GRITO ESTATÍSTICO: E AGORA BRASIL?

OPINIÃO:

Não me lembro de ter participado duma eleição tão emocionante e de resultados tão imprevisíveis como a que ocorreu na data de ontem, e de fato, alguns dos melhores professores brasileiros na área das ciências políticas já nos avisavam, via mídia, da imprevisibilidade do pleito eleitoral.

Na verdade, a onda de fatos que diferenciou a eleição de dois mil e quatorze, a que vinha sonsamente desanimando eleitores céticos depois de tantas bordoadas na cidadania dos últimos tempos, começou em junho do ano passado quando a população foi às ruas movimentada simbolicamente por vinte centavos que seriam acrescentados ao custo da mobilidade via transporte público na cidade de São Paulo.

A confusão se armou e se disseminou ao país inteiro, onde se percebia uma insatisfação latente do cidadão explodindo nas ruas.

Dava medo de se ver tanto ataque de ira daqueles que se infiltravam em meio a cidadania para desestabilizá-la.

Tal fato ninguém o consegue explicar com muita clareza científica, embora eu acredite que seja aquela dor pulsátil e perene sobre nossas cabeças, a de vermos nossa cidadania minar no tudo do dia -a dia da vida cada vez mais difícil entre nós, pessoas simples, que ganham o sustento da vida através do trabalho e que contribuem com os impostos cada vez mais crescentes sem ter quase nada em troca.

Veio a Copa das Copas. Estava prometido o ópio, a esperança...as tendas que historicamente amenizam as dores, e obnubilam as razões.

E o Brasil e o mundo constataram perplexamente aquilo que nem nós sabíamos: existia dois "Brasis": o sonhado, o dos sonhos contados ao mundo, e o do fiasco vivido em todos os campos.

Figuração sem cortinas...

Sofremos, choramos e nos resignamos, porque afinal, tudo passa na vida. Só as sequelas socias ficam e se somam.

Bem, iniciada a campanha das eleições para as cadeiras do Congresso Nacional e para as executivas dos Estados e da União, de súbito e de forma trágica, num "crash", perdemos um político promissor, o líder pernambucano, o presidenciável Eduardo Campos, cuja morte, a meu ver, foi um dos seus maiores e imprevisíveis atos políticos, a medida que despertou de forma avassaladora o interesse da Nação inteira ao pleito, sobre o que aconteceria dali em diante, principalmente pelo fato de que depois da sua morte sua vice de chapa surgia como possível candidata presidenciável a oferecer uma terceira via para romper a histórica polarização do poder entre duas correntes socialistas "masters", uma de esquerda e outra de centro esquerda; no caso, uma polítca líder que o país já conhecia em candidaturas anteriores, agora também candidata à sucessão presidencial.

O termômetro cresceu. A princípio parecia que o componente emocional da perda de Eduardo Campos desviaria a eleição para a vitória da terceira via.

Passados os impactos emocionais, assistimos às conjecturas, disputas, debates, à quente recandidatura presidenciável, enfim, o que era amorfo e sonso, tomou forma e gosto.

O povo saiu do "ostracismo" político-uso aqui o termo figurativo- para um interesse político nunca dantes visto nesse país! Foi o que senti.

Então, o pleito se delineou entre três candidatos: uma da situação, Dilma Roussef nossa atual presidenta, Aécio Neves na bipolaridade e Marina Silva, a terceira via do inusitado: Respectivamente Dilma e os dois - Aécio e Marina- a representarem a nítida vontade dividida do país entre o "continuismo com mudanças", ou mudança com... mudanças de fato..

Parece estranho, mas é isso mesmo.

Há os que acreditam que se pode mudar tudo...sem mudar absolutamente nada, nenhuma peça essencial do tabuleiro das ideologias e das ideias, e tal faz parte do maravilhoso jogo democrático.

Ontem, então fomos às urnas da eleição que sequer os Institutos de pesquisa de intenção de votos bem como as realizadas pesquisas de boca- de- urna conseguiram prever o que aconteceria.

Abertas as urnas elerônicas ninguém acreditava no que se via...

O que aconteceu?

O imprevisível... exatamente como é a imprevisibilidade de todo mundo real.

Percebemos nitidamente que havia dois mundos no Brasil de antes das eleições, exatamente como existiu na Copa das Copas: o das intenções fantasiosas, e o das realidades doloridas e dolorosas.

O segundo mundo venceu a representar estatisticamente quase sessenta por cento da voz das dores...

A terceira via Marina, machucada no palanque todavia super bem votada, prontamente se torna o fiel da balança a balizar o resultado da próxima eleição entre Dilma e Aécio. Vejo assim.

Marina mais uma vez marca presença com participação importantíssima na vida política do país...não há como se negar o fato.

Agora lhe serão pedidas as devidas e precavidas benções dos dois lados da polarização política.

Interessante...será difícil entender que possa haver afago às mãos que nos machucam.

Não vou me estender mais no meu texto.

Apenas chamo o leitor para o pensamento e para a dedução política mais lógica do que poderá acontecer com maior probabilidade entre nós ...dentro do que nos revelou a vontade estatística de mudanças com mudanças.

Lógica?

E quem disse que a política tem lógica? E a vida...tem lógica?

Opino: Vai levar o voto aquele candidato que melhor trouxer o eleitor à consciência REAL da sua própria dor vital.São inúmeras nossas dores.

De resto, só Deus para descortinar a dor dos tantos discernimentos anestesiados pela nossa história...

É bem normal anestesiarmos de tanto doer. Temos miragens, inclusive.

Bom destino de cidadania Brasil.

É o que sinceramente desejo para todos nós.