Exploração Padrão Fifa

Quando chegamos ao Ensino Médio, um dos primeiros assuntos que vemos em História do Brasil é a descoberta e a posterior colonização do País. Colonização essa que, diferentemente de nações norte-americanas como EUA e Canadá, teve como princípio a exploração dos recursos naturais existentes. Como aprendemos anteriormente, ainda crianças, nosso país recebeu o nome de Brasil graças ao pau-brasil, árvore que era abundante por aqui cerca de 500 anos atrás. Depois, nos é passado também que as cores da bandeira nacional se devem aos elementos florestas (não tão abundantes hoje) e ouro (também em quantidades bem menores atualmente), por exemplo. Porém, enquanto que a história quanto à nomenclatura é verdadeira; a segunda, não.

Na verdade, a cor verde liga-se à Casa de Bragança, da qual fazia parte D. Pedro I. Enquanto isso, o amarelo representava a Casa de Habsburgo, da qual pertencia D. Leopoldina. Nada poético quando o que se aprende tradicionalmente nas escolas nem nada glamuroso quanto às casas da saga Harry Potter.

Voltando ao verde e ao amarelo, enquanto o primeiro é devastado pela expansão da fronteira agrícola - principalmente para o plantio de soja -, pela pecuária e pelas madeireiras, o que sobrou do segundo foi entregue ao capital internacional com a privatização da Vale do Rio Doce em 1997. Lembremos que rumores decretaram a falência da Vale, mas, curiosamente, ela passou a dar lucros exorbitantes logo após sair do controle estatal. Haverá o desejo de fazer o mesmo com a Petrobrás?

Enfim, diante de tais acontecimentos, pode-se concluir que o Brasil vem sendo uma colônia de exploração ao longo de seus mais de 500 anos de história. Só muda a metrópole. Ou as metrópoles. Nos últimos dois anos, mais um explorador surgiu.

No ano passado, com a realização da Copa das Confederações no Brasil, surgiu a expressão “Padrão Fifa”, em que tudo devia (ou deveria) estar de acordo com uma série de regras estabelecidas pela entidade. Algumas determinações, como abolir a rede estilo “véu de noiva” no Maracanã ou não permitir que o estádio de Brasília continuasse se chamando “Mané Garrincha”, foram muito criticadas. A Fifa não cedeu, disse que havia a necessidade de padronizar. Padronizar tudo até deixar todos os estádios iguais, acho que ela queria dizer. Acabar com a magia do Maracanã, por exemplo, foi um dos feitos. Algo que chamou muito a atenção também foi o fato de ser possível consumir bebidas alcoólicas dentro de estádios em jogos da Copa, algo que vai contra o que vinha sendo praticado no Brasil há alguns anos.

Vejamos abaixo outras ações do Padrão Fifa de Exploração

1) A bola

Já começa errada pelo nome. Sendo derivado de Brasil, por que Brazuca com –z? Só para ficar mais atrativo ao estrangeiro?

Enquanto ter uma Brazuca igualzinha a que é usada na Copa do Mundo custa certa de 400 reais, um operário paquistanês recebe, por mês, o equivalente a 220 reais para fabricá-las. Tudo porque a Adidas, multinacional alemã, terceiriza sua produção e opta por fabricar seus produtos em países como China, Índia, Indonésia etc.

Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/trabalhadores-que-produzem-a-bola-da-copa-ganham-r-220-por-mes/

2) O mascote

Era comum os colonizadores levarem espécies das terras recém-descobertas para a metrópole. A extinção de muitos animais já se encaminhou a partir daí. Porém, o caso em questão foi diferente. O tatu criado pela Fifa apareceu como uma espécie invasora e não agradou os brasileiros.

O mascote de outras copas caiu no gosto popular, mas o mesmo não se pode dizer a respeito do tatu Fuleco. O próprio nome do personagem recebeu críticas, dentre outros motivos por lembrar a palavra “furreca”, que significa algo tosco, feito sem capricho. Havia uma proposta de preservação ambiental por trás da imagem do tatu-bola polêmico, pois a Fifa destinaria parte de seus lucros para uma ONG responsável pela defesa do animal da fauna brasileira, mas isso não ocorreu da forma mais conveniente, visto que a quantia oferecida pela Fifa chegou a ser considerada simbólica se comparada aos lucros que a entidade vem obtendo com a Copa no Brasil.

Fonte: http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/06/17/por-que-o-fuleco-anda-sumido-da-copa-a-fifa-tem-os-seus-motivos.htm

3) Os voluntários

Recentemente, alcançou repercussão na mídia o fato de imigrantes ilegais bolivianos estarem trabalhando em regime análogo à escravidão em oficinas de costura na cidade de São Paulo. Para piorar a situação, descobriu-se que esses empreendimentos produziam peças para grandes lojas de grife, que conseguiam, graças à exploração, altos lucros com a posterior venda. Algo semelhante vem sendo praticado pela Fifa com os “voluntários”.

Voluntários que trabalham sem ganhar nada, enquanto a Fifa, as confederações, as redes de Tv e os jogadores enchem os seus cofres com o torneio. O Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro chegou a entrar com ação exigindo que os voluntários fossem contratados com carteira assinada, algo que foi rechaçado pelo COL (Comitê Organizador Local).

Fonte: http://espn.uol.com.br/noticia/415824_ministerio-publico-pede-suspensao-de-trabalho-voluntario-para-a-fifa-na-copa

4) Pagode da Fifa?

Além de “pagode”, a Fifa conseguiu o direito de exclusividade de outras 48 palavras. A maioria delas ligada à Copa do mundo 2014, como o uso do nome de cada uma das sedes mais o numeral 2014. E o que cada cidade que abrigará jogos da competição ganha com isso? Lógico que há lucros diretos e indiretos, mesmo quando esses números são comparados aos gastos existentes na (re)construção de estádios como o Maracanã e o Itaquerão, mas não deixa de ser mais um vetor da Exploração Padrão Fifa. Tal qual na época da colonização, equivale a trocar um espelhinho por uma pepita de ouro.

Fonte: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/alem-de-pagode-estas-48-palavras-sao-da-fifa-e-so-dela

Cabe lembrar que tais ações da Fifa não têm como destino exclusivo o Brasil. Apesar de a Alemanha – país pertencente ao grupo dos mais ricos do mundo – ter sediado a Copa em 2006, há uma tendência de o torneio ocorrer em nações emergentes ou com democracias ainda pouco sólidas. Basta observar que a competição passou pela África do Sul em 2010 e irá para a Rússia, 2018, e Catar, 2022.

Existe uma desculpa ideológica para esse tipo de escolha, pois com o rodízio de continentes instituído para a Copa do Mundo, haveria assim uma espécie de missão humanitária da Fifa ao levar o desenvolvimento por meio do futebol para diversas partes do planeta. Porém, basta observar o caso brasileiro, com educação e saúde falidos, para chegar à conclusão de que tudo não passa de desculpa mesmo.

Quanto ao caso africano, apesar de a competição ter exposto um outro lado da África para o mundo, com um povo alegre, unido e sinônimo de superação, o legado não foi de todo positivo. Alguns estádios, por exemplo, estão praticamente inutilizados atualmente. Ficou o prejuízo, prova de que a nação não estava totalmente apta para abrigar o torneio, até porque o mesmo vem acompanhado de uma série de regras que mais beneficiam a entidade máxima do futebol do que qualquer outro órgão. Diante disso, será que alguma nação desenvolvida aceitaria as condições impostas pela Fifa?

Vale voltar no tempo. A Copa de 86 seria realizada na Colômbia, mas, devido às condições econômicas ruins que enfrentava, o país sul-americano resolveu não aceitar o que era imposto pela Fifa e desistiu da empreitada. Chegou-se a cogitar o Brasil, mas o contexto pro aqui não era muito diferente. Assim, a bola da vez foi o México.

Atitude desse tipo não foi privilégio da Colômbia. A Suécia desistiu de se candidatar para sediar as Olímpíadas de Inverno de 2022. O país alegou que os custos seriam altos demais e que há outras prioridades de investimento. Bem que o Rio de Janeiro podia tomar o caso sueco como exemplo, mas isso é assunto para outro texto.

Para finalizar, vale dizer que Fifa, além dos altos lucros, terá outros benefícios com a Copa no Brasil. Isenta de pagar 1 bilhão de impostos, o arrecadado com o torneio por aqui em 2014 será o dobro do que foi obtido em 2006, na Alemanha.

Para tentar acalmar os ânimos da população, que teima em protestar nos dias de jogos do Mundial – ainda por cima próximo aos estádios -, alguns órgãos de mídia vêm dizendo que não teremos outra oportunidade do tipo por aqui tão cedo. Será? Com tantos privilégios, capaz de a Copa voltar em breve, mas... I am not glad you came.