A INTERLOCUÇÃO FERTILIZA A PALAVRA

Amigos sabem por que os políticos, imperadores, doutores, filósofos da antiguidade nos brindam até hoje com suas metáforas e frases célebres? Porque liam muito! Eram cultos. Não havia outra forma de entretenimento. Não havia tempo para distrações e assim sendo, tornavam-se ricos intelectualmente. Os grandes segredos das cortes eram guardados por códigos, os documentos eram decodificados pelos sábios e estes eram valorizados a peso de ouro.

Acredito em vidas passadas e tenho maior fascínio pelos Séculos XII, XIII, XIV, especialmente.

O que dizer sobre os Bórgia,cujo título original é The Family,fascinante romance sobre a história da família que teria dado início à máfia no Século XIV, tão bem vivificada no livro do gênio Mario Puzo?

E sobre Hildegard von Bingen, mulher temida e respeitada no Século XII por todos os reis e bispos e que sobreviveu por causa da sua intelectualidade e capacidade de dominar assuntos diversos, inclusive a arte de lidar com as plantas. Intelectual e mística, foi tão respeitada e temida pelo seu amplo conhecimento. Por diversas vezes escapou da morte, visto que se a matassem os antídotos e fórmulas que salvariam vidas de muitos reis morreriam com ela, assim, sobreviveu.

Falta fome de leitura no país do futebol:o brasileiro lê, em média, 4, 7 livros por ano contra 10 nos EUA ou na França e 15 nos países nórdicos. Dos 4,7 livros lidos pelos brasileiros, apenas 0,9 não são livros didáticos (dados UNESCO) portanto, faltam livros na nossa mesa.

Faltam metáforas nas nossas insignificantes vidas dessa ¨Sociedade do Espetáculo¨, tema tão bem abordado por Guy Debord que apesar de Marxista, dentre outros autores, citou Freud, a obra Publicada em 1967 foi republicada no Brasil pela Contraponto editora em 1997.O livro tem como ponto central de sua teoria que a alienação é mais do que uma descrição de emoções ou um aspecto psicológico individual. É a consequência do modo capitalista de organização social que assume novas formas e conteúdos em seu processo dialético de separação e retificação da vida humana. E mais uma vez a pergunta que nunca quer calar: afinal, qual o legado que deixaremos ao que virão?

Quais os autores da nossa época que conhecerão a posteridade ?

O que teremos a dizer quando a nossa presença não mais desenhar, na terra, a planta de nossos pés?

Acho que é hora de pensarmos sim, sobre e o que realmente faremos com a nossa condenação ao pensar.

E o que buscamos além da volátil fama nas redes sociais com nossos textos?

Joaquim Moncks meu padrinho em 1992 na CAPORI - Casa do Poeta Rio-Grandense, desde a época do Orkut realiza um trabalho que poucos ou nenhum escritor executa: tornar sua obra factível de críticas, consultas, interlocuções e possibilidade de leitura e estudo aos que por algum motivo não têm acesso aos livros.

Quando criamos um canal de interlocução ao pé de um texto atingimos positivamente muitas pessoas e vamos muito além do exercício da confraternidade que o poetinha sempre buscou: vivificamos nosso exemplo, principalmente aos jovens que nos acompanham, vivificar é não apenas se utilizar das palavras que em muitos casos, provêm do ego e sendo assim, não frutificam, atendem à necessidade primaria da vaidade e se volatizam.

Quando geramos a interlocução somos o exemplo do que escrevemos e assim fertilizamos a palavra e isso é fazer literatura. Isso é fazer cultura!

A cultura não pode ser pura, ela tem que ser miscigenada e sempre mutante, acatar as diferenças. Quem pretende segurar pra si o conhecimento é o mais pobre dos pobres e está fadado ao fracasso e a morrer do próprio veneno.

Por isso admiro cada vez mais o poetinha, que um dia me chamou de irmã-poeta e por ignorância ou por achar que não mereço, não o compreendi. Ainda falta muito JM para que eu seja sua irmã poeta, mas a gratidão pela sua generosidade e confraternidade será eterna.

Gratidão por ter me mostrado que sou também uma condenada. Às vezes dói, confesso, mas nunca foi inútil. Obrigada amado (plagiando você).

* Nota: mantive este texto publicado na forma original, ou seja, uma interlocução ao texto OPORTUNAS REVELAÇÕES de Joaquim Moncks. A interlocução foi tão forte que, após transpiração, o transformei em artigo e ainda tento uma forma estética "definitiva". Afinal, como aprendiz das letras, sempre haverá algo a ser corrigido, melhorado, experimentado.