INSÔNIA

Insone, observo todos dormindo. Não há estrelas. O silêncio cobre a noite. Meus pensamentos giram como cataventos. Não tenho medo. Cenas cotidianas passam pela minha cabeça, fossem histórias para eu desvendar suas mensagens ocultas; como em Silvio Duncan, ‘A voz vem de longe e está comigo, / daquele que é teu maior amigo ou pior inimigo...”.

O relógio marca a retrospectiva de períodos da minha vida. Sinto saudades; sentimento forte que, por vezes, procuro ocultar das sensações que dão sentido ao meu viver.

Percebo a importância de resolver as situações cotidianas no momento certo, e não me dou conta de outros segredos, até sofrer com a insônia. Duncan expressa, “... E chegar, depois, / ao princípio da verdade / que vive em não palavras”.

Contudo, espanto-me com meus pensamentos, ao descobrir a tristeza trazida pela insônia: a convivência não ser vista como algo a construir os dias e, apenas, a competir, competir... Silvio Duncan diz que, “a sinalização dos relógios de fala imperativa / o mundo nasce do coração dos despertadores...”.

Com insônia, minha noite se alonga. As horas passam devagar e fico submetida à vontade marcada pelas contradições; conflitos que continuam sem resolução, impedindo que a população possa sobreviver ao retrato da realidade, quando busca a compreensão. Sonho cada vez mais distante.

Tudo isso me leva a refletir sobre o meu viver no ritmo dos discursos em seus aspectos cotidianos culturais e sociais. Ainda em Duncan, “O Senhor da tua alma partiu / e tu ficaste só, / na longa noite sem estrelas”.

A convivência com a insônia não me concede a paz. Histórias e fatos se misturam em pensamentos mágicos; imagens que alimentam ambições, fantasias, resistência e pertinência. Confusas e ao mesmo tempo complicadas, pois, descrevo mentalmente os momentos-chave da vida, em que a desigualdade infringe as leis que vigoram para mim.

Com a insônia minhas cobranças, decisões e esperanças afundam no silêncio. Silvio Duncan demonstra, “... e a vida continuou passando / no monossílabo das ondas / no frio da correnteza / no planar do pássaro...”.