60 anos do golpe militar e Lula

No período de 1964 a 1985, o Brasil foi dominado por uma ditadura militar, instaurada por meio de um golpe que destituiu o presidente João Goulart do poder em 31 de março de 1964. Goulart enfrentava uma crescente falta de apoio tanto do Congresso quanto dos militares, em meio a uma economia instável e uma considerável insatisfação popular. Para os militares, a ameaça de um suposto governo comunista justificou a intervenção, com a promessa de restaurar a democracia e combater a corrupção.

Ao longo de 21 anos, o país foi governado por uma sucessão de cinco generais – Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo – impondo um regime autoritário marcado por violência, terror e desrespeito aos direitos humanos. O cotidiano dos cidadãos se viu mergulhado em abusos, agressões, torturas e um silenciamento político opressivo, com perseguição inclemente a sindicatos, artistas, povos indígenas e quilombolas, justificada em nome da Segurança Nacional.

O período mais sombrio da ditadura foi marcado pelos Atos Institucionais, especialmente o AI-5, que legalizou a violência e a tortura, conferindo amplos poderes ao presidente para suprimir o Congresso, cassar mandatos e direitos políticos, e reprimir opositores do regime. Os militares empreenderam uma intensa propaganda para validar tais medidas, enquanto concediam vantagens superficiais à classe média para silenciar a dissidência.

O chamado "milagre econômico" ocorreu durante o governo Médici (1969-1973), caracterizado pela construção de grandes obras públicas, como a Ponte Rio-Niterói, que, apesar de promoverem um aparente crescimento econômico, resultaram em enormes desvios de verbas públicas e um aumento significativo da dívida externa. A corrupção e o enriquecimento ilícito foram frequentes, com os gastos militares escapando à auditoria.

Os anos de regime militar deixaram um legado profundamente negativo para o Brasil, com retrocessos na saúde, educação, cultura e transporte público, além de uma acentuação da desigualdade social, institucionalização da tortura, censura à imprensa, e um descontrolado aumento da inflação e da dívida externa. A violação dos direitos humanos e a cultura autoritária implantada geraram um ambiente propício ao superfaturamento de obras, ao desvio de verbas públicas e ao crescimento urbano desordenado, fomentando a violência nas cidades.

Finalmente, o movimento das "Diretas Já", em 1984, expressou a crescente demanda por democracia, levando à reabertura política e ao surgimento de novos partidos. É relevante dizer que houve militares que se opuseram ao golpe, muitos dos quais enfrentaram graves consequências em suas carreiras.

Pois bem, está claro que o golpe militar de 1964 não se revelou como o salvador da pátria que alguns ingênuos e estrábicos apregoam. Quanto à decisão de Lula em optar pelo silêncio, é compreensível, pois há questões mais urgentes a serem tratadas. Por outro lado, é digno de reconhecimento que tanto os líderes militares ( da Aeronáutica e Exército) quanto o Supremo Tribunal Federal atuaram de maneira decisiva para impedir que o ex-presidente Jair Bolsonaro levasse adiante seus intentos golpistas.