A falácia da valorização da educação

Quantas vezes tenho ouvido, ou lido, pessoas afirmarem que o futuro do país passa pela educação? Perdi as contas. É tanta gente! De famosos a anônimos comentando sobre a importância que devemos dar à escola, a fim de proporcionar uma boa educação para a população.

Como consequência, aparecem as mais diversas opiniões de como deve ser o ensino no Brasil, e, não poderia deixar de ser, algumas delas sugerem copiar o modelo de ensino de algum país da América, da Europa ou da Ásia. Cita as vantagens que podemos ter caso venhamos a adotar as políticas educacionais de alguma nação cuja cultura e realidade são bem diferentes das nossas. "Cuba é o único país latino-americano a atingir os objetivos propostos pela Unesco", diz um socialista. "Precisamos de uma educação que prime pela eficiência como a dos japoneses", comenta um capitalista. "A Finlândia tem o melhor ensino do mundo", fala alguém que se acha isento de ideologia.

Enfim, parece que estamos unidos no desejo de promover uma educação de qualidade para todos. Pois é, só parece! No fundo, pelo que temos visto ao longo dos anos, a maioria da população sequer tem debatido seriamente o problema do ensino no Brasil. Por mais que haja um discurso favorável à educação, a prática do cotidiano demonstra que a desprezamos. A ciência e a cultura não são prioridades.

As pessoas não estudam a fim de adquirir conhecimentos pelo prazer de aprender. Elas apenas procuram aprender o suficiente para ocupar um posto no mercado de trabalho. Se for para alcançar uma promoção, um cargo mais elevado, que exija mais conhecimento (técnico), sem dúvida, fazem um esforço a mais para obter um aprendizado numa área de atuação. Infelizmente, num capitalismo arcaico-subdesenvolvido, existente no Brasil, querer estudar muito é quase que cometer um crime. Ou melhor, é tachado de louco. Como certa vez um aluno numa escola expressou: " Pra quê estudar muito, professor? Estudar só enlouquece a gente".

Não culpo as pessoas por ter essa mentalidade tão vil e desprezível. Desenvolvemos uma cultura de não querer possuir mais cultura. Dessa forma, milhares de indivíduos são desincentivados a aprender. A escola e os professores, que são símbolos de conhecimento, acabam por serem desprezados e considerados indignos de respeito. Daí, podemos perceber por que o magistério é tão mal remunerado, mesmo após tantos anos de estudo. Por que professores sofrem violência dentro e fora das escolas. Se não são agredidos por pretensos estudantes, apanham da polícia a mando do Estado.

Muita gente acha que professor ganha bem até demais. Não fazem a mínima ideia do que é estar numa sala de aula, onde uma maioria vem dessa "tradição" de não se importar muito com o estudo. É aquela coisa: se a pessoa não tem predisposição em aprender, não há muito o que fazer para que aprenda. Eis aí a missão dificílima do professorado: mostrar a importância de aprender!

Além disso, o Estado entende a educação como um gasto. Não vê como um investimento. Podemos concluir como fato, quando olhamos a maioria dos prédios, sem estrutura adequada, que abrigam milhares de estudantes afora; quando administradores se negam a pagar salários descentes aos profissionais da educação...

São exposições feitas para refletirmos sobre o que queremos de fato, quanto à educação. Nosso discurso é lindo, mas, e nossa conduta? Queremos mesmo melhorar a educação?