Entre a Comida e o Vômito - Parte Seis

ENTRE A COMIDA E O VÔMITO

Parte Seis

O TRABALHO – nesse comparativo, existem os que trabalham e os que são preguiçosos comendo às custas da classe média, pois que os pobres, muitos deles já havia acostumado com as migalhas (estão começando a acordar). Por acaso alguém ainda não sabe como comem os “eminentes” do STF? – lagostas e pratos à base de camarões e bacalhau, acompanhados de champagnes, vinhos especiais e Whiskies 18 anos e por aí à fora. Para se ter uma ideia, por esses dias havia me dado uma vontade enorme de comer um macarrão com camarão. Fui ao supermercado, olhei, olhei, examinei o pacote congelado, vi o preço na etiqueta – “comprar, não comprar, comprei-o”, duzentas gramas ao preço de vinte reais e noventa centavos, quase apanhei quando cheguei em casa. “Você teve coragem de comprar isso?” Pensei, será pelo preço ou pela quantidade? Os dois! Caramba, nem depois de cinco anos sem comer camarão? Diria alguém: é assim meu compadre, nóis não come dessas coisas que os home lá de cima come! Brincadeira! Se não dá para chorar a gente passa a rir da desgraça, é assim mesmo com os palacianos. Vai ver a miséria na China – a maior economia do mundo, gente morrendo de fome todo dia, e se reclamar vai para o paredão. Se todo empresário tivesse consciência, jamais levaria a sua empresa para a china em busca de mão de obra barata. Aliás, mesmo nós consumidores, não deveríamos comprar produto algum que viesse da China. É o maior e mais injusto trabalho escravo, com a agravante de não poder reclamar, fazer greve – literalmente “comer o pão que o Diabo amassou com a bota” como se diz por aí.

O DIREITO – por mais de quarenta anos no exercício da advocacia, nunca vi um Cartório de qualquer Vara, tanto da Capital quanto do interior que não houvesse pilhas e mais pilhas de processos aguardando solução. São aos milhares de injustiças, tendo muitos dos que pleitearam seus direitos, morrendo todo dia de velhice e sem ter tido uma solução. Muito parecido com o que fazem na Câmara dos Deputados e no Senado – pouca coisa é produzida em favor do povo e em respeito ao direito. Quando reclamava com um Juiz de uma das Comarcas do meu Estado, dizia da minha indignação por faltar a decisão de uma Possessória que já durava vinte seis anos, ele me surpreendeu e disse: “eu tenho uma Possessória que já dura trinta anos”. Que mais dizer? Tudo bem que as possessórias são sempre mais complicadas, é preciso estudar cada situação, mas quem quer gastar tempo para lavrar uma sentença? A coisa funciona em detrimento das grandes bancas de advogados renomados, os pobres advogados mais humildes e independentes sofrem na sua peregrinação aos Cartórios e gabinetes dos Magistrados. Já pude ouvir numa ocasião de um Juiz muito “amigo” de todo mundo, brincar comigo e dizer: “é doutor, quando você entrou com o processo, você tinha cabelos brancos!”. Verdade! Há quase quarenta anos nesse caso, o processo ainda não foi decidido. Isso é justiça? E a partir desse quadro vem as conhecidas injustiças, quando o pobre não tem acesso e quando os negros padecem pela cor, atinge o sistema inteiro, enfraquece a polícia pelo desânimo de ter que prender o infrator e encontrá-lo no outro dia cometendo o mesmo delito. Por não funcionar a justiça, o Estado fecha os olhos e as barbáries continuam acontecendo. Governos entram e governos saem e nada acontece, a não ser que cada um político encerra a sua carreira de modo que se não consegue virar um banqueiro, pelo menos compram fazendas, se possível distantes de onde seus eleitores não podem ver, e logo são esquecidos. Nada disso é novidade, serve apenas como desabafo a bem da história.

A SAFADESA – é o que existe entre o político e a política, seria a junção do prostituto com a prostituta. Os conchavos não acontecem nos plenários, mas nos barcos milionários que navegam pelo grande Lago Paranoá, quando em Brasília. Há todo tipo de sorte, ninguém tem dúvida sobre o que acontece na Capital do País. Na chegada a Brasília conheci o Clube do Congresso, julgava que um dia fosse encontrar com algum político por aquelas bandas. Quem conhece o Clube sabe que é muito lindo e num lugar privilegiado, vezes por outra a gente faz um churrasquinho com os amigos que sendo sócio, tem o direito de levar alguns visitantes. Em um belo dia resolvi perguntar: a gente às vezes almoça no lindo e luxuoso restaurante, mas nunca encontra um político aqui. Por que razão isso acontece? A resposta foi a coisa mais surpreendente que podia ouvir: “eles não querem pagar suas mensalidades, e que sustenta o Clube são os sócios – meio encontrado para manter a estrutura do Clube. Por outro lado, aqui não funciona, por estar muito vulnerável, perto do povo, os negócios, por mutas vezes são resolvidos fora do Brasil”. Porém, as orgias acontecem às vezes pelo lago à fora ou em lugares mais discretos. Depois tem aqueles que sustentam os Centros Espíritas, que bebem sangue de bode e tudo mais que a feitiçaria é capaz de fazer – isso é um pouco do que se ouve pelos cantos da capital. É certo que, somente um milagre, o que resta mesmo é a esperança, pois que é a última que morre. Se a exceção é regra do processo, nem se sabe se esta regra ainda existe, pode ser que alguém escape, porém, o mais provável é que ninguém mais confia nos poderes Legislativos e Judiciário – totalmente desmoralizados. Entre a comida e o vômito, fica o nojo.