O político no poço

Todos nós conviventes em grupo precisamos de leis que garantam nossa sobrevivência. Algumas leis são escritas e expressam as atitudes proibidas e punem os infratores para garantir a sobrevivência individual e grupal. Neste caso cito apenas o Código Penal e o Código Civil. Outras regras não são escritas, as chamamos de convencionais e também regulam a boa convivência. A lei do silêncio é uma delas.

No mundo político - é neste tema que quero me prender - se o político desrespeita as leis condena-se a sucumbir politicamente. Quando o político se candidata a uma eleição, imediatamente obriga-se a cumprir o que está escrito na lei eleitoral sob pena de ter a candidatura cancelada.

Para cumprir a lei não escrita ele passa por uma reforma visual e gestual para se apresentar aos eleitores. Ninguém compra um produto qualquer se ele vier numa embalagem feia, não agradável aos olhos. Só votamos em, ou compramos, produtos bem embalados.

Afora a obediência a legislação eleitoral, o político deve obediência a outra lei, também não escrita, até mais forte que o Código Eleitoral. Refiro-me ao pacto com o eleitor. Obediência a esse pacto é o que determina o sucesso ou o fracasso do político. Não adianta a legislação eleitoral aceitar o candidato se os eleitores pensam o contrário. Se o político mentir aos tribunais eleitorais a punição vem após várias sessões ouvidas a defesa e a acusação. Ele pode reverter a situação explicando seus erros e pedindo perdão aos seus julgadores. A situação complica-se com os eleitores. Se o político quebra esse ‘pacto’, o eleitor não o perdoa ainda que a Justiça regularize sua situação.

Enquanto nos tribunais o julgamento é feito por alguns poucos, nas urnas são milhares e até milhões de julgadores. Enquanto o tribunal ‘não se envolve emocionalmente’ (será?), nas ruas os eleitores são um poço de emoção.

Com a Lei da Ficha Limpa quem cai num poço tem sérias dificuldades para voltar a superfície.