O ÚLTIMO ATO DE LUIS SUÁREZ NO GRÊMIO

 

     Um gol em que se ganha da defesa e se dribla o goleiro é sempre um tento lindo e é difícil imaginar que outro em seguida possa superá-lo. E não costuma ocorrer isso pelos nossos gramados. Mas o que sói não acontecer em circunstâncias normais não é condizente com a estrela de Luis Suárez, o Pistoleiro, o craque, o diferenciado, o gênio charrua.

     E não é que algo a mais aconteceu no jogo contra o Fluminense, o campeão da América, depois mesmo daquele fantástico gol de Suárez? Pois é, ocorreu mais um ato de maestria desse menestrel da bola, desse magistral artilheiro. Ele sofreu um pênalti e se encaminhou para bater. Ora, um gol de pênalti é apenas mais um gol de pênalti, uma espécie de obrigação do batedor para uma improvável defesa do goleiro. Então, converter seria a consequência natural do chute. Como um “papai e mamãe” das lides futebolísticas. Seria, se não fosse com Suárez.

     Ele correu para a bola e deve ter pensado em fazer uma finalização como a que Picasso teria feito em “Guernica”, nenhuma tinta a mais nem a menos. Ou como se pode especular sobre a última nota de Mozart em “A flauta mágica”. Ou talvez como a última frase de um soneto de Vinícius de Morais. A última entrada em cena de um artista naquela temporada de magia e saudades.

     Suárez correu para a bola e a assoprou com os pés. Ela saiu leve como um passarinho autoconfiante em seu primeiro voo, como se as plumas o precedessem. O goleiro foi para o lado para fazer jus ao seu ofício. A bola foi devagar, desafiando a lei da gravidade, como se fosse indo observando a paisagem, rumo ao meio da meta. Foi morrer na rede mansa e feliz consigo mesma.

     Suárez, superando a si mesmo, encenou seu último ato e saiu de cena para entrar na história pessoal de cada um de nós, os gremistas, esses seres incorrigíveis e apaixonados.

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 20/12/2023
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