Lituratura Paraisense: Poeta José da Mata – Parte 1




            Esta crônica registra elementos da história da literatura produzida por autores da cidade de São Sebastião do Paraíso, no Sudoeste Mineiro, destacando especificamente a curta trajetória de vida e alguns fragmentos da obra do poeta José da Mata. Natural da própria cidade, esse jovem literato nasceu no ano de 1886, filho de Maria Rodrigues Martins e de João da Mata de Souza Martins. Muito cedo, quando dava os primeiros passos na escola elementar, revelou uma inteligência diferenciada para as letras, dominando a arte de escrever, e, infelizmente, faleceu com apenas 22 anos de idade. Se tivesse vivido mais, possivelmente, teria seu nome projetado na literatura nacional, devido à beleza de seus versos. Apesar da curta trajetória de vida, publicou textos na imprensa local e na famosa revista de circulação nacional “O Malho”, do Rio de Janeiro.

            José da Mata iniciou o ensino primário com o professor Francisco José Firmiano Ribeiro, conhecido como “Mestre Chico”, que estudou no famoso Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, cursou o primeiro ano da Faculdade de Medicina, mas para ganhar a vida, aceitou uma vaga de professor em Jacuí, e, posteriormente, fixou residência em Paraíso. Na continuidade, José da Mata completou os estudos elementares na escola do professor Gedor Silveira. Mesmo sem ter o curso ginasial, adquiriu cultura para ministrar aulas elementares e participou de bancas examinadoras do Colégio Sul Mineiro, do professor Carmo Perrone (o avô). Em 1907, ano de criação do Ginásio Paraisense, o jovem poeta, não tendo condições de frequentar o curso ginasial, aceitou uma colocação para trabalhar como professor leigo no Colégio São José, da cidade mineira de Silvestre Ferraz (Carmo de Minas), cujo diretor atendeu a uma indicação do generoso deputado José Luiz Campos do Amaral Júnior.

            Publicou vários artigos no jornal O Paraisense, deixando traços de seu talento literário, abordando temas variados. Em maio de 1906, escreveu: “A inveja é o vício mesquinho e torpe que, depois de abrigar-se no peito de um ente infeliz, aponta-o ao conceito da sociedade, como indigno de nela penetrar. Corruptora dos puros sentimentos, ela dá as mãos à calúnia, para ambos corromperem o caráter tornando-se ludibriada de todos”.

            José da Mata e Noraldino Lima foram amigos de infância, brincaram no antigo Largo da Matriz, antes da construção do Jardim Público. Ambos aprenderam a cultivar verdadeira adoração pelas musas da poesia romântica. A seguir transcrevemos dois sonetos de sua autoria, o segundo deles, sobre o semanário O Paraisense, dirigido pelo professor Gedor Silveira.
 
O livro
 
                        José da Mata:
 
O livro é o farol de onde nasce, divina,
A refulgente luz, embriagante e casta,
Que as trevas espancando, heroica, adamantina,
Penetra no universo e a ignorância afasta.
 
O livro é o astro rei que luz alabastrina
Esparge pelo mundo e a ignorância afasta.
O livro é a estrela dalva airosa, matutina,
Que brilha na amplidão do ceu, azulea e vasta.
 
Apóstolo do bem – guerreiro de valor,
Não teme na batalha a espada mais cortante,
Pois, na luta que trava, é sempre vencedor.
 
Mensageiro da luz que a humanidade adora,
O livro encera em si tudo o que é deslumbrante
O livro tem primor como o nascer da aurora!
 
 
Ao Paraisense
 
                        José da Mata
 
Oh musa juvenil, oh musa sertaneja!
Vem cantar na poesia, em verso alexandrino,
Uma heroína epopeia, um cântico divino,
Ao nobre lutador que sem cansar peleja.
 
A ele, o forte, o audaz que nunca lagrimeja,
Ante o insano lutar sem tréguas e crástino
Oh canta, canta musa, canta um verso ao paladino,
Que intrépido e valente entre o labor moureja.
 
Transpõe, cheio de fé, teu primo aniversário
Cheio de entusiasmo e galhardia imensa
Querido “Paraisense”, amigo semanário.
 
É sempre forte, heroi do povo na defesa
E dando às multidões teu manto hospitaleiro
Prossegue o batalhar nas lutas pela imprensa!