DIFICULDADES NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

RESUMO

O objetivo deste artigo é a contribuição para um correto diagnóstico das mais variadas formas de dificuldades de aprendizagem utilizando-se de uma metodologia que seja capaz, de modo ordenado, de identificar as dificuldades inerentes ao educando. Este trabalho, que tem como metodologia a pesquisa bibliográfica, se propõe a demonstrar tais assertivas dentro dos seguintes pontos, a saber, uma breve introdução para nortear os rumos deste artigo; a psicopedagogia na educação; como eles aprendem e as soluções psicopedagógicas para as dificuldades de aprendizagem; a anatomia do problema: quais são essas dificuldades; considerações finais e referências. Este trabalho pretende demonstrar os atuais rumos da psicopedagogia como ciência que contribui para a construção da ponte da resolução de um problema bem recorrente nas escolas em geral entre as instituições de ensino e a família, parte não paliativa, mas fundamental para os primeiros rudimentos da cognição infantil, refletindo que o papel principal não é da escola, porém esta deve atuar como coadjuvante eficiente junto com a família, ajudando a elucidar, educar e aplicar métodos que venham a apoiar na educação das crianças.

PALAVRAS-CHAVE: Psicopedagogia. Diagnóstico. Dificuldades. Aprendizagem.

1. Introdução

O que são e como podem ser identificadas as dificuldades de aprendizagem (DA)? Pode-se mensurar, durante o processo de aprendizagem, as dificuldades existentes e de que tipo são? Este artigo propõe-se à uma análise geral de cunho informativo sobre as dificuldades que estão presentes no dia-a-dia do educador e que na maioria das vezes o mesmo não dispõe de um suporte que venha ao encontro de suas dúvidas, com vistas à elucidação e consequente resolução de problemas muitas vezes tidos como insolúveis no ambiente escolar.

Como introdução a este assunto, utilizou-se da experiência de autores portugueses para que possa ser demonstrado que tais problemas são mais comuns do que se possa supor. Segundo dados dos autores Luís de Miranda Correia e Ana Paula Martins sobre os índices da população estudantil nos últimos 20 anos, esse problema tem se mostrado quase que exponencialmente. Conforme os autores,

Nos últimos 20 anos o número de alunos com dificuldades de aprendizagem (DA) aumentou consideravelmente tendo passado, em Portugal, de umas dezenas de milhar para mais de uma centena de milhar. Atualmente, estes alunos constituem cerca de metade da população estudantil com necessidades educativas especiais (NEE) (CORREIA, 1997).

Segundo o estudo, tal situação tem contribuído e muito com vários dos problemas futuros enfrentados por esses alunos e toda a sociedade como um todo, sendo esse um dos principais fatores influenciantes de desvios de condutas por parte desses alunos com DA. Ainda segundo Correia,

Numa palavra, o apoio que estes alunos necessitam, de acordo com as suas necessidades e características, é praticamente inexistente e, em muitos casos, é-lhes até nocivo, criando situações futuras em que a delinquência, a toxicodependência, o alcoolismo e o desemprego prevalecem. (CORREIA, 1997, p. 4)

Do mesmo modo como ocorre nas escolas portuguesas, os alunos aqui no Brasil têm seguido a mesma linha comportamental e necessitado dos mesmos cuidados, da mesma necessidade por parte da psicopedagogia de um estudo que possa oferecer uma saída para os baixos índices de aproveitamento elevando assim a excelência educacional nos estudantes brasileiros.

2. A psicopedagogia na educação

A psicopedagogia institucional visa apontar parâmetros onde os professores possam ter um esteio onde afirmar a sua prática pedagógica do ponto de vista de uma pesquisa elaborada e que possa ser de fato eficaz para a educação de alunos que estão no começo da vida escolar. Segundo Miriam Lúcia H. M. Dusi sobre o assunto, “A Psicopedagogia é área interdisciplinar fundamentada em conteúdos psicológicos e pedagógicos, bem como em contribuições da fonoaudiologia, linguística, neurologia, dentre outros campos específicos de conhecimento” (BOSSA, apud DUSI, 2000, p.5). Assim sendo, compete à psicopedagogia a investigação dos problemas e o estudo dos processos de aprendizagens inerentes ao educando. Ainda conforme Dusi,

Sua ação visa melhor compreensão do processo de aprendizagem humana e suas repercussões no desenvolvimento do indivíduo, identificando sua apropriação do conhecimento, evolução e fatores interferentes, propiciando o reconhecimento, tratamento e prevenção das alterações da aprendizagem que deles decorrem. (DUSI, 2006, p.5).

Não se pode, pela visão psicopedagógica, operacionalizar o descarte de quaisquer que sejam as hipóteses sobre o comportamento do educando tanto dentro como fora do ambiente escolar sob pena de se perder algumas características do mesmo que poderão servir de luz para a compreensão de como o aprendizado chega até ele. Para respaldo de tal assertiva, segue o estudo de outras autoras, Andrea Regina Teixeira e Paula Mariza Zedu Alliprandini, respectivamente da Prefeitura de Cambé, Paraná e da UEL-PR. Conforme as autoras,

Segundo Boruchovitch (1999), pesquisas têm sugerido que por meio do ensino das estratégias de aprendizagem é possível ajudar os alunos a exercerem maior controle e refletir sobre o seu próprio processo de aprendizagem. [...] A autora ressalta ainda que o treinamento em estratégias de aprendizagem tem sido um procedimento bem-sucedido de modo geral, pois é capaz de produzir uma melhora imediata, tanto no uso das estratégias envolvidas quanto no rendimento escolar geral dos alunos. Afirma ainda existirem variáveis que interferem em seu uso, como a ansiedade, a motivação, as crenças sobre inteligência, a autoeficácia, as atribuições de causalidade, depressão infantil e outros fatores. (BORUCHOVITCH, apud ALLIPRANDINI in TEIXEIRA, 2013, p. 2)

Como visto, os problemas de aprendizagem são o foco de uma correta abordagem onde somente a psicopedagogia possui tal prerrogativa e que sem ela não é possível avaliar o estado cognitivo de cada educando tanto em sala de aula quanto no ambiente familiar. Como a psicopedagogia tem uma forma de abordagem que contemple o todo sociológico e psicobiológico do estudante inicial, é dela a competência da avaliação com vistas a nortear o trabalho de toda a equipe pedagógico/docente/familiar. A problemática apresentada no cotidiano estudantil como um todo tem dado à psicopedagogia o esteio propício para o seu estudo. Como consta no estudo examinado, o termo aprendizagem envolve não uma parte da vida da criança, mas também o seu entorno.

Segundo Bossa (2000), o termo aprendizagem, com o qual trabalha a Psicopedagogia, “remete a uma visão de homem como sujeito ativo num processo de interação com o meio físico e social” (p.75), em cujo processo interferem seu equipamento biológico, condições afetivo-emocionais e intelectuais. (DUSI, 2006, p.5)

Seguindo na referência sobre a totalidade psicossocial abordada por esta tão pertinente ciência, é dito que é o papel da mesma a abordagem familiar para que possa haver a consolidação do que está sendo aplicado. Ainda segundo Dusi,

Bassedas e cols. (1996) ressaltam a importância de se encarar o aluno em sua totalidade, considerando os diversos sistemas nos quais está inserido, especialmente família e escola, visando harmonização dos fatores que interferem no seu processo de aprendizagem. O diagnóstico psicopedagógico passa, então, a se assentar em diversos sujeitos e sistemas inter-relacionados, como escola, professor, aluno, família. (DUSI, 2006, p. 5)

A psicopedagogia vem como luz auxiliadora para o fortalecimento dos laços entre as famílias de alunos com os mais variados tipos de dificuldades e a escola, pois não se pode pensar o fazer escolar sem a necessária intervenção de técnicas capazes de uma acurada elucidação para um diagnóstico preciso, ou pelo menos o mais próximo disso para uma completa interação e consequente aproximação do educando à instituição escolar. Como dito anteriormente (Correa, 1997), a falta de uma análise mais adequada à necessidade do educando resulta na má formação social também, e não apenas no rendimento escolar, errando constantemente o pensamento de que a escola só pode oferecer um conhecimento conteudista sem ter também a necessária participação, ou sendo melhor argumentado, a necessária projeção para uma vida social plena equilibrando a participação comprometida da família e sendo arrematado pela necessária formação escolar. Não se pode depreender que sem uma correta inserção da vida familiar para a vida social o educando possa ficar apenas com o prejuízo socioeconômico, como se vê em outro estudo dirigido por Aloízio Araújo. Segundo o autor,

Já existe pesquisa abrangente sobre diversos programas de intervenção para idade pré-escolar voltados para crianças desfavorecidas. Nesses programas foram coletados dados detalhados que permitiram mensurar os seus custos e benefícios. Os programas analisados variam tanto em termos da idade da criança no início da intervenção, quanto na idade na época da saída. Geralmente, o desempenho das crianças na escola melhora em termos de aproveitamento, nas notas escolares e no menor índice de repetição. (ARAUJO, 2011, p. 16)

Desta forma, a psicopedagogia vem desbravando um importante papel para a decodificação e consequente proposição de medidas e planos que abarquem a totalidade do estudante. Outrossim, tais medidas nem sempre encontram caminhos desobstruídos tanto para o acesso ao educando menos favorecido em situação de risco à vida escolar quanto a concretização desses projetos. Sobre isso, Araujo completa que “Infelizmente, muitas das avaliações desses programas não seguem as crianças na adolescência ou vida adulta. As intervenções que começam na mais tenra idade produzem os maiores efeitos.” (ARAUJO, 2011, p. 16) E ainda, Teixeira concorda com Araujo sobre a abrangência e necessidade da intervenção da psicopedagogia na vida escolar como forma de estancar os índices de fracasso estudantil nos anos seguintes da vida escolar da criança. Ressalta a autora que:

Estudos recentes divulgados por diversos pesquisadores confirmam os benefícios de intervenções pedagógicas e psicopedagógicas voltadas para o desenvolvimento cognitivo como forma de se evitar o fracasso escolar (Almeida, 2002; Guthrie, Wigfield, & Vonsecker, 2000; Pressley & Woloshyn, 1995; Sadler, 2001; Vauras, Kinnunen, & Rauhanummi, citado por Boruchovitch, 2004). (TEIXEIRA, 2013, p.2)

Prosseguindo, a psicopedagogia vem adquirindo uma abrangência baseada no fato de que não serão somente as crianças que precisam de um correto diagnóstico para as suas barreiras cognoscitivas e socioculturais. Conforme Paula Amaral Faria, as constantes revisões desse campo vêm trazendo o surgimento de duas vertentes distintas na aplicabilidade da psicopedagogia no contexto educacional. Segundo a autora no que respeita a abrangência da psicopedagogia e seu progresso,

As pesquisas de Miranda (2008, p. 22) apontam que a Psicopedagogia, “tributária da Psicologia e da Pedagogia, respaldou diversos trabalhos multidisciplinares sobre a aprendizagem e seus desvios, assim como ações intervencionistas embasadas, principalmente, na teoria psicogenética de Jean Piaget” (MIRANDA apud FARIA, 2011, p.5)

Como dito por Faria, os caminhos percorridos por essa ciência nova como resultado das modificações e novos percalços por que passam o ensino básico, não fixou-se apenas no esteio da educação, mas tem ido além. Ainda segundo Faria (2011), tal abrangência tem resultado no surgimento de duas vertentes para a psicopedagogia, a terapêutica e a preventiva. E explanando sobre quais sejam elas, Faria diz que:

A primeira tem como objetivo reintegrar ao processo de construção de conhecimento uma criança ou jovem que apresenta problemas de aprendizagem. A segunda tem como meta refletir e desenvolver projetos pedagógicos-educacionais, enriquecendo os procedimentos em sala de aula, as avaliações e planejamentos na educação sistemática e assistemática (FAGALI; VALE, apud FARIA, 2011, p.5).

É precisamente esse o intuito da psicopedagogia no contexto educacional. Uma vez que cada aluno irá apresentar ao psicopedagogo para ser trabalhada a sua própria dificuldade para o prosseguimento dos estudos de modo satisfatório, a psicopedagogia irá tanto monitorar os alunos que possuem problemas ao mesmo tempo em que pensa medidas que venham a prever, por assim dizer, todas as possíveis barreiras que os novos alunos a se apresentarem a partir de uma cultura formada dentro da instituição e já prossegue em um ritmo completamente – pelo menos teoricamente – adaptado às suas necessidades. Conforme é demonstrado, as duas vertentes podem ao mesmo tempo abordar o problema de forma proativa, ou seja, a psicopedagogia já não está mais presa a apenas uma forma de problema dentro da instituição de ensino, pois quando assim, por meio desta ótica unilateral, via o problema do educando apenas como sendo mais uma questão a ser resolvida sem, contudo, aparar as arestas que ficavam por serem observadas de modo mais acurado, viam seus esforços malograrem-se, conforme diz Faria sobre o início da psicopedagogia. Segundo Faria,

A priori trazemos, por meio de Mansini (2006, p. 249), que a Psicopedagogia, como área de estudos, nasceu da necessidade “de atendimento e orientação a crianças que apresentavam dificuldades ligadas a sua educação, mais especificamente, a sua aprendizagem, quer cognitiva, quer de comportamento social”. A autora descreve que, nessa etapa da história da Psicopedagogia, a criança era sempre o foco dos diagnósticos e das intervenções, o que denotava que o “problema” estava sempre focalizado na criança. (MANSINI, apud FARIA, 2011, p. 4 e 5)

Assim, tanto a psicopedagogia terapêutica quanto a psicopedagogia preventiva vêm com a proposta de criar as condições favoráveis para o educando com problemas de aprendizagem poder superar as próprias limitações dentro e fora do ambiente escolar, trabalhando seus conflitos principiando com o entendimento de quais de fato sejam eles, de que maneira esse aluno reage as mais variadas situações de aprendizado e como os pais desse aluno se comportam ante essas problemáticas. Desta forma, com a psicopedagogia sempre avançando em descobertas de como otimizar a sua ação a partir da vivência com o contexto escolar, fica cada vez mais necessária a sua atuação junto à comunidade família/escola.

3. Como eles aprendem e as soluções psicopedagógicas para as dificuldades de aprendizagem

Neste capítulo, será demonstrado o processo cognitivo por que passam os estudantes e suas características peculiares com vistas ao correto diagnóstico para cada educando. Quando se fala de leitura, efetuar operações e outras atividades escolares, muitas vezes se está falando de como o educando se vê como pessoa e de como poderá projetar-se socialmente ou não no futuro. A família, por sua vez, tem sua própria rotina e a forma como se veem refletida nos filhos que vão à escola, e tudo isso é fator preponderante para determinar que adulto se tornará aquela criança. Conforme Araujo,

Um dos maiores problemas do Brasil e provavelmente o mais grave é o péssimo status educacional da população, e isto tem sido demonstrado repetidamente por meio das avaliações do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), divulgadas pelo Ministério da Educação. (ARAUJO, 2011, p. 39)

Em um primeiro momento, não se pode surpreender-se de tais desempenhos quando se tem esse tipo de informação como termômetro avaliativo inicial do estado cognitivo e disposição do educando. Já não é de hoje a histórica característica brasileira de costumar relegar prioridades e, no caso estudado, a educação. Para se compreender um pouco mais para fins demonstrativos, o mesmo autor aponta pesquisas com números sobre esse problema. Segundo Araujo,

Não muito diferente dos anos anteriores, os resultados do SAEB para o ano de 2005 apontam que 59% das crianças finalizaram o quarto ano do ensino fundamental sem ter adquirido um grau de alfabetização razoavelmente adequado. Esses dados podem ter alguma relação com problemas sociais do país, todavia são maiores que aqueles observados em países de nível socioeconômico semelhante, e com certeza também têm relação com a quantidade e tipo de instrução oferecida, de acordo com as avaliações efetuadas pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos. (ARAUJO, 2011, p. 39)

Quais são esses quantificadores que podem identificar por que caminho deve-se percorrer para uma correta diagnose do quadro cognitivo do educando? A Seguir, demonstra-se nesse estudo os meios por que passam o conhecimento na mente de uma criança em fase estudantil e como ocorrem as dificuldades durante esse processo. Conforme o autor,

Diferentemente da fala ou da marcha, a aquisição da capacidade de leitura corresponde a um processo de complexas adaptações do sistema nervoso, que necessitam de estimulação e orientação externa, ocorrendo de modo mais lento que outros padrões citados, os quais se desenvolvem de modo muito menos dependentes do ambiente externo. (ARAUJO, 2011, p. 39)

Cada indivíduo irá manifestar a capacidade para depreender o seu entorno de modo muito peculiar, como afirma o autor do estudo, de maneira que se faz necessário a compreensão de todo o universo que compõe a vida da criança. Araujo (2011) destaca que “a aprendizagem da leitura é baseada no reconhecimento que símbolos representam unidades que quando agrupadas formam palavras e a aquisição deste conhecimento torna-se mais fácil, quando estas palavras já são de conhecimento prévio do aprendiz.” Assim sendo, quanto mais estimulada for a criança em seu próprio meio familiar, como as condições em que vive a família, a frequência de uma rotina cultural – caso haja, determinará o quanto essa criança pode juntar esses símbolos a partir da concatenação com as palavras já conhecidas pela mesma. Com esse posicionamento também concorda Dusi quando fala sobre o ciclo do contato. Segundo a autora,

O humano é um ser de relação que se coloca em contato com a sua própria natureza, com a do outro e do meio. Contato é o processo que permite a relação acontecer; a experiência humana se dá entre as vivências do indivíduo, o outro significativo e o mundo. Nem toda a interação, contudo, é contato, visto esse só ocorrer diante do novo e da diferença. (DUSI, 2006, p. 2 e 3)

Segundo essa perspectiva, será o constante relacionar-se com o novo e o inédito que proporcionará à criança uma condição de aprendizado. Uma vez que a criança pode possuir uma relação que seja saudável dentro de sua família, os processos cognoscitivos acontecem de forma natural, pois o ser humano é programado para assimilar e depreender e gerar conhecimento a partir de suas vivências. Ainda segundo Araujo sobre a formação da consciência das palavras, ele continua afirmando que:

A unidade da escrita conhecida como grafema é o correspondente da unidade sonora, denominada fonema, e esta consciência é fundamental na aquisição da leitura Esta capacidade é denominada consciência fonológica e está presente de forma estável em crianças a partir dos cinco anos de idade Este tipo de percepção representa um passo inicial para o desenvolvimento da capacidade da leitura e está associado à ativação e desenvolvimento de circuitos neurais em regiões específicas do cérebro, que desde a idade pré-escolar já se mostram presentes, localizando-se principalmente em áreas do hemisfério cerebral esquerdo. (ARAUJO, 2011, p. 39 e 40)

Como dito anteriormente, esses símbolos pela ajuda do professor e também nas interações espontâneas passam a ser codificados como sendo o endereço daquelas palavras de conhecimento prévio por parte do educando que deverão ser trabalhadas e que, seguindo de modo normal e natural, o educando não deverá ter maiores dificuldades nessa etapa importante de sua vida, no entanto, uma vez que a partir desse ponto em que o educando apresenta dificuldades para fazer essa ponte de compreensão, ou seja, de conseguir formar, a partir das mesmas palavras que ele já deve conhecer, os símbolos e entender que os mesmos possuem um nome e não o faz, se faz necessário a intervenção do psicopedagogo para ajudá-lo nessa transição. Uma vez compreendida a questão da identificação de uma criança com problema de compreensão, será dito mais adiante como agirá a vertente terapêutica da psicopedagogia. No que tange a prevenção mesmo, Faria argumenta que:

Conforme os estudos de Bossa (2000, p. 89), no que diz respeito à Psicopedagogia preventiva, “podemos dizer que o nosso sujeito é a instituição, com sua complexa rede de relações”. A partir dessa reflexão, podemos dizer que a instituição é um espaço físico e psíquico da aprendizagem, local e objeto de estudo a Psicopedagogia. Os procedimentos didáticos que interferem na aprendizagem devem ser analisados e discutidos, a fim de que possam ser ressignificados. (FARIA, 2011, p. 5)

A palavra ressignificação estará muito presente no contexto psicopedagógico. Sempre uma dada situação precisará de um novo olhar para que haja um encaminhamento para uma solução viável, sem que nenhuma possibilidade venha ser descartada. O entorno escolar é o afim de que da psicopedagogia.

O que deve ser feito quando se atesta que um aluno não está conseguindo acompanhar a turma e tem dificuldades de falar tal problema? Citando Fagali e Vale, Faria argumenta que:

De acordo com Fagali e Vale (2003), o trabalho preventivo está relacionado ao desenvolvimento de assessorias para pedagogos, orientadores e professores das instituições de ensino. Nessa perspectiva, para as autoras, o trabalho preventivo tem o seguinte papel: Trabalhar as questões pertinentes às relações vinculares professor-aluno e redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos, nas diferentes áreas do conhecimento (FAGALI; VALE, apud FARIA 2011, p.5).

Com tais assessorias, o psicopedagogo poderá efetuar junto ao corpo pedagógico medidas profiláticas tanto para o aluno com predisposição a algum tipo de DA quanto para o professor que muitas vezes vê-se as vexes diante de situações problema sem saber como deve agir de modo satisfatório. Segundo Teixeira, é também competência do psicopedagogo as estratégias de aprendizagem, que segundo ela,

[...] vêm sendo definidas como sequências de procedimentos ou atividades que se escolhem com o propósito de facilitar a aquisição, o armazenamento e/ou a utilização da informação. Em nível mais específico, pode ser considerado como estratégia de aprendizagem qualquer procedimento adotado para a realização de uma determinada tarefa (Da Silva & De Sá, 1997). Pozo (1996), baseando-se na definição de Nisbett, Schucksmith e Dansereau, reafirma que estratégias de aprendizagem são procedimentos e atividades utilizados com o objetivo de facilitar a aquisição, o armazenamento e a utilização da informação. (TEIXEIRA, 2013, p. 2)

Segundo estas afirmativas, cabe ao profissional de psicopedagogia todo o amparo técnico tanto ao educando com DA quanto ao professor na observação e diagnóstico de uma criança com dificuldades, cabe a ele a passar para o docente a habilidade e o discernimento de divisar uma simples indisposição de um fato real de dificuldade de aprendizagem através das estratégias de aprendizagem. Já quanto a psicopedagogia terapêutica, em linhas gerais, por este artigo não ter a proposta de criar algo como sendo a verdade, mas estritamente como sendo uma análise do que já está produzido com vistas a uma cooperação para o aprofundamento desta temática, concorda-se com as palavras de Faria sobre a atuação da psicopedagogia no trato com problemas presentes e de como se devem resolver. Conforme Faria,

No âmbito institucional, a queixa pode ser apresentada pela família, pelos professores ou mesmo pela equipe de coordenação. Refere-se às observações ou constatações que algum desses setores venha a encaminhar à psicopedagogia como por exemplo: questões relacionadas à dificuldade de aprendizagem ou de relacionamento interpessoal e social; solicitação de avaliação dos processos de leitura e escrita e de raciocínio lógico-matemático. (FARIA, 2011, p. 10)

Uma vez constatada a queixa, é prerrogativa psicopedagógica o encaminhamento para as devidas investigações para a correta aplicação conforme o caso específico. Ainda conforme Faria,

A partir da queixa apresentada, investigam-se as questões levantadas, por meio de recursos psicopedagógicos que observam: o desenho, o processo de aquisição da leitura e da escrita, o letramento e o raciocínio lógico-matemático. Por meio desses recursos, intenta-se perceber a maneira como a criança aprende e entra em contato com saberes. Na sequência, junto ao professor, cruzam-se as informações coletadas e assim refletimos sobre as possibilidades de apoio às questões levantadas a respeito da criança. (FARIA, 2011, p. 10)

Portanto, uma vez devidamente chegadas as conclusões das investigações, o educando é adequado em conformidade à sua necessidade e com tal medida a instituição de ensino acumula experiência para a resolução de outras situações problema que certamente virão.

4. A anatomia do problema: quais são essas dificuldades

No prosseguimento deste artigo, será demonstrado o que a literatura psicopedagógica tem apontado como resultado de todas as mais recentes pesquisas e de um modo geral será aqui exposto quais são as principais Dificuldades de Aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem não encontram uma uniformização no que tange a etiologia da palavra. Conforme Correia,

Ao reportar-se às causas das DA no seu livro “Dificuldades de aprendizagem: contributos para a clarificação e unificação de conceitos”, afirma: “mesmo uma análise menos profunda da literatura sobre dificuldades de aprendizagem revela uma ampla discordância entre os autores quanto à etiologia do problema. (CORREIA, 1997, p. 9)

Porém, mesmo com essa dificuldade da possibilidade de se enquadrar a DA em um conceito padronizado pela literatura, Correia procura tomar como ponto de partida a questão hereditária, Segundo o autor,

Contudo, e como já o mencionamos anteriormente, a origem das DA encontra-se presumivelmente no sistema nervoso central do indivíduo, podendo um conjunto diversificado de fatores contribuir para este fato. Um primeiro fator a ter em conta será a hereditariedade (fundamento genético) que, como afirma Johnson (1998) parece ligar a família às DA. (CORREIA, 1997, p. 9)

Outras situações desencadeantes das DA se encontram no momento do parto, ou durante a gravidez, causando danos que podem refletir e gerar as DA. Ainda segundo o autor,

Há outro conjunto de fatores, (pré ou perinatais) que podem vir a causar DA. Entre eles, são de destacar os excessos de radiação, o uso de álcool e/ou drogas durante a gravidez, as insuficiências placentárias, a incompatibilidade RH com a mãe (quando não tratada) o parto prolongado ou difícil, as hemorragias intracranianas durante o nascimento ou a privação de oxigênio (anoxia). (CORREIA, 1997, p. 9)

Desta forma, tais condições pré-natais são a predisposição para o desenvolvimento para as DA. Como está sendo demonstrado, especialmente para a população considerada de risco, na maioria dos casos as crianças apresentarão problemas com as DA por causa principalmente da drogadição das mães, onde as instituições de ensino infantil como as creches, por exemplo, irão concentrar os maiores índices de dificuldades de aprendizagem entre as crianças justamente por causa de complicações desta ordem supracitadas por Correia, o que não restringe-se apenas à questão pré-natal, mas Correia acusa também outros fatore que podem desencadear as DA, que são, segundo o autor,

No que diz respeito a fatores pós-natais que podem causar DA, eles estão geralmente associados a traumatismos cranianos, a tumores e derrames cerebrais, a malnutrição, a substâncias tóxicas (por exemplo, o chumbo) e a negligência ou abuso físico. Em suma, a miríade de potenciais causas das DA não deve ser interpretada como condição sine qua non de que toda a criança com DA esteja presa a determinada etiologia. Como referimos anteriormente, chamamos a atenção do leitor para o fato de que as causas das DA se mantêm desconhecidas na maioria dos casos. (CORREIA, 1997, p. 9 e 10)

Por isso, a atividade psicopedagógica é uma atividade eminentemente investigativa, por conta de que na maioria dos casos não há uma resposta pronta para um determinado problema, como afirma Correia. Quanto as possíveis causas pós-natais, é sempre bom observar que maus tratos sempre são um indicativo de que a criança apresentará problemas de aprendizado.

A seguir, será apresentado uma pequena lista de dificuldades de aprendizagem catalogados pelo autor do estudo.

Dislexia: Incapacidade severa de leitura; dificuldade no processamento da linguagem cujo impacto se reflete na leitura, na escrita e na soletração.

Dispraxia (apraxia): Dificuldade na planificação motora, cujo impacto de reflete na capacidade de um indivíduo coordenar adequadamente os movimentos corporais.

Disgrafia: Dificuldade na escrita. Os problemas podem estar relacionados com a componente grafomotora (padrão motor) da escrita (forma das letras, espaço entre as palavras, pressão no traço); com a soletração e com a produção de textos escritos.

Discalculia: Dificuldade na realização de cálculos matemáticos.

Discriminação auditiva: capacidade para perceber as diferenças entre os sons da fala e para sequenciá-los em palavras escritas; é um componente essencial no que respeita ao uso correto da linguagem e à descodificação da leitura.

Percepção visual: capacidade para observar pormenores importantes e dar significado ao que é visto; é uma componente crítica no processo de leitura e escrita.

Desordem por déficit de atenção com/sem hiperatividade: é caracterizada por frequentes estados de desatenção, de impulsividade e, geralmente, por um excesso de atividade motora (hiperatividade) que podem interferir com a capacidade do indivíduo para a aprendizagem; pode ocorrer concomitantemente com as DA (as estimativas de prevalência variam).

5. Considerações finais

Uma vez que a psicopedagogia apresenta possibilidades de sanamento ao educando com dificuldade de aprendizagem, segue-se que a mesma estará sempre a busca de mais aprofundamentos para a expansão de suas pesquisas. O intuito deste artigo é uma forma de reverberação de tudo o que está sendo dito na literatura nacional e internacional e não tem pretensões de abarcar a verdade de modo monopolista, como se tem demonstrado até então.

Hoje, com a globalização e com a amplitude de todos os problemas que decorrem da mesma, têm-se criado ainda mais desafios para o campo psicopedagógico, e como ciência crescente, não se exime do labor de procurar mais e mais aprofundar-se, discutir inclusive posições dantes consideradas basilares e que agora já não podem mais atender aos primeiros casos que dantes foram resolvidos com as primeiras hipóteses e conceituações levantadas e consolidadas. É preciso que se continue a investigar sem preconceitos para com a possibilidade de se desfazer parcial ou totalmente um trabalho em curso, por ser dificultoso ou mesmo cômodo deixar do modo como estar, mas o que deve ser feito é sim uma constante ressignificação de tudo o que se tem alcançado com vistas a um melhor amparo ao educando, mas não em uma unilateralizada posição, porém contemplar o indivíduo em seu todo, em seu entorno social, nas maiores e menores manifestações sociais. A psicopedagogia contempla a criança como um ser complexo e que, como tal, não se dá ao luxo de desprezar uma exaustiva anamnese para que as respostas venham, como preconiza a psicologia cognoscitiva estudantil, satisfazer as necessidades, se não de modo pleno, pelo menos o mais próximo que seja disso. E como uma ciência que dialoga constantemente com a psicologia e com a pedagogia, os resultados não podem ser outros senão a otimização das ações da mesma.

A psicopedagogia goza hoje de um aporte diversificado que lhe granjeia mais espaço de pesquisa justamente no foco de sua ação, que são as dificuldades de aprendizagem e a prevenção das mesmas. Nos dias atuais já não se concebe que uma dada criança que não está aprendendo como devia seja simplesmente classificada de preguiçosa, levando-se em consideração que toda a equipe docente e pedagógica esteja no pleno cumprimento de suas atribuições e mesmo assim o fato se dá. Como foi demonstrado, as dificuldades de aprendizagem estão cada vez mais sendo descobertas com novas pesquisas e a amplificação da literatura possibilita o conhecimento de quais sejam elas, como se dão, no que tange a sintomatologia, sua origem; se pré ou pós natal, e quais as saídas encontradas para esses novos desafios. Como tem sido demonstrado, a psicopedagogia ainda não é de todos os espaços estudantis, para ser acessada no momento da necessidade, mesmo com sua inegável contribuição à comunidade escolar, pois não afeta apenas aos educandos com dificuldades de aprendizagem, mas também às famílias, ao corpo docente, enfim à toda a comunidade escolar. Enquanto que nos espaços de educação infantil, para poder exemplificar, privados, existe um ou mais profissionais para o atendimento de toda a escola, contudo, na iniciativa pública esse quadro já cai para um profissional por setor, e isso quando o poder público pode oferecer esse imprescindível serviço às escolas. Tal situação precisa ser revisada e a própria política educacional precisa de uma séria reformulação para que conceitos como inclusão, educação para todas as formas de deficiências possam tornar-se realidade e o profissional da psicopedagogia venha ter seu campo de trabalho também estendido aos menos favorecidos.

6. Referências

ARAUJO, Aloisio. Aprendizagem infantil. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2011.

CORREIA, Luíz de Miranda; MARTINS, Ana P. Dificuldade de aprendizagem. Que são? Como entendê-las? Porto: porto editora, 1997.

DUSI, Miriam L. H. M. Abordagem gestáltica e psicopedagogia:

um olhar compreensivo para a totalidade criança-escola. Universidade de Brasília. Dissertação (Mestrado em Psicopedagogia) Curso de pós-graduação em Psicopedagogia, Brasília, 2006, 159 p.

TEIXEIRA, Andrea Regina; ALLIPRANDINI, Paula M. Zedu. Intervenção no uso de estratégias de aprendizagem diante de dificuldades de aprendizagem. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, N°2, v. 17, p. 279-288, Julho/Dezembro de 2013. Disponível em: < http://www.redalyc.org/resumen.oa?id=282329398010>

Acesso em: 03/07/14

FARIA, Paula Amaral. Uma proposta de atuação psicopedagógica escolar em educação infantil. Construção Psicopedagógica, São Paulo-SP, n°18, Vol. 19, p. 73-86, 2011. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1415-69542011000100008&script=sci_arttext >. Acesso em: 22/07/14.