A (re) Volta da Nau Catrineta...

De: Silvino Potêncio

Vislumbramos um mar encapelado pela frente, talvez mesmo muito encrespado na proa em demasia pelas muitas borrascas desencadeadas pela aplicação do nosso recente "Código Dá VintchCinco de Abriu-loooooo"... o gógò para gritar aos quatro ventos pela volta da liberdade e, quem sabe ?!... foi-se para sempre aquela aragem de ventos alisios dos mares tropicais ao sul do equador para tocar o barco à bolina mundo afora, como o fazíamos há mais de cinco ou seis séculos.  
Sem mais comentários transcrevemos um texto assinado pelo Amigo Coronel Manuel Amaro Bernardo em aditamento ao Manifesto do Excelentissimo Senhor Vice Almirante José Manuel Botelho Leal (data vênia) dirigido a quem de Direito ... iiii  aatão lá bai:

(Citamos):
Aditamento de Manuel Amaro Bernardo
(Cor. Ref. N.º Mec 514 030 11)

    1.Este oficial general da Marinha tem toda a razão quando diz que “uns são filhos e outros enteados”.
   Então como se pode explicar que outros profissionais do Estado não vejam os seus subsídios de Natal e de Férias cortados, como é o caso dos funcionários do Banco de Portugal?
    Os elementos desta instituição responsável (ou co-responsável) pela falta de controle da dívida pública e das contas do Estado que levou à deprimente situação actual de Portugal ainda recebem esse bónus pela incompetência manifestada?
    Parece que Sua Ex.ª o Presidente da República tem algum complexo por ser pensionista de tal organismo…
 
    2.Eu pertenço a uma geração de militares (72/80 anos de idade) que fez toda a guerra de África durante 14 anos (1961-74), cumprindo quatro comissões por escala (imposição) de dois anos cada. Assim a saúde depauperada resultante de tal experiência passa a fazer-se sentir. Ainda na semana passada acompanhei os funerais de quatro amigos oficiais ex-combatentes (3 do QP e um miliciano) na maioria DFA (Deficientes das Forças Armadas)…
    Mas não é o “apertar do cinto”, com todas estas medidas restritivas impostas que afectam sobremaneira os militares profissionais, habituados a enfrentar períodos críticos e difíceis. O que mais os escandaliza são as injustiças praticadas com a implementação de tais excepções a determinados grupos ou instituições, como o referido em 1. Em países da União Europeia têm-se visto os responsáveis políticos darem o exemplo em relação a tais medidas incómodas. Espero que aqui aconteça o mesmo e que não permitam qualquer tipo de excepções, seja a quem for. Julgo que ainda estão a tempo de corrigirem os erros cometidos… 
    Aliás foram as injustiças então existentes e a resolução do conflito ultramarino que levou a instituição militar a montar uma democracia em Portugal em 1974/75 (plena a partir de 1982) e, de acordo com a Constituição, lembra-se que essas FAs são, em situação de crise extrema, os responsáveis por manter o “regular funcionamento das instituições democráticas”.  
 
Exmo. Senhor Tenente-General Carvalho dos Reis

        Digníssimo Chefe da Casa Militar de

        Sua Excelência o Presidente da República

Sou militar, Vice-Almirante na situação de reforma, oficial das Forças
Armadas Portuguesas que servi com orgulho, honrando o juramento que prestei, ao serviço da Pátria que fui incumbido de defender.

Como militar que sou e educado que fui na adesão a Valores como a honra, a lealdade, a ética, a servir os interesses que jurei e não outros, acreditará que, porventura, mais que outros cidadãos, estou disponível para sacrificar-me pelo bem comum desde que esteja em causa a sua prossecução, como o atesta a concreta sujeição que a minha condição me impõe, nomeadamente quando me predispus a aceitar disponibilidade permanente para defender a Pátria se necessário com o sacrifício da própria vida!

Não está pois, nem poderia estar em causa, pretender eximir-me a sacrifícios que vão sendo impostos à generalidade dos cidadãos.

No entanto, verifico que, aos militares, aos funcionários públicos, aos
elementos das forças e serviços de segurança, reformados e pensionistas, foram impostas as medidas de austeridade mais gravosas.

Como servidor do Estado, à semelhança de todos os meus concidadãos que o são também, e como cidadão fardado, sujeito à condição militar que me impôs particulares deveres e me restringiu direitos de cidadania, sinto-me injustiçado e discriminado pela forma como tenho vindo a ser penalizado a pretexto do saneamento da dívida e do défice públicos.

Recuando apenas ao ano de 2005, as condições com que os militares se vêm confrontando, têm vindo a ser continua e violentamente deterioradas, ao arrepio, inclusive, do que é acautelado pela Lei das Bases gerais do estatuto da condição militar a qual, para compensar os militares dos especiais deveres e restrições a que estão sujeitos, consagra “especiais direitos, compensações e regalias, designadamente nos campos da segurança social, assistência, remunerações, cobertura de riscos, carreiras e formação”. Subsidiariamente o mesmo estatuto “garante aos militares e suas
famílias, de acordo com as condições legalmente estabelecidas, um sistema de assistência e proteção, abrangendo, designadamente, pensões de reforma, de  sobrevivência e de pensões de preço de sangue e subsídios de invalidez e outras formas de segurança, incluindo assistência sanitária e apoio social”.

Nada disso tem sido levado na devida conta. Bem pelo contrário! Têm vindo a ser implementadas sucessivas medidas, tratando por igual quem manifestamente deve ser tratado de forma diferente porque, diferentes, são também as condições em que servem ou serviram, em circunstâncias sem paralelo na sociedade.
E, a culminar a desconsideração a que eu e todos os militares temos sido sujeitos, tiveram por bem os responsáveis pela governação, proceder ao corte dos subsídios de férias e de natal em 2012 e anos seguintes, sem previsibilidade do seu restabelecimento, a juntar às reduções remuneratórias operadas a partir de 2011 para os que se encontram nas situações de ativo e de reserva.

Medidas eivadas de evidente falta de justiça e equidade, com contornos que considero aproximarem-se da imoralidade.

Porque me questiono quanto à razão ou razões que determinam que a um universo de cidadãos (aos que servem a coisa pública), seja conferido um tratamento diferenciado, desigual e particularmente penalizador relativamente aos restantes cidadãos!

Onde está a equidade quando, aos que exercem atividades na esfera do Estado, relacionadas, por conseguinte, com serviços prestados à comunidade, perante uma divida pública e um défice considerados excessivos, são imputadas particulares responsabilidades para as quais, tal como a maioria dos restantes cidadãos, em nada concorreram?
Trata-se de uma situação objetivamente desprovida de qualquer sentido e arredada de equivalente noção de senso de justiça já que, admitindo-se a necessidade de solucionar o problema relacionado com o equilíbrio das contas públicas, não é admissível que seja imputada a uma parcela da comunidade (aos que prestam serviço no Estado) de que todos fazemos parte, a singular responsabilidade de suportar os custos decorrentes de gastos excessivos da responsabilidade de sucessivos governos. Cujos governantes, um dia, essa mesma comunidade, por inteiro, encarregou de zelar, ao que se supunha, pelo
bem público, ao serviço de todos e não exclusivamente ao serviço dos que agora são particularmente responsabilizados, como a discriminação das medidas adotadas parece fazer crer.

E, permitindo-se-me o pleonasmo, injustiça exacerbada quando, tais  medidas, são do mesmo modo extensivas aos cidadãos fardados, cuja condição militar lhes impõe deveres, ao mesmo tempo que os arreda de muitos dos direitos, liberdades e garantias consignados na Constituição, consagrados para a generalidade dos cidadãos.

Injustiça e discriminação tanto maior quando se assiste à cadenciada
dispensa do corte dos subsídios em questão a alguns grupos de profissionais,  no contexto do universo dos que estão subordinados à tutela do Estado, transmitindo-se a ideia de que “se uns são filhos outros serão enteados”.

Injustiça que sinto ainda mais profundamente quando sou confrontado com dúvidas, por parte da tutela, sobre a sustentabilidade do Fundo de Pensões dos Militares (FPM) e, para já, com a suspensão do pagamento do respetivo complemento de reforma, por os sucessivos Governos não o terem atempadamente capitalizado como legalmente estabelecido. FPM para o qual, aliás, escrupulosamente contribuí na esperança de assegurar a dignidade de uma velhice mais tranquila, como merecido por quem deu o seu melhor na defesa dos Superiores Interesses da Pátria.
Face ao que precede, em que relato as razões que me levam a  considerar iníquo o corte dos subsídios de férias e natal e inaceitável a suspensão do pagamento do complemento da pensão de reforma, solicito a V. Ex.ª, Sr. General, que leve ao conhecimento de Sua Excelência o Presidente da República as razões que me assistem, acima aduzidas, na esperança de que o seu sentido de justiça e equidade já publicamente manifestado relativamente a opções de idêntico teor, penalizadoras para os cidadãos, possa fazer com
que utilize o seu magistério de influência no sentido de que seja dada
diferente orientação a medidas que, sacrificando os cidadãos, transportam consigo uma forte carga de injustiça, atenta a forma discriminatória como são aplicadas.

Com os melhores cumprimentos

Data 31 de Maio de 2012
José Manuel Botelho Leal
(Vice-Almirante Ref)   
NIM 31959 Marinha
(Fim de Citação)

Tal como tantas vezes o temos alardeado, aqui o repetimos novamente; Portugal é eterno e nunca se diga Adeus para sempre! 
Silvino Potêncio - Emigrante Transmontano
O Home de Caravelas de Mirandela
Ex Combatente em Angola
Ex Residente
Ex Retornado
Ex Membro do IARN 
Eis criba avulso do tempo que passa...

Nota do Autor: A foto deste texto é da Autoria de um Co Provinciano de Tras Os Montes cujo nome se me perdeu na imensidão de emails recebidos por mim aqui há muitos anos. De memória eu sei que ele serviu na Marinha e teve a Honra e a Glória de viajar na SAGRES - O Veleiro mais lindo do mundo que nos leva de volta às Glórias de um Passado já tão distante. Se acaso algum Leitor se identificar com esta nota, eu gostaria de acrescentar o autor (desta e de várias outras que eu tenho em arquivo no Blog que está inacessível de momento).  Muito Obrigado!
 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 09/07/2012
Reeditado em 30/01/2017
Código do texto: T3769455
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