A SUPERVISÃO NO CHÃO DA ESCOLA

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR(*)

[...] Quando você fizer um pedido a uma estrela.

Quem você é faz diferença [...]

Peter Mclaren

A formação pedagógica do profissional que exerce a supervisão escolar não o deixa por si só isolado em sua tarefa no âmbito institucional, pois, esse profissional assume o seu papel, como sendo na realidade um membro da equipe escolar, como parceiro dos professores, pois, somente assim contribuirá para que seja realizado com amplitude um extraordinário trabalho pedagógico, tarefa de todos e não apenas de uns, pois, tudo que acontece em termos de desenvolvimento, de subdesenvolvimento e de atraso na escola é de responsabilidade de todos envolvidos: diretores, coordenadores, supervisores, orientadores, professores, psicólogos, psicopedagogos, psicanalistas, pais, alunos, etc.

Assim sendo, Alves (2003), ao tentar escreve sobre o que chamamos de cultura no cotidiano da escola, por analogia, enfatiza o conceito de acontecimento à luz do pensamento de Foucault, de modo que o chamamos de grandes e ou pequenas mudanças na historiografia do “chão” da escola, acontecem na realidade, lentamente no dia-a-dia, tendo em vista que tudo que é feito no ambiente escolar de bom ou de ruim, a vida diária de todos os acontecimentos passados e presentes, tem lócus direto na vida de todos os atores envolvidos na escola: gestores, supervisores, orientadores, professores, alunos, pais, etc. Tudo isso faz parte da cultura e da vida comunitária da sociedade. É isso que refletem as pesquisas desenvolvidas e concluídas a partir da década de 80 do século XX no Brasil. É um fato considerado ainda novo o acontecimento de pesquisas educacionais na terra de Pindorama, nome que nossos primitivos habitantes nos chamava em 1500, época da chegada de Pedro Álvares Cabral em nossa terra.

De modo que André (2007), lembra que o estudo da prática escolar é algo amplo e não se pode restringir, apenas em um mero retrato ou fotografia daquilo que acontece em termos de “passagem diária” na escola, tendo em vista que tal prática educacional é envolvida pelo processo de reconstrução permanente da referida ação em termos de prática educativa em suas múltiplas dimensões. Assim sendo, devemos estudar a prática educacional diária em no mínimo três dimensões coletivamente falando, como unidades múltiplas inter-relacionadas para poder “tentar” compreender na realidade a dinâmica social e como ela é culturalmente realizada no interior ou “chão escolar”. Pensar apenas em uma única dimensão para compreender todos os acontecimentos diários no “chão da escola”, estará fadado ao fracasso geral da instituição educacional.

E assim sendo, André (2007), caracteriza as três dimensões para a prática na escola: a) a dimensão institucional, em termos de organização envolvendo todos os aspectos inerentes ao contento da prática escolar, levando-se em consideração o envolvimento de toda rede em termos de formação e transformação de todos os acontecimentos diários na vida escolar; b) a dimensão instrucional, como sendo a ação pedagógica envolvendo todas as reais situações de ensino em que estão presentes o professor, o aluno e o conhecimento científico e ou acadêmico; c) a dimensão histórica, filosófica e epistemológica, onde todo este âmbito em termos de análise deve necessariamente incluir os acontecimentos sociopolítico envolvendo tal prática, o que justifica a razão e reflexão histórica, segundo o exame das convicções e ou concepções de homem, de mundo, de sociedade e de conhecimento cientifico dos seus atores envolvidos.

Não confundir as rotinas escolares diárias como um cardápio único, oferecido todos os dias, do tipo, feijão com arroz, no dizer do universo do senso comum do povo brasileiro, isso seria estigmatizar negativamente o fazer no “chão da escola”, a conotação aqui não é a mera repetição do dia-a-dia e ou do cotidiano pedagógico instrucional e institucional.

Entendemos que o “habitus” é a maneira como uma determinada prática educacional e ou não, é realizada por um determinado grupo e ou classe social. Isso significa dizer que é aí onde são geradas estratégias, proposições, meios e respostas objetivas e ou subjetivas, surgem soluções dos diversos problemas até então conhecidos pelo grupo ou classe social. Tais práticas geram tecnologias para dentro e para fora do “chão escolar”. E todas essas práticas na realidade são partes integrantes do processo de reprodução cultural e social, dentro e fora da academia, enquanto instituição educacional. Daí cai como uma luva o conceito de “habitus” de Bourdieu, que enfatiza os atores sociais posicionados no espaço em campos sociais, onde tais atores procuram ocupar seu espaço dentro do campo social e para tanto é preciso conhecer previamente as normas, regulamentos e ou regras do jogo em termos de práticas grupal e ou de classe, para sentir-se motivado ou disposto a lutar para chegar onde se pretende chegar.

São muitos os escritores e pensadores, dentre os quais Bourdieu e Passeron (1975, p.20), que denunciam direta e indiretamente a inculcação do “habitus”, através da violência simbólica usada pela instituição escolar, tendo como metodologia e ou formas as ações meramente pedagógicas. Isso fato, sabemos que a escola, assim como a família é uma instituição reprodutora de tudo que acontece no entorno do “chão da escola” e ou entorno social, conforme enfatiza Bourdieu (1989, p. 257). Isso é um fato forte e real.

Através do multiculturalismo crítico envolvendo o “chão da escola”, faz por si só Peter Mcharen (1997), com sua Pedagogia Crítica, tornar-se conhecido entre os meios acadêmicos, pois, o mesmo enfatiza que o conceito e ou a função de rituais usados pela escola, justifica a transformação da criança em aluno, o que vale dizer que existe uma criança antes de tais rituais escolares e outra criança, depois de tais rituais escolares, o que corresponde justamente a capacidade adquirida pela mesma criança quando passa pela escola e daí surge sua capacidade de realizar aprendizagens diversificadas. A criança depois que passa pela escola, passa a ter motivação para buscar aprender o que lhe interessa, segundo os seus desejos pessoais.

A instituição escolar tem seus próprios rituais, assim os discentes são submetidos aos paradigmas e as regras sociais, de modo que tais regras uma vez incorporadas ao “chão da escola” e ou cotidiano escolar, passa inevitavelmente a fazer parte da cultura e do imaginário da escola, de modo que passivamente o aluno e demais atores da escola, mecanicamente falando em atitude quase inconsciente, não fazem qualquer tipo de questionamento. Aceitam tudo e pronto. Assim os rituais podem ser concebidos como negativo para o aluno que é impedido de opinar, de ser ouvido, de dialogar e de criticar. Por outro lado, os rituais são positivos quando criam meios para que os alunos tenham vez e voz para interpretar e criticar o mundo.

Inovar sempre foi a palavra da ordem do dia no “chão da escola” em todas as partes do mundo. De modo que Vygotsky (1984), informa que o aprendizado deve está voltado para o futuro e não para o passado do aluno. E isso é fato concreto quando: a) a primeira concepção é possível quando o desenvolvimento precede a aprendizagem, tendo em vista que o aluno já tem maturidade psíquica, capaz de voltar o pensamento para o passado; b) a segunda percepção está voltada para a postura que precede a aprendizagem em termos de desenvolvimento. Tal visão ou abordagem prejudica a interação de ambos os processos; c) a terceira concepção é de autoria de Vygotsky, onde o processo de ensino aprendizagem precede o desenvolvimento, via a criação de zonas de desenvolvimento proximal e que os processos de ensino aprendizagem são voltados para o futuro do aluno. Diante disso justificado está que as três dimensões são discutidas envolvendo a interação e o processo de ensino aprendizagem.

Diante dos fatos, isso só poderá acontecer em termos de inovação e ou tecnologia educacional, se estiverem presentes múltiplos requisitos, dentre os quais: meio social baseado em informações e comunicações necessárias e que devidamente planejado em suas diversas tendências, etc., conforme identifica Imbernon (2000, p. 85).

São inúmeros os teóricos engajados nos estudos via pesquisas que falam das tecnologias, um exemplo disso, é o caso de Castells (1996, p. 62), que menciona uma sociedade rede e define características do paradigma que norteador da tecnologia da informação no ambiente educacional, enquanto instituição.

É importante mencionar que não estamos falando apenas no uso do computador como meio de inovação ou tecnologia aplicada a educação pela supervisão educacional no ambiente escolar, pois, isso significa, um novo choque do futuro, na expressão de Toffler (1984). Tudo vive em torno da tecnologia neste inicio de século XXI, de modo que é preciso que seja adotado um viés, tecnologicamente moderno visando à construção de sua práxis, no dizer de Ferreira (Apud Rangel, 2002, p. 9), jamais qualquer profissional poderá ficar a margem das novas tecnologias, principalmente a supervisão escolar, tendo em que a sociedade através da escola deve ter alternativa e ou meio que possam elevar a educação a serviço do pleno desenvolvimento social dentro das relações democráticas dos novos tempos em todos os ramos e saberes. Isso significa que a escola deverá superar a sua cultura conservadora diante da realidade do novo tempo da humanidade.

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REFERÊNCIAS

ALVES, Nilda. Cultura e cotidiano escolar. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, n. 31, p.62-74, maio-ago.2003.

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Questões do Cotidiano na Escola de 1º Grau. Disponível em: < www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_11_p069-081_c.pdf >. Acesso em: 15 out. 2014.

BOURDIEU, Pierre; PASSERON, C. A Reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.

BOURDIEU, Pierre. La Noblesse d’ État: grandes écoles ET esprit de corps. Paris: Minuit, 1989.

CASTELL, Manuel.The rise of the Network Society. Oxford: Blackwell Publishers, 1996.

IMBERNÓN, F. (Org.). A Educação no Século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2000.

MCLAREN, Peter. A Vida nas Escolas: uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

OLIVEIRA, Eloiza da Silva Gomes de; GRINSPUN, Mirian Paura Sabrosa Zippin. Curitiba: IESDE Brasil S/A., 2009.

RANGEL, Mary. (Org.). Supervisão Pedagógica: princípios e práticas. Campinas: Papirus, 2002.

TOFFLER, A. Choque do Futuro. Lisboa: Edição “Livros do Brasil”, 1984.

VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 17/10/2014
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