Desvios do Capitalismo Tupiniquim

Em geral, votos de Bom Ano Novo são meramente formais. Porém, é preciso que se aproveite a mudança, para avançar em relação a tabus e péssima vontade de entender o próximo, que quase sempre a esquerda demonstra em relação aos que lhe acompanham no arcabouço de forças sociais, razão pela qual é tão dividida. Então, vamos lá. Perdemos a eleição acreditando que fizemos tudo certo, que sofremos um golpe institucional orquestrado pelas elites nacionais, insatisfeitas com a diminuição de seu rico lucrinho, taxado para suportar projetos de ascensão social de camadas que nunca receberam acesso a bens de consumo e melhor qualidade de vida, e que o fundamento do golpe foi impossibilitar o candidato mais forte da esquerda de disputar a eleição contra o líder das forças conservadoras, que se lançou dando rosto a tudo o que de recalque e preconceito existe profundamente enraizado na alma de nossa classe-média, a mais bem acabada instituição moldada pela burguesia brasileira. Mas é só parte da realidade. Perdemos porque achamos que fizemos tudo certo, quando lacramos os olhos ao fato de que muitos de nós sucumbiram no estreito abraço com a promiscuidade entre iniciativa privada e Estado, e estes, gostaram demais das vantagens que os desvios do capitalismo tupiniquim proporcionam nas relações com governos a ele associados no avanço sobre recursos, que públicos, estavam suficientemente fiscalizados para admitirem inocência nos projetos pessoais e partidários de enriquecimento em causa inconfessável de decadência moral na manipulação coletiva. Sacrificou-se uma liderança histórica, com histórias pessimamente contadas, por conta de um arco de alianças que degolou aliados tradicionais, em proveito de novas parcerias com as forças mais repugnantes da direita nacional. Caímos, porque nos lançamos em um projeto de Brasil que não se renovou, ao contrário, estreitou, na ânsia de redefinir alianças com aliados do passado, teimosos em não entender que hoje, a liderança estava com outros, dentre nós, não mais conosco, e que a tentativa de desmontá-la (leia-se Ciro), deu no que deu. Se atravessarmos o deserto, respeitando parceiros e companheiros de viagem, voltaremos ao Poder. Do contrário, feliz ano velho.