Não culpem os militares: uma democracia em implosão

Este artigo trata de como a atual democracia brasileira, baseada na corrupção, não pode ter a corrupção extirpada sem com ela destruir os partidos políticos que fundamentam esta democracia. Sem estes partidos, a governabilidade seria tão inviável que a desordem econômica gerada tornaria questão de vida ou morte uma intervenção militar.

Este artigo defende que esta substituição dos partidos ou políticos corruptos teria que ser gradual e mediada por reformas nos sistema eleitoral e democratização interna dos partidos.

Não é de hoje, dataria do final do governo Lula, os pedidos por intervenção militar como forma de resolução dos problemas que a democracia não conseguiu resolver, tais como a corrupção.

Primeiro a própria população, digo parte considerável dela, clamando pelo "socorro" dos militares. E agora militares de alta patente se sentido a vontade pra tocar neste assunto - intimando a justiça a agir para que eles não precisem agir. Nada é por acaso.

> Uma democracia em implosão

Não bastava garantir na letra da lei o acesso a todos os cidadãos maiores de idade, que votam e podem ser votados, a participação na política. A questão é que eleição se faz com campanhas e estas custam dinheiro, muito dinheiro.

O partido que tivesse o melhor esquema de arrecadação conseguiria ocupar um maior número de cargos e com certeza naqueles mais importantes. O partido que tivesse os melhores esquemas, lobbies, formas financiamentos seriam sempre os vencedores e dominariam a política.

Os partidos vencedores, que se alternam no poder nos Estados e grandes cidades são aqueles que melhor fundamentaram seus esquemas de financiamento, por regra, negociando com o setor privado e concedendo a este uma série de benefícios.

O problema fundamental, cuja a gravidade os operadores da Lava Jato fingem não perceber, é que a corrupção se tornou a base fundamental pela qual a nova democracia brasileira se constituiu e opera.

São as campanhas, os militantes por conta da mesma, propagandas, marqueteiros milionários, adesivos, apoios de líderes sindicais, comunitários e locais, tudo isto custa caro, porém é assim que se chega ao poder aqui.

O Partido dos Trabalhadores enquanto se financiava vendendo broches e camisas pouca expressividade tinha, a não ser a que obtinha por sua radicalidade e discursos inflamados. Sem o esquema e apoio do setor privado não chegariam a presidência.

Qual foi a ilusão da Lava Jato? Eles pensaram que o grande esquema que descobriram no governo do PT era algo localizado, uma prática exclusiva deste partido e alguns apoiadores. Quando começaram a desatar mais nós, perceberam que boa parte dos partidos, pelos menos os principais do país se financiam através de esquemas ilegais.

Em outras palavras, não haveria um partido organizado o suficiente para ocupar o lugar caso um deles recebesse a punição devida da justiça. Por regra, se levar ao impeachment, prender e afastar todos os envolvidos em corrupção não sobraria quem pudesse nos governar, a não ser...

Aí está nosso problema. A justiça sendo feita a rigor, independente de partido ou de quem esteja no poder, deixaria um vazio tremendo em nossa democracia. Vazio que seria ocupado por militares.

> A intervenção militar

Se a justiça agir de forma a aplicar a lei de forma imparcial, nossa classe política estará tão comprometida penalmente que não terá legitimidade pra governar.

Não haverá tempo para que se forme novos grupos políticos e nem estrutura para que se elejam sem os velhos esquemas já conhecidos.

Teremos que escolher o vazio político deixado pela cassação deste mandatos ou sua inviabilização - o que levará a intervenção militar. Ou teremos que aguentar sermos governados por políticos completamente desmoralizados pela justiça e que desmoralizam a justiça enquanto estiverem livres e impunes.

Nosso povo não vai gerar caos por isto, senão já teria gerado. Com a democracia a se implodir, o que ainda mantém o sistema funcionando é manutenção da ordem econômica cuja as expectativas para os diversos setores tem se estabilizado.

Manter esta ordem econômica é vital pra este governo, pois o que no Brasil geral desordem social não é o aspecto moral mas econômico. Enquanto as diversas classes sociais não tiverem seus horizontes de riscos e investimentos de recursos e trabalho ameaçados tudo continuará muito bem em termos de ordem social.

Se os militares intervirem sem que esta ordem social seja rompida, eles terão o ônus de conduzirem sozinhos uma política econômica rígida e sem apoio dos atores políticos tradicionais. Correrão o risco de assumirem os riscos de uma desordem social motivada por mudanças econômicas no cenário internacional e terem a população se voltando contra eles.

Se a classe política tradicional for ferida de morte é possível que não haja força política para manter a ordem social através da ordem econômica. Aí eles terão que fazer o serviço que outros poderiam fazer.

> Pacto Nacional

O preço a pagar para salvar a democracia passará por duas medidas. A primeira é que a classe política atual seja substituída gradualmente a partir do financiamento público e exclusivo de campanha e do voto.

A segunda é que os partidos tenha estruturas mais democráticas que permitam a maioria a escolha de seus dirigentes e da política conduzida pelos partidos.

Se a Justiça permitir que isto aconteça talvez não haverá a intervenção militar. Agora se a justiça resolver quebrar estas classes políticas tradicionais, não fará isto sem comprometer a forma como nossa democracia se estabeleceu e entregará sem perceber o país aos militares.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 07/10/2017
Código do texto: T6135258
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