Dane-se a rainha

Ou foda-se a rainha.

Ou keep calm e foda a rainha.

Ou Salve-se, rainha.

Não é à toa que o Brasil vem a ser uma potência no futebol. Para a prática do esporte, são necessários poucos equipamentos, diferentemente do beisebol, por exemplo, que exige no mínimo um taco, uma luva e uma bola, além de um campo em forma de diamante. Ou do polo, que requer um cavalo. Os tais “equipamentos” do futebol nem precisam ser “equipamentos” de verdade, bastam um par de chinelos para servir de traves – ou pedras mesmo – e algo que se assemelhe a uma esfera, que pode variar de uma tampa de garrafa a uma bola de verdade cheia de carimbos e testes do Inmetro. Graças ao caráter flexível quanto à logística do esporte, o futebol acabou sendo o preferido dos brasileiros, principalmente aqueles de classes mais baixas.

Assim, muitos dos jogadores que já ganharam inúmeros título - e tudo o mais que eles podem proporcionar - na modalidade são brasileiros. Ronaldo, hoje um milionário graças à bola, tentou comprar um sofá para sua casa com seu primeiro salário como jogador. Não conseguiu, mas o dinheiro foi suficiente para adquirir um forro para o móvel improvisado que havia em sua residência, no subúrbio do Rio de Janeiro. São informações de sua biografia oficial. Milionário por causa de seu sucesso no futebol, que lhe rendeu dividendos também sendo garoto propaganda de diversos produtos e serviços, desde iogurte - num comercial em que aparecia cercado por crianças - a cerveja, num contrato que assinou ainda menor de idade. Ronaldo chegou a estrelar, no início dos anos 2000, uma campanha do Governo Federal para elevar a autoestima do brasileiro.

A história e a imagem de quem venceu na vida com uma habilidade acima da média no futebol é comum na cabeça – ou seria no coração? – dos brasileiros. Apesar de recorrente, não parece se desgastar. Como o país é atingido periodicamente por escândalos de corrupção, difícil enxergar algum político como herói. Além disso, com escolas e hospitais longe do padrão Fifa, como acreditar que se pode crescer na vida, evoluir, sem um dom especial? Desse modo, o futebol age de forma intensa no imaginário e no sentimental do povo, principalmente em ano de Copa do Mundo.

O futebol para cidadãos de países emergentes funciona como a metáfora do menino pobre, sem brinquedos, mas que é feliz com sua bola e causa inveja ao menino rico. Lógico que o riquinho pode jogar bem mesmo sem ter O dom e pode ir ate melhorando com o tempo, mas será a mesma coisa? Óbvio que um dia os EUA poderão vencer uma Copa do Mundo, logo eles que jogam futebol com as mãos, com uma bola oval e vestindo uma armadura. Porém, não será a mesma coisa. Afinal, é bem mais divertido ver a Costa Rica, o Chile e a Colômbia fazendo gols, dançando, vencendo, cantando, chorando. Uma festa é bem mais divertida com os amigos barulhentos do que com os conhecidos frios e distantes. Além disso, duvido que os reis joguem futebol.

Já bastou a colonização e a exploração. Agora deixem a bola, a alegria e a taça com a gente.

É hora de dar tchau, Inglaterra (1).

Hasta la vista, Espanha.

(1) Faz-se referência ao cumprimento dado pelos Teletubbies ao final de cada episódio. Cabe lembrar que são uma criação inglesa.