalha etc, passar por experiência negativa ou tirar algo de alguém de modo ardiloso ou fraudulento.

Indagado pela PF se isso significaria tentar cooptar Freire Gomes, o general Laércio negou. E explicou o significado.

No seu entender o comandante “aceitaria e acataria argumento embasado juridicamente na Constituição”.

Leia-se a tese Yves Gandra. Artigo 142 da Constituição. Uma leitura farsesca das Forças Armadas como “poder moderador”.

A PF quebrou também o sigilo do militar Ailton Barros, preso por fraude no certificado de vacina da mulher de Cid.

Mauro Cid, nesta terça-feira, indiciado pela PF por fraude no certificado de vacinação.

Indiciados também Bolsonaro e outros 15.

E o Exército decidiu não promover Cid a coronel.

Fim de carreira.

Ailton, militar suspeito de acordo com o tráfico e expulso do Exército.

Pois essa flor de pessoa, via áudio, disse ao general Laércio Vergílio:

- O Freire Gomes tá dificultando a vida do presidente.

A PF perguntou a Laércio sobre seu apoio a postagens de Ailton Barros.

O general Laércio respondeu:

- Quis apenas prestigiar um amigo.

Já tivemos com Olavo Bilac, “Inculta e Bela, a Última Flor do Lácio”.

Temos agora Laércio, o general.

À PF, o ex-comandante Freire Gomes disse que o Exército manteve uma posição institucional e imparcial, sem interferir no processo eleitoral.

Bem, a candidatura Bolsonaro foi lançada dentro da AMAN, a 29 de novembro de 2014.

Entre tantas outras, a farsa da fraude nas urnas, 7 de setembros, ameaças… Isso é um Exército institucional e imparcial?

Perguntem-se: alguém foi punido por aquele ato absurdo de lançamento de candidatura dentro de academia militar? Não.

Quem então dirigia a AMAN era o general Miguel Tomás Miné. O atual comandante do Exército.

A verdade é uma interrogação tão antiga quanto a filosofia.

Tão antiga quanto Platão e Aristóteles, de séculos antes de Cristo.

Nos últimos tempos, o interesse pela verdade cresceu.

Por duas razões, segundo Michael Lynch, professor de filosofia nos EUA que está escrevendo livro sobre a arrogância na política.

A primeira razão do interesse maior pela verdade seria o pluralismo.

A grande variedade de pontos de vista nos obriga a pensar como é possível uma verdade... independente da opinião. No plano político, e no plano filosófico.

A segunda razão é a crescente sofisticação tecnológica. Porque torna o processamento de informações e divulgação cada vez mais rápido.

E porque as mídias tecnológicas podem ser, e são tantas vezes, poderosas ferramentas de distorção.

Num mundo em que tudo se torna passado tão rapidamente, é difícil distinguir o real do virtual.

E, nesta terça, homologada a delação de Ronnie Lessa, assassino de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Teremos a real dos mandantes do assassinato de Marielle e Anderson?

O que é a real? A versão heroica do comandante Freire Gomes, com amnésia, ou a do general Theóphilo, que enfia Gomes na cena da minuta golpista?

O Baptista Jr heroico ou o da ultradireita no Twitter?

Tira bom versus Tira mau, essa encenação de agora?

Verdades particulares. Conhecidas só pelos militares.

Verdades, mentiras, intrigas...

 

Faz lembrar alguém nascido há 114 anos.

O genial Noel Rosa.

Com Orestes Barbosa, autor de Positivismo, de 1933. Que cita Augusto Comte, filósofo francês formulador do positivismo.

 

Canção de Noel que começa assim:

A verdade, meu amor mora num poço

É Pilatos lá na Bíblia quem nos diz

Que também faleceu por ter pescoço

O autor da guilhotina de Paris

 

Canção essa que termina dizendo:

A intriga nasce num café pequeno

Que se toma para ver quem vai pagar

Para não sentir mais o teu veneno

Foi que eu já resolvi me envenenar


 

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