O ESTUPENDO MUNDO DA MODA


A ROUPA... QUE TU VESTES, DE NOVO ( I )

Se pudéssemos traduzir a suposta e encantada alma do ser humano, como a mais pura e magnífica embalagem das manifestações extra-sensoriais, poderíamos no caso da mulher considerar o vestuário (sua segunda pele) como o mais belo show de sensualidade, vestindo o corpo, um espetáculo da natureza, que reveste a dita e sonhada alma.

Creio que posso embelezar o texto usando a expressão alma, sem ter que pedir licença aos místicos de plantão.

Nessa dupla busca de fantasias misturando o místico e o material, o ser humano se supera (principalmente a mulher) e alimenta uma grande industria de produtores de estilo e da matéria prima básica, tecidos planos e circulares, em cores e estampas, maquinetados, peletizados ou não, com acabamentos incríveis, nas mais diversas e estranhas composições e estruturas, que alimentam as passarelas de famosas e obsessivas portadoras de anorexias, bem remuneradas, que mostram às demais, simples mortais, como se exibir em festas, em reuniões sociais, danceterias, academias de ginástica ou entre quatro paredes aos seus amantes ou namorados apaixonados.

Crepes, cetins, sedas puras, organzas, rendas, lingeries, malhas frias ou de jersey, Chiffon 100% algodão em forma de peças intimas ou roupas de gala, ou mesmo esporte fino, acariciam o corpo das mulheres, tornando-as mais belas e fazendo o espetáculo maior do que aquele que o antecedeu. (Show-rooms, bureaux de moda, conceitos diversos de renomados estilistas) E eu nem quero falar do Jeans (indigo blue) que fica para o próximo capitulo.

Sem falarmos nas igrejas onde o ritual é da alma que padece, mas o corpo que dá forma ao espírito, tem que exibir sua melhor performance no vestuário específico do batizado, do casamento, do enterro ou de um simples desfile para uma missa cotidiana ou do chamado 7° dia. Quem pode se lembrar do corpo que veste a alma, sem os seus enfeites?

O roxo batata e o dourado enfeitando a batina do Padre, o branco eterno dos batizados e dos vestidos de noivas e o preto clássico de todas as festas, incluindo a despedida da vida, sem falar no roxo que também vai no caixão, mesmo que seja aquele de Ilhéus(rs)

O vermelho, azul royal e amarelo se misturam nos xadrezes das festas juninas, ou nos carnavais e nos vestidinhos com estampas miúdas estilo mamãe dolores ou formando o “patch-work” esnobe que no caminho da roça é chamado de colcha de retalhos.

Você conhece uma colcha de retalhos de verdade? Fabricada por uma costureira que trabalha por amor? O matelassê, aquela manta sintética, macia, é substituído pelo algodão crú ou aquilo que ela em sua simplicidade chama de pano de saco ou de chão e alvejado com várias fervuras no tacho de cobre, assessorado por espuma sintética. Não é definitivamente uma peça de luxo, cara, mas tem o aconchego de quem o faz, geralmente mãos trêmulas de uma tia querida ou da mamãe ou vovó ou aquela simpática velhinha vizinha que juntou retalhos ou peças velhas para render seu tributo ou apelo carinhoso aos mais jovens. São mãos tremulas de artesãs que produzem um cobre leito, que se chama carinho, ternura pedindo um elogio ao seu grito de solidão em forma de arte e pedindo um agradecimento, um reconhecimento e talvez pedindo mais "70 cortes de tecido", mesmo que seja do mais barato.

Peças intimas douradas, etiquetadas, moldadas especialmente para um corpo sedento de novidades, que alimenta uma das maiores industrias do mundo, a industria da moda, com todo seu requinte ou com toda sua mesmice de sempre. No mundo inteiro, desde as feiras internacionais de Milão, Paris ou mesmo no Anhembi, Fenatec ou Fenit em SPaulo, ou mesmo passando pela “fashion” Rio nos Intercontinentais da vida.
Também nos camelòdromos e feiras hippyes de periferias, apesar dos protestos as clonagens funcionam a preços razoáveis. Há quem prefira a Daslú ou o Lafayette em Paris. Poderíamos dizer então que os “books”de estação, os desfiles, os conceitos, e tudo aquilo que foi desenvolvido em “bureaus de moda”, e exaustivamente demonstrados em “show rooms”, são superados na prática, no dia a dia, quando um ou outro lançamento estoura.

Ou ainda se você for amante dos "similares" pode passear atento e cuidadosamente por Jaraguá-Go, onde realmente lá, uma boa parte dos industriais, levam à sério a regra do famoso ditado: "nada se cria, tudo se copia" (rs).


Não tenho preconceitos, sou do ramo da moda e adoro ver as mulheres comprarem, comprarem e comprarem, pois é desse consumismo que sobrevivo. Divirto-me à beça quando vejo alguém pagando R$450,00 por uma calça Jeans num Shopping de luxo, quando sei que o tecido na tecelagem não custa mais que R$8,00 o metro. Quando elas estão usando pouca roupa (em praias, clubes e piscinas) eu me consolo com a paisagem.(rs). E que bela paisagem.

Da mesma forma, um homem fino elegante, chega num shopping e paga por uma camisa de fio tinto nobre, R$80 a R$120, quando o tecido ai pertinho em Cataguases fabricado na Cia.Manufatora de Algodão do saudoso Dr. Rodrigo Lanna, não é vendido por mais que R$8,00 o metro.

Não muda nada, o inverno com seus tons severos, tristes, escuros, meio escuros chamando a cor da terra, do verde oliva ou militar ou os tons de folhagens do agreste, babosa, amazônia, castanha, açaí, brita, calcareo, erva-cidreira ou o tradicional “black” ou grafite e que os estilistas buscam no padrão internacional ditado pela rigidez do Pantone que o mundo globalizado exige como padrão de referencia para os negócios internacionais.

E assim, as cores se misturam nos tecidos lisos e dão vida aos animais que inspiram belas estampas simulando peles de onça, cobras e jacarés. E então eis que de repente surge a primavera com a sua alegria contagiante e o pink louco, antigo rosa maravilha que mais antigamente ainda se chamava bonina, hoje é o Pantone 18-2043 TC e sucessivamente outras cores, e o mundo inteiro tinge e retinge com a mesma receita, com o mesmo rigor e com o mesmo glamour.

Os estilistas fazem o discurso e enfeitam com a retórica, ora chamando os anos 60, ora chamando os tempos de chumbo com o "affair" e a disciplina dos verdes oliva e somente dessa forma, se pode justificar os diversos ciclos que na verdade se repetem de tempos em tempos, adornados pelo jogo de palavras, explorando nomes de estações e épocas diferentes.

E para tentar o equilíbrio de preços no mercado interno, que venham os Chineses, que venham os Coreanos, os Japoneses, pois além de estabilidade nos dão a oportunidade de conhecermos os costumes e o fascínio de outras partes do mundo, até então desconhecidos.
Mesmo que seja para dar vexame como por exemplo, quando aquele maldito Color escancarou as porteiras e as nossas mulheres quase todas sem exceção vestiram “chamoire” rigorosamente nas cores preto, café, verde oliva e azul marinho. Era um tecido camurçado, pesado e a nossa mulherada num calor de 40 graus em pleno verão, todo mundo de “chamoire” no Brasil inteiro, porque era moda e quem entendia de pano, morria de rir.

Tomara que jamais retornem as horríveis bocas de sino, que sobreviva o eterno tomara que caia (que beleza) e que nunca mais retorne esse horrível “Saint-Tropez” com o maldito cós baixo onde prevalece e insiste o ridículo dos provocantes gritos e sussurros do irritante e debochado “olha o rego”, “olha o rego”. principalmente quando se está sentada na garupa de uma moto.

E no calor de 40 graus do Centro-Oeste, norte e nordeste ou em pleno verão do Sudeste, que desapareçam em parte os chamados “panos de guarda-chuva” das industrias de camisas e que possamos ter de volta a elegância do linho e do algodão, pelo menos como misturas nobres para que nós os homens possamos nos equiparar às mulheres vestindo com mais propriedade, elegância e conforto.

E as listras? Ah... as listras que sejam eternas, pois que são justamente chamadas de clássicos e tradicionais, muito condizente com o firme caráter dos homens que não se deixam dobrar pelo deslumbramento de cores variadas como “fúcsia” hoje, amarelo ouro amanhã, verde bandeira depois e roxo batata no próximo inverno exigindo que todos os acessórios, sapatos, cintos, bolsas, jóias ou “bijouteries” acompanhem, sem falar na cor das unhas e dos cabelos que fazem o grande desarranjo da metamorfose feminina que são diretamente responsáveis pela ascensão dos índices inflacionários e fazem o desespero dos Ministros de Economia de qualquer País no mundo inteiro, além do estrago que fazem nas contas bancárias dos maridos e de suas próprias quando independentes financeiramente.

E que todos nós possamos sobreviver ao estupendo mundo da moda.
Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 05/02/2012
Reeditado em 01/05/2017
Código do texto: T3481799
Classificação de conteúdo: seguro