Com Hexa a gente não contava...

Dia 11 de julho teve encerramento mais uma Copa do Mundo. Um certame de escores magros, de posicionamentos defensivos e de pouca, muito pouca, criatividade.

A Espanha conquistou seu primeiro título mundial. Entrou para o seleto grupo das nações campeãs, embora tenha apresentado um desempenho não muito brilhante.

Esta Copa foi uma passarela sem muito glamour. Jogadas ríspidas, esquemas táticos pouco arejados, nada que lembrasse o futebol-arte do Brasil dos anos 70 ou o “carrossel holandês” de 74 e 78.

Para não ser tão drástico assim, pode-se citar algumas boas surpresas como a garra e a eficiência da seleção uruguaia e o competitivo futebol da Alemanha, numa mescla de veteranos e jovens promissores.

O Brasil, contestado na pessoa de sua comissão técnica, levou à competição um grupo de atletas que se legitimaram mais pela fama de atuarem em clubes europeus do que pela exuberância de seu futebol.

Alguns, pelo peso da idade, não retornarão mais aos gramados em 2014, forçando a uma salutar renovação de jogadores e concepções técnicas e táticas.

O técnico Dunga , diante do fracasso, pediu sua exoneração, embora possa apenas ser parcialmente culpado pelos resultados. Ele insistiu em convocar um time de poucas peças criativas e dar a titularidade a elementos sem maior controle emocional. A faceta positiva foi sua coragem de negar privilégios à determinada emissora de TV, num contexto de flagrante dominação midiática.

Atualmente, não podemos nem tripudiar mais sobre nossos “hermanos” argentinos. Já temos a validação de um gol de mão na Copa, vide o tento de Luis Fabiano contra os marfinenses, e uma lista bem extensa de cartões amarelos e vermelhos que nos colocam, também, como uma seleção, de certa forma, truculenta.

Em paralelo ao espetáculo futebolístico, os grandes anunciantes tiveram seu lugar de destaque. Todos, de certo modo, procuraram relacionar seus produtos com o Brasil e a Copa, embora, por vezes, ficasse evidente a inadequação. Houve até uma situação em que moças foram expulsas do estádio por estarem, supostamente, fazendo promoção de uma marca de cerveja holandesa que, naturalmente, não fazia parte do pool de patrocinadores da Copa 2010.

Assim, o futebol, principalmente para nós brasileiros, tem este dom de hipnotizar, de mascarar dilemas cotidianos e sociais. O país sofre uma parada consentida de quase um mês. O assunto predominante é o futebol, mesmo num ano claramente eleitoral.

Se somos vencedores, o orgulho nacional é exaltado, tudo parece ganhar ares de beatitude. Se perdemos, é a vergonha, a desgraça, a humilhação maior.

Diante disso, deixo meu testemunho poético sobre esta realidade que nos governa de quatro em quatro anos. Reflito um pouco em cima das idéias do antropólogo Roberto da Matta, que genialmente analisou o “jeitinho” brasileiro, as relações de compadrio e o uso das façanhas nacionais para insuflar patriotismo. A poesia calcada no nível emocional e intuitivo diz isso e algo mais. Fiquem com ela:

Em tempos de Copa

Verde &

amarelo

duas cores

no horizonte do país.

A Pátria para

os sentidos quase.

Hipnose.

Pausa para a fome

a farsa política

a fúria da morte

banalizada.

90 minutos.

Finda a partida

a vida

reassume sua face

fatal...

Ricardo Mainieri
Enviado por Ricardo Mainieri em 19/07/2010
Reeditado em 19/07/2010
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