O ESTADO-AGIOTA E A REVOLTA DOS DESPREPARADOS

Têm aparecido com frequência convocações, às vezes sérias, outras cômicas, de convocação de Frentes, Ampla ou Democrática, Terceira Via.

É prudente que uma Frente Democrática (ou Ampla) esteja integrada por lideranças de respeito em todos os setores possíveis de dotação da unidade. Porém, convidar figuras desgastadas e antipáticas à parcela da população, que à falta de uma liderança que dê voz aos anseios de retidão pública, se cala, porque os dois lados majoritários da contenda, utilizam um contra o outro, basicamente os mesmos argumentos.

De um lado, qualquer discordância em relação ao despreparado presidente, é respondida com a evocação de comunista. Do outro, a mera contrapontuação argumentativa em relação ao também despreparado ex-presidente (como dizia Leonel Brizola), provoca de seus componentes a acusação de pertencer à direita. Como se abraçar o marxismo-leninismo ou o conservadorismo liberal fossem delitos.

O que temos hoje, e assistimos, é fruto do despreparo de partidos sem estrutura e significado, frente ao povo menos comunitário e participativo da América Latina. Porque este é um dado importante : o povo brasileiro sempre foi pouco solidário, e quando incorporou alguma ideia política, foi pessimamente participativo: assim ocorreu em '64, nas chamadas Grandes Greves, nas Diretas (vaiavam uns ao líder de outros ), até a culminância das manifestações recentes, ocorrendo até a caricata tentativa de partidos nanicos se apresentarem como fruto da "voz das ruas", quando na verdade, as manifestações despolitizadas, manipuladas pelos grupos neodireitistas de cunho nacionalista, nunca foram ou entenderam o grito das ruas. Prova disso são as imensas filas de ônibus e trens, horrivelmente destinados aos trabalhadores de baixa renda, metrôs incapazes de absorverem a demanda cada vez mais gigantesca de usuários sem perspectivas de melhora de vida, e calçadas lotadas de moradores de rua (em São Paulo-Capital há cerca de quarenta e cinco mil), na maioria trabalhadores cuja baixíssima remuneração torna inadequado qualquer planejamento mensal de contas de consumo e moradia, ou seja, o Estado é incapaz de absorver e resolver os reais problemas da massa de trabalhadores, abandonando-as por não conseguir suportar o impacto do piso inferior da contribuição tributária, e este mesmo Estado-agiota se apresenta à deriva, desgovernado por repetidos grupos políticos que não conseguem traduzir em governança, projetos ambiciosamente literários de desenvolvimento nacional.

Dentro deste panorama, Bolsonaro é a ponta do iceberg de repetidos governos compostos e liderados por despreparados. Ele é apenas o pior, o mais emblemático e caricato dos recentes governantes incompetentes, que personaliza na esfera federal o fenômeno interiorano de domínio da máquina pública pela família do mandatário.