O PT visto pelo próprio PT

O ano de 2014 literalmente vai ficar na história como o ano que se estabeleceu o processo eleitoral mais acirrado da recente história democrática do nosso país, uma eleição que ficou marcada inicialmente por uma tragédia (morte de Eduardo Campos) que literalmente mudou o curso do processo, fato, que culminou com a entrada de Marina Silva que a partir daí ascendeu e quase chegou ao topo, mas, na hora da partida final, o “esquema tático” não funcionou e a candidata “socialista” viu a sua candidatura escorregar em suas próprias mãos. Consolidou-se assim, um segundo turno dentro da hegemonia que se estabeleceu no Brasil, costumo denominar de o falso “bipartidarismo” brasileiro, a disputa entre o PSDB x PT, foi dura no segundo turno, e no último domingo de outubro o Brasil foi às urnas e reelegeu a presidenta Dilma Rousseff, com uma margem de vitória muito aquém do que se esperava no inicio do processo eleitoral, uma vantagem de pouco mais de 3 milhões de votos, foi uma vitória apertada e que foi conquistada graças à participação ativa de uma militância que se reconstruiu ao longo desse processo eleitoral e mostrou que a esquerda em nosso país poderia ainda se fortalecer e realmente consolidar-se dentro de uma ideia de governo popular.

Passada a eleição, e apaziguado os ânimos da sociedade o Brasil se viu novamente impregnado em outro escândalo de corrupção, que já havia sido utilizado pelo candidato tucano e pela mídia como instrumento eleitoreiro, mas que somente com a consolidação da vitória da presidenta Dilma, este se tornou ainda mais midiático e se colocou como grande empecilho para o próximo governo da presidenta. A “Operação Laja-Jato” ainda continua a todo vapor, e não sabemos até onde vai chegar o que se sabe neste momento que nenhum partido dos ditos grandes escapam das investigações, inclusive o PSDB, que tanto utilizou do mesmo como arma de campanha.

Mas, o grande problema em questão nem é a conjuntura que a corrupção no Brasil esta tomando, pensando no ano de 2015, e como que este se consolidará dentro do processo político, ou melhor, de poder, percebe-se que o PT nas mãos da Presidenta Dilma veem tomando algumas medidas que esta desagradando o próprio PT, principalmente no que diz respeito à formação de um novo ministério, e na construção do aparato político para o novo governo, ou seja, a composição de alianças partidárias para concretização do que chama-se de princípio da governabilidade.

Quando todos esperavam uma aproximação maior do PT com os movimentos sociais e com os partidos de esquerda, este de alguma forma esta buscando uma “endireitação” que vem criando questionamentos não apenas na opinião pública, mas dentro do próprio partido. E esta ideia se consolidava graças à eleição, pois ao longo da campanha eleitoral, principalmente no segundo turno, o que se viu foi uma postura que até de certa forma veio relembrar o PT do início dos anos 90, um PT que mobilizava as pessoas para ir para as ruas para lutarem pelos seus ideais, e principalmente, carregando consigo a bandeira da esquerda. Só que, esta ideia ficou apenas na utopia daqueles que sonhavam com o retorno do PT mais à esquerda.

O que vem gerando uma contradição neste momento dentro do PT é como que a Presidenta e seus interlocutores estão criando o novo governo, o que se percebe neste momento é que se tem uma posição conservadora na construção do novo ministério, buscando atender as demandas de todos os partidos que fazem parte da base aliada, mas que usa o poder de barganha para obter privilégios. Isto é um dos grandes problemas do nosso sistema político, ficar preso a princípios de diversos partidos para se obter uma governabilidade, isto gera de alguma forma atritos políticos, e no PT estes atritos começam aparecer, pois há uma ala dentro do partido que pregava a aproximação dos partidos com as suas diretrizes de formação, ou seja, a busca pela aproximação com os movimentos sociais, algo que neste momento não parece ser máquina de estratégia do próximo governo.

Esta insatisfação coloca em xeque até mesmo o papel que poderá ser desempenhado pelo ex-presidente Lula, que nos últimos dias veem se mostrando um “pouco” chateado com nomes que estão sendo colocado no novo ministério, o que se esperava literalmente era a fortalecimento de um bloco de esquerda para construir um novo país, isto, não esta sendo feito, e não será feito pelo fato de haver uma pequena representatividade parlamentar em jogo, como já coloquei a tal da governabilidade se constrói dentro do Congresso Nacional, e ter aliados com grandes bancadas é fundamental para colocar esta em prática, daí, a grande questão, como então construir um bloco de esquerda no governo? Simples, através dos movimentos sociais. Mas, para isto é necessário uma boa vontade do próprio governo de ouvir as demandas que estes movimentos trás consigo, e neste ponto que se cria um novo questionamento, até que ponto o PT que está no governo estaria disposto a ouvir os movimentos sociais? Sabemos que existe uma concepção histórica dentro do partido que o liga a estes movimentos, mas será que neste instante está disposto a ouvi-los?

Neste contexto todo o que se percebe é que o PT esta sendo pressionado pelo próprio PT, isto pode gerar de certa forma dois grupos totalmente distintos dentro do partido, quebrando a sua unidade, isto podem trazer consequências gravíssimas para o Brasil, não para o partido em si, mas para a política do país, pois, se o partido que esta no poder se encontra em atrito interno, este modelo de “conspiração” recai sobre a estrutura política, e assim, pautas importantes que devem ser trabalhadas ao longo desse governo poderão ser colocadas de lado, como é o caso da Reforma Política e da reestrutura do Sistema Tributário.

O que nos resta é esperar, e ver até que ponto o PT vai se “endireitar” e deixar de lado definitivamente suas raízes de esquerda, assim sendo, caso este processo aconteça literalmente, nos resta pensar na consolidação de uma nova força de esquerda como aconteceu lá na origem do PT, ai o que fica, qual seria esta nova força de esquerda?

Gonçalves B G G
Enviado por Gonçalves B G G em 28/12/2014
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