Capítulo 2 - Paisagens e Pessoas, marcas de um tempo distante.

As crianças de minha idade cresciam em meio a um país com realidades específicas. O comando da nação no sentido geopolítico era militar. A educação ministrada a todos era desde as primeiras aulas, centrada na moralidade, na ética e no civismo, visando promover o desenvolvimento do cidadão.

A abordagem didática exigia dos alunos inteira atenção para o desenvolvimento dos conteúdos e a aplicação constante dos mesmos em deveres para casa. Múltiplas eram as vezes em que nos víamos a decorar em geografia as capitais nacionais e mundiais e também matemática na obrigatoriedade de memorizar fórmulas e regras.

Pessoalmente me vejo afortunado por possuir uma mãe professora,que insistentemente se debruçava comigo nos estudos, levando-me assim a efetivar a construção de textos, copiar ditados e elaborar redações. Sua insistência e perseverança serviriam de base para que hoje pudesse me comunicar e expressar com mais qualidade; habilidades estas fundamentais para a missão dos meus dias futuros.

Aquele apartamento que era embelezado por papéis de parede, móveis rústicos e lustres muito belos, tinha em sua sala de jantar ou na escrivaninha do nosso quarto o lugar das horas e horas de estudos e escritos, aos quais em nem sempre me afeiçoava. Até gostava de geografia, história, mas as exatas sempre me foram desafiadoras e indigestas.

Por um perfil demasiadamente "contemplativo" perdia a concentração com facilidade, o que não deixava minha mãe satisfeita, é claro.

Achava interessante assistir a televisão, especialmente o mistério que se fazia antes de a programação entrar no ar, com a tv ainda em preto e branco, anunciando com uma faixa de cores em preto, branco e cinza, escalonadas para maior ou menor tonalidades, que estava próximo o início dos programas favoritos.

Os desenhos animados e as séries americanas de humor e aventura, todos estes eram ansiosamente esperados.Confesso, com histórias e desenvolturas muito mais interessantes, engraçadas e próprias do que as que hoje nos servem nas mais variadas redes.

Fosse pela manhã, ao chegar da escola, ou pelo fim de tarde, após os estudos, nosso entretenimento predileto estava na novidade que a televisão havia se tornado para os lares brasileiros.

Então minha vida se resumia a ir para a escola, efetivar os devidos deveres, assistir televisão e, vez por outra, com a permissão de meus pais, descer pelo elevador e assentar-me na entrada do prédio para observar o transito, as pessoas ou brincar no prédio ao lado que era o edifício da Bolsa de valores, o qual, quando fechado nos propiciava espaço necessário para correr, pular e até brincar de bola.

Foi assim que os meus primeiros amigos infantis começaram a se fazer presentes no meu dia a dia.

Ali também podia avistar a torre da TV Itacolomi, Rede Televisiva de Belo Horizonte que retransmitia então a Rede Record em seu antigo formato, vindo depois a chamar-se TV Alterosa, que hoje é filiada ao SBT.

A Rua dos Carijós, à altura de onde nosso condomínio estava, tinha como esquina outra rua importante, a Rua da Bahia, e começava a partir do Rio Arrudas, o qual corta grande parte da região central de Belo Horizonte.

Meus horizontes de curiosidade se ampliavam todas as vezes em que, em frente ao prédio, olhava na direção destas ruas e daquele rio.

Queria saber o que havia lá e de onde ouvia a buzina dos trens que chegavam à Praça da Estação Central, de onde vinham as águas que corriam pelo rio e para onde iam depois que, cortando a Avenida dos Andradas, ultrapassavam os limites do Parque Municipal.

Esta curiosidade despertou em mim o desejo de explorar, conhecer, ousando ir além dos limites permitidos por meus pais, fazendo isso sozinho ou algumas vezes acompanhado pelos amigos do prédio com os quais aprendi a brincar, especialmente os de maior idade que eu.

Acredite, só estou aqui para lhe contar estas coisas porque "Ele estava lá", mesmo em explorações territoriais desprovidas da autorização paterna e que ignorava os riscos de tal impropriedade. Sobre isto, compartilho com você no próximo capítulo.

Fernando Alberto
Enviado por Fernando Alberto em 30/08/2017
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