DEMOCRACIA POR UM FIO?

Quem leu a entrevista de Joaquim Barbosa (personagem insuspeito de ser um petralha) à Folha irá lembrar-se do que ele disse a certa altura: o impeachment de Dilma Rousseff foi tramado ainda em 2015 por algumas lideranças políticas com o objetivo de salvá-las das investigações de seus crimes. Em bom português, digo: GOLPE. Consumado o mesmo, assumiu Michel Temer, figura de segunda linha, mas que, ao menos até o momento, vai sendo preservado – sabe-se lá até quando – desde que cumpra sua parte no acordo, isto é, que busque aprovar reformas estruturais e estanque a Lava Jato.

Ele tenta, a toque de caixa, a aprovação da PEC 241/55 e a draconiana reforma da Previdência, além é claro de não cogitar aumento de impostos. De longe, mas não tanto, seu parceiro parlamentar no golpe, o PSDB, acompanha cada movimento. Há quem cogite a queda de Temer em 2017 e uma eleição indireta que levaria FHC, via Congresso Nacional, de volta ao Planalto com o objetivo de preparar a travessia para um possível governo tucano em 2018. A ver!

Fato é que Temer e sua base parlamentar estão criando um abismo em relação ao restante da sociedade que rapidamente vai deteriorando as instituições que supostamente são pilares de uma democracia burguesa. Em nome de um pacto conservador, a coisa está se transformando num vale tudo. O caso Renan Calheiros X STF foi só o ingrediente mais recente nesse caldeirão de bruxarias. À luz do dia assistimos ao presidente do Senado, réu em vários processos, ignorar solenemente a liminar de um ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, peitar o órgão máximo do judiciário brasileiro e ainda ser socorrido pelo governo numa articulação, cujo resultado todos vimos qual foi (e nem precisa ser jurista para rir daquilo): permanecer na presidência do Senado, mas sair da linha de sucessão presidencial. A pena para o réu Renan Calheiros é presidir o Congresso Brasileiro!

No campo econômico, o abismo não é menos assustador! A tão decantada e falsa recuperação não veio e parece que não virá. Estamos numa profunda recessão e já há quem pregue um 2017 sob estagnação. Meirelles já é criticado por se preocupar apenas em aprovar reformas estruturais e abrir mão das conjunturais. O desemprego já bate na casa dos 12% e não há sinais de retomada com medidas recessivas como esta PEC do Teto. O Banco Central “acordou” repentinamente e desandou a derrubar a taxa Selic (quem pleiteará crédito num momento desses? As empresas estão endividadas e com estoques e em processo de desalavancagem e não o contrário). O tucanato lançou na imprensa novamente o nome de Armínio Fraga – que teria sido ministro da Fazenda caso Aécio tivesse vencido em 2014. E poderá surgir com FHC.

O que esperar? Cadê os setores da classe média despolitizada que apoiaram este desatino? Alguns voltaram às ruas no domingo, 04/12, para pedir a cabeça de Renan, e receberam como resposta o resultado de ontem (ao invés do pato da Fiesp ganharam uma banana de Temer/Renan)! Os setores organizados (refiro-me a nós, trabalhadores) irão às ruas em protestos e greves, pois quando a queda de renda acentuar-se mais, a crise será sentida com rigor; bem como a aprovação da PEC da Previdência, assunto que nos fala mais diretamente. Outras maldades ainda virão: política de achatamento do salário mínimo, redução dos beneficiados do Bolsa Família e congelamento do seu valor, piora no atendimento do SUS, falta de investimento na educação e por aí vai…

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 08/12/2016
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