Como Bolsonaro se tornou um estímulo aversivo?

Após a vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018, muita coisa vem acontecendo e, segundo o levantamento apontado por algumas pesquisas recentes, fica evidente que o apoio ao presidente caiu drasticamente. Em suas redes sociais, encontramos diversos comentários de seguidores decepcionados com o presidente, principalmente após a demissão de Sergio Moro. No presente artigo, utilizando conceitos do Behaviorismo, vou demonstrar como o Bolsonaro se tornou um estímulo aversivo, e se isso pode implicar na vitória de uma filosofia oposta nas próximas eleições.

O que é o Behaviorismo?

Essa é a primeira vez que apresento um artigo relacionado à psicologia, mas acho necessário uma análise pela ótica behaviorista, pois trata-se de algo extremamente objetivo se comparado aos demais ramos da psicologia. Tratarei, neste artigo, do Behaviorismo radical de Skinner.

Skinner acreditava que, por mais complexo que seja o ser humano, é possível estudá-lo de forma científica. Diferente de outras abordagens da psicologia, em minha opinião, Skinner é o que melhor consegue conciliar questões subjetivas e comportamentais, analisando-as de forma mais objetiva. Após anos de estudo e pesquisas, Skinner desenvolveu a tão conhecida análise do comportamento. Trata-se de uma abordagem psicológica que busca compreender o ser humano a partir de sua interação com seu ambiente (condicionamento pavloviano, contingências de reforço e punição, esquemas de reforçamento, o papel do contexto, entre outros. O termo ambiente é muito mais abrange do que no senso comum. Podemos nos referir ao mundo físico, ao mundo social, à nossa história de vida e à nossa interação com nós mesmos.

Estímulo Aversivo

Em análise do comportamento, estímulo é uma parte ou mudança em uma parte do ambiente. Um estímulo aversivo representa algo indesejado aos organismos e, para não sofrer às consequências produzidas por esse estímulo, um organismo tende a fugir ou se esquivar desse estímulo. Um estudante pode ir à escola com o intuito de não ser penalizado com uma falta. A falta, nesse caso, representa um estímulo aversivo. Alguém pode deixar de ir à festa para não lidar com alguém indesejado (estímulo aversivo). Podemos notar que o estímulo influência de modo direto o comportamento de alguns indivíduos.

Bolsonaro: o estímulo

Devemos nos lembrar que o Bolsonaro foi eleito por representar algo extremamente oposto ao que estávamos acostumados (Candidatos com viés progressista). Além do fracasso das gestões anteriores, ele também personificava uma espécie de figura ilibada, já que diversos políticos haviam sido condenados pela operação lava jato por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, improbidade administrativa, entre outros. Tudo isso que estou elencando denota o estímulo aversivo à época. Apesar disso, o país teve uma eleição um tanto acirrada, chegando inclusive ao segundo turno. Mas, no fim das contas, representar o estímulo oposto funcionou para Bolsonaro: ele venceu. O presidente da república, Jair Bolsonaro, foi eleito com 57,7 milhões de votos. O seu adversário, Fernando Haddad - que presentava o (PT) e todas as nódoas que o partido obtinha -obteve 47 milhões de votos. Nessa eleição, 115,8 milhões de brasileiros foram às urnas. Nesse título, vamos considerar como objeto de análise esse Bolsonaro: o candidato que executou discursos populistas, que prometeu medidas rígidas no combate à corrupção, que prometeu nomear um quadro de ministros técnicos, lutar pela flexibilização com relação ao armamento civil, acabar com a velha política, além de pautas conservadoras e outros exemplos. Até então, olhando para sua chegada à presidência, podemos considerar que o Bolsonaro foi uma reação ou resposta ao estímulo aversivo (partidos,candidatos progressistas e outros).

Bolsonaro: Contradições ao que representava como estímulo

No primeiro ano de mandato do presidente, tivemos alguns acontecimentos que podem ser utilizados como explicação para uma contradição entre estímulos. Os casos que colocarei aqui, são os mais repercutidos pela mídia, fugindo o máximo possível de algo subjetivo (postura, declaração dadas, questões de cunho pessoal, religioso, entre outros).

Caso Bebiano: trata-se da descoberta de candidaturas laranjas na ex-legenda do presidente (PSL). O episódio ficou conhecido como laranjal do PSL.

Caso Queiroz: Trata-se de suspeitas de rachadinhas no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, e seu ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz.

Queimadas na amazônia: O governo sofreu críticas pela demora no combate às queimadas, além de se envolver em polêmicas com o presidente da França.

Perda de aliados: Muitos parlamentares e apoiadores do presidente, após algumas desavenças dentro do partido (PSL), abandonaram à legenda e passaram a fazer oposição ao presidente, o que dividiu boa parte da direita.

Conflito com os poderes: Em suas redes sociais, o presidente acabou publicando um vídeo que ofendia diretamente os membros dos poderes e outras figuras públicas.

Filho embaixador: A possível indicação de Eduardo Bolsonaro para embaixada gerou polêmica, sendo considerado por muitos como ato de nepotismo.

CPI das fakes news: Investigações apontavam suspeitas no gabinete de Eduardo Bolsonaro.

Nomeação para PGR: O nome de Aras para PGR incomodou muitos eleitores, pois o mesmo Aras tinha envolvimento com o PT (estímulo aversivo)

Negociação com centrão: Como noticiado em diversos meios de comunicação, Bolsonaro estaria negociando algumas pastas com o centrão para ganhar apoio no congresso.

Ministros: A demissão do ministro Mandetta, contrariando a opinião pública; a retirada do coaf do ministério de moro para o Ministério da Economia; Juiz de garantias; sobre o qual o Moro já tinha se manifestado contra, o pacote anticrime, que não foi aprovado integralmente e a reforma da previdência, que também não foi aprovada integralmente como desejava Paulo Guedes.

Minha Análise: Bolsonaro, o estímulo aversivo

Podemos dizer que os acontecimentos elencados no título anterior, nos dão uma boa margem para observar os fatores que podem ter influenciado nessa conversão de Bolsonaro para estímulo aversivo. Apesar de desconsiderar questões subjetivas, devemos nos lembrar que parte disso é subjetivo, quando analisamos os fatores em cada indivíduo. De certo modo, quando falamos em voto, nós manifestamos nossa opinião com base em uma crença subjetiva: valores, posição política, pautas econômicas, entre outras. Analisar esse comportamento nas massas é extremamente difícil, mas podemos considerar, com base em grandes acontecimentos que colocam o próprio presidente em contradição ao que foi em campanha, que sua imagem foi se desgastando com o tempo, tornando-se, ao menos para maioria, um estímulo aversivo. Mas essa inferência não parte somente disso, pois podemos nos apoiar nas pesquisas. Segundo o instituto paraná pesquisas, 65,7% dos entrevistados acham que o ministro Mandetta estava conduzindo de forma adequada o ministério. Em termos de confiança, segundo a pesquisa, o ministro possui 57,6% contra 37,5% do presidente. Em recente pesquisa publicada pelo ideia Big Data, 65% das pessoas acreditam na acusação feita por Moro de que houve interferência política do presidente no ministério da justiça. O XP/Ipespe também publicou uma pesquisa revelando que 67% dos brasileiros esperam que a saída de Moro tenha impacto negativo para o país. Porém, o resultado favorável ao Moro não é recente. O grupo FSB comunicação publicou, em outubro do ano passado, uma pesquisa de popularidade que envolvia o nome de Sergio Moro, Bolsonaro e Lula. Em ambos os cenários, Moro liderou a pesquisa. Resultados: Moro com 50% de aprovação contra 37% de Lula, Moro com 38% de aprovação contra 34% de Bolsonaro. Temos dois fenômenos relacionados: a figura do presidente sendo prejudicada cada vez mais pelas polêmicas envolvendo o seu governo, e a popularidade de seus ministros, especialmente no que refere ao Moro, crescendo cada vez mais. Podemos identificar, com base nessas informações, que o presidente se afastou cada vez mais de sua postura inicial e das promessas no período de eleição, mas, em contra partida, nomes próximos ao presidente começaram a incorporar essa figura. Nós temos, nesse caso, quase que um deslocamento - tomando emprestado um termo da psicanálise.

O Bolsonaro passa a se tornar um estímulo aversivo, mas não somente por questões subjetivas (declarações, discursos e coisas do tipo) dadas na televisão, entrevista, entre outros. Ele se transforma em estímulo aversivo pela proximidade com o que o seus eleitores consideravam abominável: o que representou e fez o PT. Nesse sentido, podemos identificar que essa associação não se faz por acaso, nada mais poderia modificar o presidente e transformá-lo em estímulo aversivo do que ele mesmo e suas próprias atitudes. O que ocorreu no caso do laranjal, o caso Queiroz - apesar de estar mais ligado ao filho dele - nas investigações em curso da CPI das fake news, na nomeação para PGR e, no caso mais recente de todos, a acusação de Moro em dizer que o presidente queria interferir na PF, tendo levado à imprensa alguns prints de conversas que, de fato, reforçam essa posição, levaram o presidente na posição em que está: um estímulo aversivo que, segundo os estudos do behaviorismo, deverá ser evitado futuramente.

O Brasil corre o risco de ser governado por uma ideologia oposta?

"Quase todos os seres vivos agem buscando livrar-se de contatos prejudiciais... Provavelmente, esse tipo de comportamento desenvolve-se devido ao seu valor de sobrevivência" (Skinner).

Com base nos levantamentos apontados e considerando o que Skinner nos diz em seus estudos, podemos concluir que é certo que indivíduos que já tomaram o presidente por estímulo aversivo, farão o possível para se livrar dele, seja por meio de uma esquiva ou por meio de uma fuga. Trazendo para o aspecto político, essa análise pode não ser tão precisa assim quando falamos em uma ideologia oposta, pois é válido ressaltar que os acontecimento e escândalos de corrupção são recentes; o que pode dificultar qualquer partido ou candidato que represente os ideais próximos dos partidos envolvidos nesses escândalos. Eu diria, analisando tudo o que apresentei, que é provável que o brasileiro busque uma figura oposta ao Bolsonaro, mas também distante dos preceitos progressistas, o que nos levaria aos políticos mais moderados com relação às declarações e mais próximo dos ideais de direita (devido aos impactos recentes causados pelo progressismo).

Análise Política

Analisando politicamente o caso, sobre a possibilidade de sermos governados por uma ideologia oposta, eu diria que há chances maiores.

"O que as pessoas procuram é um homem que goze de sólido apoio, de modo a inspirar confiança quanto à sua capacidade de realizar o que pretende". F.A. Hayek

Hayek analisou muito bem o comportamentos das massas nesse exemplo e, melhor ainda, eu diria que foi muito preciso com relação às eleições, que denotam exatamente essa busca incessante, sobretudo no Brasil, por alguém que realmente altere ou melhore o cenário político deixado por alguém. O mesmo Hayek ainda diz:

"Existe entre os homens modernos uma tendência crescente a se imaginarem éticos porque delegaram seus vícios a grupos cada vez maiores".

Esse fenômeno pode ser visto na Alemanha e, mesmo aqui no Brasil, ele pode nos assombrar. Quando pensamos em poder, por exemplo, pensamos na possibilidade dos indivíduos em delegar esse poder a outros grupos ou, em última análise, àquele que se diz o salvador. Isso é problemático (pensar na busca por um líder ou ídolo). Alguém que colocará fim aos nossos medos às injustiças, às desigualdades. É precisamente o desespero que nos faz tomar medidas inesperadas e, de fato, um político sabe explorar esse tipo de sentimento perfeitamente. A partilha desses sentimentos, quando associado às necessidades de um grupo - que agora acaba por se tornar um denominador comum - unificará as massas:

"Na primeira instância, é provavelmente verdade que, de modo geral, quanto mais se eleva o grau de instrução e inteligência dos indivíduos, mais suas opiniões e seus gostos são diferenciados e menor é a probabilidade de que concordem em relação a uma hierarquia particular de valores. Um corolário disso é que, se quisermos encontrar um alto grau de uniformidade e semelhança de opiniões, teremos que descer para as regiões dos padrões morais e intelectuais mais baixos, onde prevalecem os instintos e gostos mais primitivos e 'comuns'."

Ainda em Hayek encontramos uma outra explicação que pode ser aplicada em nosso país, quando se trata da necessidade dos indivíduos em pertencerem aos sistemas de valores definidos, sendo retroalimentados por aquilo que eles desejam ouvir:

"Aqui entra o segundo princípio negativo da seleção: ele conseguirá angariar o apoio de todos os dóceis e crédulos, que não têm convicções próprias fortes, mas estão dispostos a aceitar um sistema de valores já pronto, desde que seus ouvidos sejam bombardeados com ele com volume e frequência suficientes. Portanto, apenas aqueles cujas ideias vagas e imperfeitamente formadas são facilmente influenciadas e cujas paixões e emoções são prontamente instigadas vão engrossar as fileiras do partido totalitário."

Hayek prossegue dizendo:

"Parece ser quase uma lei da natureza humana que é mais fácil as pessoas coincidirem sobre um programa negativo - de ódio a um inimigo ou inveja dos que estão em situação melhor - que sobre qualquer tarefa positiva. O contraste entre 'nós' e 'eles', a luta comum contra os que estão fora do grupo, parece constituir um ingrediente essencial de qualquer credo que una um grupo solidamente em torno de uma ação comum. Logo, isso sempre é usado por aqueles que buscam não apenas o apoio a uma política pública, mas a lealdade sem reservas das grandes massas."

É impossível fugir da análise o fenômeno "nós contra eles", especialmente em nosso país, sobre o qual estou certo de que não desapareceu. Os grupos foram separados em polos opostos. Necessariamente, parece existir uma guerra sem precedentes com relação aos costumes, às raças, às cores e toda sorte de características existentes possíveis. O próprio Lula usou copiosamente essa narrativa para ser acolhido por diversas pessoas, mas não precisamos ir tão longe para verificar isso, pois o próprio Bolsonaro parece ter criado uma verdadeira seita. O mais preocupante nessa observação levantada por Hayek, é a "lealdade sem reservas". Parece que a condição para eleger um salvador é coloca-lo acima do bem e do mal, distante de qualquer crítica. Inevitavelmente, se ocorrer qualquer crítica de alguma natureza, você cometeu um crime contra seu soberano.

Norberto Bobbio já discorre sobre a dicotomia direita vs esquerda:

"Os dois termos de uma díade governam-se um ao outro: onde não há direita não há mais esquerda, e vice-versa. Dito de outro modo, existe uma direita na medida que existe uma esquerda"

Ao observar esse fenômeno - díade, como ele costumava chamar - ele observa como a direita e a esquerda estão ligadas, mesmo se tratando de polos opostos. Ele ainda reafirma esse ponto:

"Em um universo no qual as duas partes contrapostas são interdependentes, no sentido de que uma existe se também existe a outra, o único modo de desvalorizar o adversário é o de desvalorizar a si mesmo"

No afã de fugir de ambos os perfis, é possível que os eleitores também busquem uma figura de centro que, nesse caso, além de não firmar compromisso com ambos os lados, pode representar algo mais moderado, como discorre Bobbio

"Uma política de terceira via é uma política de centro, mas idealmente ela se apresenta não como uma forma de compromisso entre dois extremos, mas como uma superação simultânea de um e de outro"

De certo modo, quando falamos no cenário político, tudo é possível, mesmo se tratando de possibilidades remotas, certos acontecimentos não podem ser ignorados e, além disso, o conhecimento com relação aos fenômenos destacados pode contribuir para algo extremamente necessário em nosso país: não repetir o passado.

Conclusão

Neste artigo eu procurei elencar alguns dos possíveis motivos que levaram o presidente da república, Jair Bolsonaro, à decadência de sua popularidade e a sistemática desaprovação, abarcando acontecimentos desde o inicio de seu mandato. O behaviorismo serviu para um panorama mais científico dessa análise, mas o aparato político também se fez necessário visando possíveis mudanças que podem ocorrer nos dias e anos futuros, levando os eleitores brasileiros aos comportamentos de fuga e esquiva, fazendo com que optem por um candidato oposto - em termos de ideologia ou não - ao que representa o Presidente.

Referências: Princípios básicos de análise do comportamento

Esquerda e Direita, de Norberto Bobbio

O caminho da servidão Hayek

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