UM POUCO DE MINHAS IDÉIAS ! ROBERTA LESSA

EDUCAR... PREPARAR... FOGO!

EDUCAR?

Quando um homem velho, de barbas velhas, idéias velhas, enfim com a senilidade emocional aflorada por todas as suas articulações, provoca ao seu redor o mesmo comportamento, estatizando o que antes era móvel, certamente a reação da grande maioria é aceitar e obedecer, não pela sua sabedoria anciã, mas pelo próprio comodismo. O suor de se lapidar uma mente é algo maior do que ensinar o reles Bê-a-bá e quando bem feito: floresce, pois o pupilo cresce, mas isso só se verificará, quando seu possível mestre - o artesão dos saberes - estiver se ocupando de outras pedrinhas a serem lapidadas e ao olhar para o lado encontrará um belo diamante por ele cultivado pelo esmero que lhe é costumeiro.

Na memória afetiva de cada indivíduo, por mais que haja amnésia, é justo falar que o fomento do saber sempre se fará presente, independendo de seu grau de complexidade e de interesse, há de se convir que cada fragmento, cada instante de conhecimento que se perca neste contexto, certamente algo de desvantajoso ocorrerá para o futuro desse fruto que há de vir. Mas... “O importante não é a quantidade, mas a qualidade”, não é? Se o que pesquiso pela vida e que tece meus saberes que (des) conheço bem, essa frase não me encaixa de maneira alguma, principalmente no que tange a padronização de conhecimentos, o mistério está aí, o saber pernoitar uma vez o insólito, outra vez o fantástico, num outro instante o acadêmico básico, por horas o inimaginável, retornando num recomeço que não tem fim...

Complexo seria para mim, ser obrigada a não mais devanear, não mais descobrir, novas identidades de conhecimentos, ou pior, ser obrigada a jamais vislumbrar o horizonte com medo de que haja incandescentes sóis e que esses sóis dilatem- me as pupilas a ponto de cegar-me da ignorância. Mas é preferível ser um cego à ver minha nau submergir por não saber remar nas turvas e turbulentas ondas do viver:

“Não vou buscar a esperança na linha do horizonte,

Nem saciar a sede do futuro...

Na fonte do passado nada quero e tudo espero

Sou quem peca, sou quem grita,

Quem na orquestra desafina

Quem delira sem ter febre, sou o par e o parceiro

Das verdades, à desconfiança...”

(João Ricardo - 1976)[1]

APONTAR...

Qual o prazer contido no saber quando um em função do outro se extingui e deixa a existência daquele que sobrevive com o sabor de veneno? Ignorar esta questão é o mesmo que obrigar o feto sair do ventre, caminhando... Não se pode deixar de aliar o prazer de estar descobrindo o saber com o ato em si, é muito mais que neurônios, são vísceras que se aliam a paladares ancestrais, que tumultuam como cristais emocionais, que pululam desde longas datas o ânus da incompreensão, cercar o saber em cercas quadriculadas é o mesmo que delimitar quintais, é o mesmo que vestir um manequim de avental e chamá-lo de mamãe, compreendo a incompreensão do que digo, mas sei também que neste momento o que mais me interessa é alçar vôos anteriormente impossibilitados pelo marasmo de uma sociedade fraudulenta e fétida, mãe é antes de tudo mulher e antes de tudo o mais, é um ser que anda, vive, questiona alicerça-se e novamente perde seu chão em função de si mesma, o saber é como a mulher, insegura, triste, feliz, desgastante, inquisidora, fere, mas é intensamente profundo e de tal forma dimensionado para são se saciar em si mesmo, é algo que gera vidas e essas vidas outras vidas, outros saberes, outros viveres, que não deve ser confundido com viveiros que aprisionam o ser de voar e nem víveres, que provisiona o físico, mas jamais sacia a fome e a sede do movimento constante do ato do saber.

Mas o que fazer diante do sonho de se educar e da realidade de saber existir monstros que devoram o saber, enlatando-o sob forma de dejetos fecais a serem distribuídos em livros pseudo didáticos, cartilhas que de nada “suavizam o caminho” dos estudantes aflitos por sair de uma sala ambiente que nada oferece a eles senão a lembrança de seus nomes escritos nas “carteiras”.

O que é o verdadeiro conhecimento a ser colocado para o adolescente que se encanta com a profusão de seus hormônios que o fazem (perceber) parecer mais homens? Os valores que nos são impostos todos os dias fazem-nos fantoches daqueles que oprimem propositadamente (afinal eles querem continuar a ser os donos do poder). Como buscar a auto superação sendo que nem mesmo a criança encontrou um eixo familiar para poder suportar o peso de se viver em uma sociedade desigualitária (desigual + totalitária)?

Mas o que resta? Um suspiro como último e derradeiro sopro de vida de uma caótica e despótica sociedade? Ou teimar, como alguns teimam em dizer “não ao não”, simbolismos a parte, deixo claro que não sou eu a desvendar o mistério do correto educar mas há tantas setas, tantas nuances que nos levam a erros e... acertos, e certamente quando se faz uma análise mais pormenorizada de nossa estrutura educacional, palavras feias e despudoradas tornam-se verdadeiras tulipas incandescentes numa mente crítica e a voz não cala a alma, a voz não contem o batimento de um descompassado coração agitado pelo desconforto de uma militância a favor dos céticos assépticos, a favor dos descrentes, a favor dos muitos crentes. Mando às favas os favores e agito uma bandeira, talvez a única de proporção tão pessoal: O ser humano vale mais do que uma sociedade? Mas o que é uma sociedade do que seres humanos agrupados?

hitler[2] também agrupou seres humanos !

Em fileiras... e logo após em covas! E ainda hoje estamos enfileirando conceitos introjetados por sua ideologia em nossos atos diários...

Estamos deseducados a pensar e Bakunin[3] já reforça isso quando afirma ser necessário repensar uma escola não só para as crianças, mas para os adultos também, o processo canceroso não se extirpa quando lhe é dado tratamento externo, mas as raízes terão que ser decepadas para que não se evolua, quando a autoridade se faz presente, certamente não ocorre educação mas “ordenação”.

Outro questionamento :

Ate que ponto uma educação libertária também poderia ser um objeto de alienação total de um indivíduo, partindo do pressuposto que se contrapõe àquele que é contra seu ensinamento?

Sem defender um ou outro lado ou tantos quantos forem os lados ideológicos, a liberdade é fornecer conhecimento, mostrar benefícios e malefícios e a opção é acolhida por aquele que estuda e não por quem ensina, que mesmo tendo as melhores das intenções, certamente tem suas tendências movidas pelas suas preferências. Poderia eu citar meu amado e saudoso mestre/professor Silvio [4]: “No indivíduo cujo o ensino fora baseado na obrigação: o efeito é claro: cria seres pálidos, encarnação mesma da mesmice, seres sem autonomia, sem individualidade e, portanto sem brilho próprio, sempre escondidos e amparados na massa, incapazes que são de pensar e agir por eles próprios. Quanto a sociedade, é obvio que a criação de tais seres só pode contribuir para a manutenção mais fácil de um rebanho, pois que não passam de cordeiros quando postos em frente ao poder, embora sua violência intolerante possa facilmente ganhar força enquanto massa quando se trata de destruir o diferente, o autônomo e o criativo(...)”

Aquele que pretende educar certamente diferencia-se pelo fato de tecer em toda a sua vivência, formas alternativas de ludibriar a ideologia e compactuar suas vitórias cotidianas com seus semelhantes que almejam através da educação uma nível diferenciado de consciência do adulto, da criança e principalmente para si mesmo, uma sociedade igualitária, sem cercas, mas com jardins floridos e os ipês? Os ipês florescerão certamente dentro de cada pessoa a qual fora plantada a semente da igualdade, da auto estima, da compaixão, da força, da luta e principalmente do amor .

Mas uma coisa temos que ter claro, é necessário dar um basta nesses laboratórios travestidos de escolas os quais fazem de nossas crianças objetos de experimentos que só favorece os egos dos “proprietários e donos de saberes”

Portanto é de suma importância alertar aos futuros educadores que cada “objeto de sua pesquisa” nada mais é do que seres humanos que mesmo destituídos do treino do pensar, podem se rebelar, como um cão que ladra, ladra, e depois cansado de receber osso sem carne começa a morder.

FOGO !

Seria completamente insano de minha parte deixar a responsabilidade à revelia de educadores que também são desprovidos de uma maneira saudável de raciocínio, posso até acrescentar, seria puro egoísmo, pois parte e grande parte da desestruturação total da educação ao sistema político vigente, que por incrível coincidência tem como soberanos: Seres humanos!

A alimentação, a moradia, saúde, alia-se ao fator educação, na função de desagregar qualquer força possível de resistência que faça valer a vontade e direito de um cidadão: Quanto mais pessoas pensam, maior é a exigência dela para com seus líderes: Coisa de gente que pensa sabe... (A gente não quer mais pão e circo, mas é o que até hoje nos oferecem à alto custo).

Na medida em que se descentraliza poderes e delibera espaços para que uma comunidade, uma nação, um indivíduo possa recriar o seu pensar-agir, certamente haverá o caos e também uma ordem nova se estabelecerá (por favor não alie esse pensar com questões referentes aos illuminatis[5], sejamos coerentes com o presente texto proposto, por favor), onde um pedaço de papel jamais valerá mais que um aperto de mão, onde um simples olhar não será mais uma censura, e vitória de um pai que criou “bem” o seu filho. Muitos papeis se inverterão, outros serão criados e principalmente, velhas e belas estolas engomadas sairão das casas não rumo à fogueiras, mas quem sabe à museus, criados especialmente para que não mais incorramos no erro de querer comandar o outro ou até mesmo ceder e deixar-nos acorrentar ao “...pé da mesa do Senhor”. E a mulher... A mulher é uma coisa a parte, uma parte que soma ao todo, mas uma grande parte. Enfim uma outra história...

[1] João Ricardo: cantor e compositor de Portugal. Tinha quatorze anos á época e viu-se envolvido com a música brasileira de imediato. Cedo começou escrevendo letras para músicas de um vizinho que o levou a aprender violão para fazer as suas próprias. A partir dos dezessete, dezoito anos, compôs algumas das que viriam a se tornar clássicos da banda seminal que fundou, Secos & Molhados.

[2] Adolf Hitler: líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, também conhecido por Partido Nazi ou nazista, uma abreviatura do nome em alemão (Nationalsozialistische), sendo ainda oposição aos sociais-democratas, os Sozi. Hitler se tornou chanceler e, posteriormente, ditador alemão.

[3] Mikhail Aleksandrovitch Bakunin , teórico político russo, um dos principais expoentes do anarquismo em meados do século XIX.

[4] Silvio Donizetti de Oliveira Gallo: pedagogo e filósofo anarquista brasileiro, autor de uma série de publicações fundamentais que o tornaram um dos principais expoentes da pedagogia libertária no Brasil.

[5] Illuminati tem sido empregado especificamente para referir-se aos Illuminati da Baviera, uma sociedade secreta da era do Iluminismo. Nos tempos modernos, também é usado para se referir a uma suposta organização conspiracional que controlaria os assuntos mundiais secretamente, O nome Illuminati é algumas vezes empregue como sinónimo de Nova Ordem Mundial, Muitos teóricos da conspiração acreditam que os Illuminati são os cérebros por trás dos acontecimentos que levarão ao estabelecimento de uma tal Nova Ordem Mundial, com os objetivos primários de unir o mundo numa única regência que se baseia em um modelo político onde todos são iguais.

Roberta Lessa
Enviado por Roberta Lessa em 02/12/2014
Código do texto: T5055816
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