A REVOLUÇÃO DE CHUTEIRAS

Estive nas ruas de Sampa, durante as manifestações.

Na medida do impossível, e foi possível, me mantive afastado das articulações, pois queria observar os acontecimentos, para entendê-los. E não foi difícil.

De cara, ficou evidente o despreparo e a desarticulação dos partidos e dos segmentos produtores de pensamento, com as ruas.

Ao contrário de outras leituras da parte daqueles que a despeito de não serem agentes de nada se consideram o centro dos acontecimentos, o que aconteceu, sequer é novo. mas de qualquer maneira, foi o momento em que o ser despertou a face.

Há muito tempo as ruas gritam. E nunca ouvidas. Falam pelos labirintos os abandonados e despossuídos de todas as espécies e naturezas, que a couraça de legendas e slogans do clubinho partidário que alertado e chamado a atenção, sempre disfarçou com a insensibilidade, a culpa no outro. É tradicional. Nossos partidos nada refletem. Meras cópias de ideias que vogam lá fora por derramamentos de sangue, quando muito acompanhados em saraus e coquetéis. Ou seja, a voz das ruas lá de fora, sempre foi o teatrinho de fantoches da elite daqui (PLs, PCs, PSs, europeus são frutos de lutas travadas nas ruas europeias há séculos, quando os daqui permanecem trancafiados pelo Estado e pela cafetinagem).

Os acontecimentos recentes levam a um limiar qualitativamente superior em relação à mediocridade vivida ( e se alguém achar que estou aplicando a teoria marxista da transformação da quantidade em qualidade, estou mesmo). Ao contrário do passado, quando partidos e centrais sindicais, mais movimentos "populares", se metiam a intérpretes e condutores da indignação das ruas (simploriamente chamadas de "massas"), agora, a organização propiciada pela rede mundial e pelos portais sociais, é de outra natureza. Pela primeira vez a indignação diz o que pensa.

Foi patético Dilmensalista se pronunciando, em convocatória (convocatróia...)de reunião com prefeitos e governadores p'ra fechar acordão de uso de verbas, e a seguir, um "pacto constituinte", obviamente tentando passar sua ideia de restrição quanto a criar novos partidos. Oportunismo mais abjeto é impossível. Do ponto de vista da cara de pau, deu um banho. E pensar que Dilmão era vista como técnica.

Não quero me estender. Não ando com saco para a escrita. Viver é mais urgente. Porém, a articulação que os sites sociais proporcionam aos usuários define o jogo nas ruas e coloca no banco dos réus: democracia representativa e instituições corporativas. Devemos pensar em uma democracia direta digital, através de um pacto republicano que permita a intervenção automaticamente autônoma do cidadão. Sabemos que é utópico, porém, se não partirmos da utopia, idiotas continuarão dando carteirada como "legítimos representantes do povo".

Não basta abaixar tarifa, nem o progresso real na saúde, na educação e nos transportes.

Até agora não tivemos república e tampouco independência.

É hora de erguermos um Estado das ruas, via também comunidades digitais, porém não só, e muito mais.

O modelo de democracia liberal em voga no Brasil é mero capote de interesses corporativos pois aqui, liberalismo sempre foi máscara de disfarce do mega aparelhão corporativo que é o Estado nacional, marcado pelo ufanismo da República Velha, e a na via introdutória da modernidade, que segundo o modelo do Estado Novo, amordaçou a industrialização democrática com censura e castigo codificado, o que na era da intolerância militarista deu na estrutura encouraçada do Brasil privatista em tudo o que interessa ao Grande Capital, e postergante quando o prejudicado é o cidadão.

Deu no que deu. Uma placa de extorsão tecnocrática suspensa sobre a cabeça nem sempre superficial do ser humano realmente existente.

Agora, o que conta, é conectar o Estado aos becos , ruas, guetos, comunidades, escolas, culturas, ou seja, um aparelho público de verdade, e não a panaceia que é uma farsa de si.