Uma sereníssima República

Cientes de que existe sim: boa saúde, educação e segurança no país, mas apenas para quem pode pagar, isolamos e tomamos essa última para melhor compreender este momento. Desde o colonialismo, até hoje, quem pode arcar com sua própria segurança, contrata alguns capangas,arma-os, e assim alcança a tão sonhada paz. Desse modo, evidenciamos que quem pode pagar por sua proteção não pega em armas, e consequentemente não a usará para sua elementar função que é matar.

No Brasil, diante de um cenário de tamanha violência em que dentre os que legislam para que ela acabe, existem aqueles que se beneficiam com sua existência e, que por sua vez, também não precisam pôr as mãos em armas, cabendo assim aos que não estão seguros, pois não podem pagar por ela, entrar na linha de frente desse embate para guerrear contra gente que também nunca pôde pagar pela segurança, saúde e educação.

Dessarte, quando um estado que nunca se preocupou com a segurança das classes baixas, decide autorizar que o cidadão se arme para “proteger-se”, significa dizer que a toalha foi jogada pelo poder público, e que de agora em diante instalar-se-á um velho oeste no país. Por outro lado, há também a burocracia desmedida que aqui no Brasil protela a vida da classe proletária que permanecerá dificultando a vida de quem não é burguês, impedindo-o de cumprir os requisitos para estar apto a qualquer aquisição, inclusive a de possuir uma arma de fogo.

Por conseguinte, continuaremos na mesma trivialidade imposta, paz imutável nos paraísos artificiais destinados a quem pode pagar, enquanto gente de bem periférica que segue um cristo objetor de consciência em tempos hostis, continuará matando outros periféricos. Por fim, brindemos a segurança alcançada por essa sociedade cuja maioria é incapaz de interpretar um texto de cinco linhas, mas que agora está preparada para discernir o momento de empunhar, o momento de executar um disparo de advertência e o momento de efetuar o disparo não letal ou letal. Brindemos a concórdia de uma população que comete atrocidades no trânsito, nos estádios, no carnaval, contra homossexuais, em tempos de eleição, contra religiões afros, mas que agora, por ter uma arma, evoluirá de tal forma que alcançará o apogeu de uma civilização.

John Canere
Enviado por John Canere em 12/09/2018
Reeditado em 02/12/2018
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