A internet: o fim dos pressupostos da democracia indireta?

No estudo da democracia, é muito comum os autores proclamarem que seu berço seria a cidade-estado de Atenas.

Nesse mesmo viés, os estudiosos sustentam que democracia seria uma classificável como indireta ou direta, sendo que nesta, a exemplo da já citada Atenas, os cidadãos exercem o poder político diretamente. Por sua vez, também explicam que a democracia indireta (ou representativa) se dá quando o poder político é exercido por representantes, eleitos pelo titulares do poder.

Hoje, a maioria dos países democráticos, entre eles, a República Federativa Brasileira, se baseiam em um modelo de democracia indireta, sob a justificativa que seria impossível que o modelo ateniense se firmasse em Estados que tivessem grande extensão territorial, e grande quantidade de cidadãos. Seria impraticável reunir todos os cidadãos num mesmo espaço para decidir as questões essenciais ao funcionamento do Estado, isto, apenas considerando as atribuições do Poder Legislativo.

No Brasil, inclusive, quem efetivamente decide no legislativo são as comissões, sendo que o plenário só é acionado para decidir apenas temas de maior relevância. Nesse contexto, nossa democracia seria quase duplamente indireta.

Contudo, esses motes da democracia indireta (distância territorial e impossibilidade reunião de cidadãos) permanecerá ao longo dos anos?

Entendo que não.

A internet possibilita que todos os cidadãos de um Estado possam tomar ciência das questões a serem decidas no âmbito democrático, bem como manifestar-se a respeito nos mais variados mecanismos de comunicação da rede mundial de computadores (blogs, vlogs, sites de relacionamento, de publicação gratuita de escritos, de publicação gratuita de vídeos). Desse modo, todos nós poderíamos votar e decidir diretamente sobre projetos de lei ou de emenda constitucional .

Não é preciso dizer que isso implicaria numa enorme economia para cofres públicos, no sentido de que não seria mais necessário gastar com o sustento de agentes políticos e seus assessores.

Além de que seria flagrantemente impossível subverter toda a ordem democrática por meios ilícitos como compra de votos ou negociação inescrupulosas dos interesses públicos em pró de interesses privados.

Ademais, a própria sociedade se manifestaria e decidiria os temas de relevância, e seria bem difícil influenciar a decisão do povo através de “argumentos” politicamente incorretos.

Porém, não é de se negar que há outros motivos que recomendam a democracia indireta . Além de que, os elementos materiais para efetivar essa democracia direta pela internet não seriam de fácil implantação, regulamentação e fiscalização. Sem dúvida, seria necessária uma intensificação nos mecanismos de segurança virtual para garantir a efetiva não-deturpação do sistema democrático.

Mas, certo é que a internet já vem viabilizando novas tendências democráticas, facilitando o controle e fiscalização do poder político, na medida em que, qualquer cidadão pode pesquisar a história, o trabalho e as opiniões de seus representantes e candidatos, tal como participar de fóruns de discussão, avaliar as prestações de contas etc.

Assim, a internet tem funcionado como instrumento de aproximação de representantes e representados. Quem pode prever o que mais essa rede pode nos trazer?