MADAME BOVARY E A FIGURA DA MULHER NO SÉCULO XIX

Madame Bovary, uma das obras mais consagradas e polêmica escrita por Gustave Flaubert no século XIX, mais precisamente em 1857, é um marco na literatura, um livro que e mudou completamente a forma de escrever da época, um romance precursor do movimento realista na Europa. Madame Bovary narra a história de uma mulher comum, Emma Bovary é uma mulher insaciável, inteligente e bela, mas é obrigada a casar com um apático e passivo médico Charles Bovary, um homem fracassado e medíocre de uma pequena cidade do interior da França e desperta nela todos os sentimentos contrários aquilo a que havia idealizado durante a mocidade. Ela vive em um constante estado de opressão, onde as sonhadas diversões urbanas que ela imaginava nunca são concretizadas. Sua vida vai ficando cada vez mais monótona e ela começa a se arriscar em aventuras muito mais sérias.

A narrativa é suave e admirável, rica em detalhes e objetividade, o que faz da obra uma preciosidade que obtém o merecido rótulo de ser uma das melhores do século XIX, pois a narração parte de uma experiência do escritor, médico de profissão, escritor por vocação que estando em Rouen, perto de Paris, toma conhecimento do suicídio de uma jovem senhora, que depois de ter levado o marido à ruina ingere arsênico e falece. Flaubert este durante oito anos pesquisando a vida desta senhora e como requer o romance realista, em posse de dados muito próximos da realidade escreve este romance.

O romance é um fiel retrato de uma sociedade adoecida e sem rumo, onde a crise moral estabelecida gera a insatisfação do indivíduo que busca um sentido para a futilidade da existência, bem como, a imagem definida pela submissão e resignação da mulher dentro desta sociedade. Flaubert descreve, em seu romance, descreve a figura de uma mulher dissimulada que quer satisfazer seus desejos. Porém, ela sente-se oprimida e busca na morte a solução de seus problemas.

Entretanto, o romance seria aquilo que é dado à consciência do leitor. O texto por sua vez, desvencilhou-se das amarras estruturalista/ funcionalista que atribuíram exclusivamente à textualidade as chaves para a interpretação de uma obra. A partir de novas abordagens da linguagem (pragmática, teoria da enunciação, análise do discurso), que passaram a considerar enfaticamente a relação linguagem-sociedade, o que levou o texto a deixar de ser mera organização linguística que “carrega” ou que “transmite” pensamentos, informações ou ideias de seu produtor. Contudo, a linguagem passou a ser entendida, nos estudos lingüísticos contemporâneos, como capaz de traduzir todas as intenções dos falantes, pois o leitor é o principal elemento da estética da recepção cujo princípio é recuperar a experiência de leitura e apresentá-la como base para se pensar tanto o fenômeno literário quanto a própria história literária.

O texto foi criado a partir de um conjunto de pressuposições de um público. Ele o faz transformando o modelo feminino evocado no horizonte de expectativa de seus textos no avesso do horizonte de expectativa do leitor, através da caracterização de heroínas cuja aparência assemelha-se às das heroínas românticas, mas que são levadas pela luxúria, tornando-se mulheres adúlteras que abandonam o casamento, os filhos e sua posição social. Não se trata, para ele, simplesmente de ver a história como sucessão de obras que tenham alcançado um ápice estético no interior de um sistema, mas no mesmo critério: a inovação da obra literária.

Dentro da estética da recepção o valor estético de um texto é medido pela recepção inicial do público, que o compara com outras obras já lidas. Em suma, trata-se de uma estética fundada na experiência do leitor.

No âmbito da literatura e da crítica literária, a mulher vem figurando entre os temas abordados. A crítica literária feminista é profundamente política na medida em que trabalha no sentido de interferir na ordem social. O status desses textos também se modifica, o que força certa reformulação dos critérios que estabelecem o que é o que não é literatura. Trata-se de ler a literatura confessadamente empenhada, voltada para a desconstrução do caráter discriminatório das ideologias de gênero, construídas, ao longo do tempo, pela cultura.

Ler, portanto, um texto literário tomado como instrumentos os conceitos operatórios fornecidos pela crítica feminista implica investigar o modo pelo qual texto está marcado pela diferença de gênero, num processo de desnudamento que visa despertar o senso crítico e promover mudanças de mentalidade, ou por outro lado, divulgar posturas críticas por partes dos escritores em relação às convenções sociais que historicamente, têm aprisionado a mulher e tolhidas seus movimentos. No que se refere a posição da mulher e sua presença no universo literário, essa visão deve muito ao feminismo, que pôs a nu as circunstâncias sócio – históricas entendidas como determinantes na produção literária difundido na literatura, constitui-se num considerável obstáculo na luta pelos direitos da mulher.

O objetivo é a transformação da condição de subjugada da mulher. Trata-se de tentar romper com os discursos sacralizados pela tradição, nos quais a mulher ocupa, à sua revelia, um lugar secundário em relação ao lugar ocupado pelo homem, marcado pela marginalidade, pela submissão e pela resignação. A crítica feminista trabalha no sentido de desconstruir a oposição homem/mulher e as demais oposições a esta, numa espécie de versão pós-estruturalismo.

Dentro de sua obra, o autor define tipos diferentes de mulher que caracterizam o perfil para aquele período, a mulher sujeito, marcada pela insubordinação aos referidos paradigmas, por seu poder de decisão, decisão e imposição. E a mulher objeto, é definida pela submissão, resignação e falta de voz.

Através deste romance, a mulher começa a usar a literatura como uma arte, não como um método de “expressão pessoal”. A necessidade de ser masculinamente feminina e femininamente masculino para que a arte se realize e comunique experiência com integridade. Essa revolta das mulheres escritoras dos séculos XVII e XVIII, espécie de “ervas daninhas” a enredar-lhes o talento, consistiu no principal empecilho à emergência de uma literatura de autoria feminina a que se pudesse atribuir valor. Ela é representada a partir de repetições de estereótipo culturais, como por exemplo, o da mulher sedutora, perigosa e imoral, o da mulher como megera, o da mulher indefesa e incapaz e, entre outros, o da mulher como capaz de se sacrificar. No patriarcalismo, toda instituição social concentrava-se na figura de um chefe, o patriarca, cuja autoridade era autoridade era preponderante e incontestável. Esse conceito tem permeado a maioria das discussões, travadas no contexto do pensamento feminista, que envolvem a questão da opressão da mulher ao longo de sua história.

Entretanto, o feminismo mostra a natureza construída das relações de gênero, além de mostrar, também, que muito frequentemente as referências sexuais. No entanto, o feminismo organizado só entrou no cenário da política pública dos Estados Unidos e na Inglaterra por volta da metade do século XIX, por meio das competições que reivindicavam o sufrágio feminino e das campanhas pela igualdade legislativa, pois esta tese defende a ideia de que as mulheres devem ter todos os direitos que o homem tem ou quer para si, inclusive o de propriedade e de liberdade de expressão em contrapartida, como o pagamento de impostos, a punição por crimes cometidos e o cumprimento de todos os deveres públicos cabíveis a um cidadão comum.

Como consequência dessa primeira onda de feminismo, muitas mulheres tornaram-se escritoras, profissão até então, eminentemente masculina; mesmo que para isso tenham tido que se valer de pseudônimos masculinos para escapar às prováveis retaliações a seus romances, motivadas por esse “detalhe” referente à autoria. Existem dois tipos de feminismo, o Feminismo Liberal defende uma sociedade em que homens e mulheres tenham direitos iguais e oportunidades, já o Feminismo Socialista defende a tese de que a liberação feminina está atrelada a uma sociedade socialista, em que os princípios igualitários se estendem à sociedade como um todo.

Contudo, Gustave Flaubert formulou uma crítica social muito contundente. Com seu estilo impessoal, ele soube fazer do adultério de Emma algo sórdido e ao mesmo tempo belo. Madame Bovary, vem meio que sem querer, traduzir o início da emancipação feminina e como essa liberdade, se usada sem idoneidade, pode se transformar em desastre. Desde o início do livro a descaracterização da idealizada mulher Romântica é evidente.

O romance deixou os ânimos dos leitores europeus exasperados com suas doses de sexo, melancolia, ironia e emoção. Flaubert deixou claro que o livro é a retratação fiel da errônea sociedade burguesa com seus hábitos pouco louváveis e sua ostentação moral falsa. Com isso, a obra foi considerada, naquela época, como algo subversivo rendendo vários processos contra Flaubert, porém em todos, o autor venceu todos esses processos.

Ao longo do tempo, Madame Bovary tornou-se uma obra de grande influência para todas as mulheres do mundo todo na luta pela sua liberdade e conquista pelos mesmos direitos iguais dos homens mostrando que toda mulher pode ter o seu espaço dentro da sociedade exercendo os mesmos trabalhos e ocupações deles como vêm acontecendo nos dias de hoje.

Abdul
Enviado por Abdul em 07/11/2010
Reeditado em 04/04/2016
Código do texto: T2601551
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