DEU NO QUE DEU

O que temos hoje, na somatória das instituições, estruturas sociais e conquistas políticas efetivas, de maneira nenhuma autoriza a sonhar com rumo ao socialismo. É piada pensar ou formular semelhante disparate.

De fato, conseguimos o equilíbrio republicano com a maturidade de uma democracia liberal solidamente normatizada, mas cujo muro legalista mostra-se baixo para conter o abandono social que os governos socialdemocratas ocultam atrás da propaganda oficial do clientelismo bolsista e da reestruturação monetária e agenciativa do aparelho estatal (sim, porque PT e PSDB são grêmios de manifestações da social democracia cabocla, diferindo apenas o corte do terno, e a marca da colônia, e um cheirinho de povo, aqui e ali (FHC catedrático, Lullinha o Bom Menino, tomador de caldo de mocotó no Zelão...).

O Estado resultante das décadas de nado distanciante do aparelhamento getulista, mais precisamente do período militar sob as batutas entreguistas do Bobby Fields e do Golbery ( o verdadeiro guru petista), é um balcão de negócios que nada apresenta de avanço democrático, ao contrário, uma democracia ampla, radical, reflexiva das ruas e dos campos, está muito longe de ser construída, em parte porque os movimentos populares que temos são insípidos, corruptos, organizados na imagem e na semelhança das listas de empregos eleitoreiros, e de outro, porque o amadurecimento da democracia no Brasil, se deu através das reivindicações urbanas das grandes metrópoles, inexistindo apego ao grito das periferias, por sinal imensas, sejam metropolitanas ou rurais.

Deu no que deu.

Um capitalismo realmente estruturado em modelo democrático pouco representativo da diversidade social, encolhido em relação ao imenso universo humano, que no Brasil significa povos em choque e em discordância múltipla, cujos interesses antagônicos não se resolvem dentro do aparato limitado do Estado de feição meramente tecnocrática que erigimos como uma conquista pós-militar, mas que nada significa, pois é evidente que o espectro social é muito mais amplo do que os aparelhos públicos fariam supor, caso o Estado brasileiro refletisse a sociedade civil, em todas as suas vastíssimas contradições.

Na verdade, no Brasil, o Estado significa cartório de negócios de um capitalismo que apesar de massudo e musculoso, é desvinculado da sociedade pessimamente organizada, e dentro do modelo que desenvolvemos, os limites jurídicos impostos pelas instituições asfixiam qualquer aspiração democrática que não venha chancelada pelos monopólios empresariais.