RIP, Maracanã

Confesso que fui poucas vezes ao Maracanã. A primeira, curiosamente, não foi para um jogo de futebol, mas para fazer a primeira fase do exame de admissão ao Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica) em 1999; eu tinha 15 anos. Enquanto me dirigia ao local determinado em meu cartão de inscrição, andando pelos corredores, olhava tudo ao meu redor: era um misto de cinza, escuro e feiura... o local tinha um aspecto de abandono e de degradação tão grande que fiquei chocado. Olha que eu morava na Fazenda Botafogo.

Porém, quando saio dos corredores e vou para as cadeiras, onde faria a prova, vejo o campo. Nunca havia sentido algo igual, era um carinho para os meus olhos, como um perfume, como música, como meu doce preferido. Sentei e fiquei olhando, olhando... tinha que fazer isso o tempo todo, a imensidão do Maraca não era captada de uma vez. Amor à primeira, segunda e terceira vistas.

Anos depois, fui mais uma vez ao Maracanã. O jogo era Brasil VS Equador pelo Pan de 2007. O Brasil, com uma seleção sub 17, perdeu. E daí? Mais uma vez, meus olhos ficaram felizes. Eu tive que fechá-los, senão pulariam para fora de alegria. Ficava imaginando como seria o estádio em jogo do Botafogo, meu time do coração. No entanto, quando voltei lá, foi para um jogo do Fluminense. Não, não mudei de time, só queria ver mais uma vez um novo amigo. Um novo amigo ou uma nova paixão? Os dois.

Após um tempo, lá vou eu de novo. O jogo? Final do Carioca de 2010, Botafogo vs Aquele que não deve ser nomeado. Ver o Maracanã numa tarde de sol, num jogo do meu time do coração... Olhos, ouvidos, coração, pernas, garganta, todos querendo pular para forma de uma só vez. Falência múltipla dos órgãos? Uma tarde de loucura e desgraçadamente feliz. O Botafogo venceu Você sabe quem por 2 a 1 e levou o título. Com vergonha, fechei os olhos, o sal que eu prendia poderia tirar a doçura do momento. Quando olho em volta, o cenário era de família e amigos abraçados, todos aos prantos, sim, tínhamos vencido o Império do mal após três anos de derrotas consecutivas no Maior do Mundo.

Depois dessa, voltei outras vezes lá, nenhuma foi tão feliz, mas todas foram impactantes. Nunca me benzi quando passava em frente a uma igreja, mas sempre o fazia quando entrava no Maracanã. Juro que sempre foi espontâneo. Com tristeza, fiquei sabendo que esse amigo e paixão ficaria fechado por dois anos (ou mais), reformas para a Copa de 2014. Reformas ou reconstrução? Eu tinha que ficar tanto tempo longe de alguém que acabara de conhecer?

E ele ficou pronto. Só que não é mais ele.