UMA APROXIMAÇÃO POSSIVEL ENTRE AS QUATRO VERDADES NOBRES DO BUDISMO E AS IDEIAS DA DOR EM SCHOPENHAUER.

UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL ENTRE AS QUATRO VERDADES NOBRES DO BUDISMO E AS IDEIAS DA DOR EM SCHOPENHAUER.

Henrique Jorge da Silva Sacramento 1

RESUMO

Este artigo tem a proposta de apresenta de forma hermeneuticamente à filosofia de Arthur Schopernhuauer como que em determinado ponto de sua filosofia este interligou aos ensinamentos doutrinários do sábio e pensador nepalês hindu Siddhartha Sakya Muni Gautama que nasceu no século IV a.e.c, mais conhecido como Buddah ou Buda , no que se refere ás ideias símiles referentes as dores presentes na existência humana, aos pensar filosófico ocidental. Introduzindo assim o pensamento budista e hindu na velha escola grega filosófica européia.

Palavras – Chaves: Schopenhauer. Budismo. Sofrimento. Filosofia. Existência.

ABSTRACT

This article presents a proposal for so hermeneutically to the philosophy of Arthur Schopernhuauer like that at some point in his philosophy has linked this to the doctrinal teachings of the sage and thinker Nepalese Siddhartha Gautama Sakya Muni nasceceu that in the fourth century b.c.e., known as Buddah or Buddha, as regards the ideas similes concerning pain present in human existence, the Western philosophical thinking. Thus introducing the Buddhist and Hindu thought in the old Greek philosophical school European.

Key - Words: Schopenhauer. Buddhism. Suffering. Philosophy. Existence.

1 INTRODUÇÃO

Feurbach foi um filósofo alemão, desses que afirmaríamos ser um dos que não se passa despercebido, o próprio nome já o preanuncia, Feurbach – “carruagem de fogo” em alemão, ou seja, por onde quer que passasse deixava sua marcas de brasas em plena chamas, não foi diferente com outro conterrâneo seu, falamos aqui de Arthur Schopenhauer, quando este anunciou ao mundo sua obra “O mundo como vontade e representação”, publicada em 1818, o mundo passou a olhá-lo com outra ótica, Schopenhauer, passou a ter um significado, o de filósofo pessimista. Aqui nos debruçaremos na intenção de dissertar sobre como esse pensador dito como pessimista via a vida, e por que via a vida da forma como via, e quais dos seus pensamentos se aproximam das quatro nobres verdades anunciadas por Buddah. E assim perceberemos que o fazer filosófico schopenhaueriano ainda é uma possibilidade a ser pensada e analisada como um via hermenêutica para a aplicabilidade da própria vida, do jeito como ela é.

2. A COMPREENSÃO PANORÂMICA DA HISTÓRIA DA TEOLÓGICA BÚDICA SOBRE AS QUATRO NOBRES VERDADES BUDISTAS E SUA RELAÇÃO COM O PENSAMENTO SCHOPENHAUERIANO.

2.1 O que são as quatro nobres verdades budistas?

Inicialmente proporemos analisar partindo do ponto de vista teológico-histórico, resgatando o contexto budista para melhor compreendermos o pano de fundo das ideias que influenciaram o pensador alemão Schopenhauer á se aproximar das ideias tanto budista como hindu, e assim fazendo uma ponte filosófica entre o ocidente de matriz grega - romana com a cultura filosófica contemplativa e meditativa e auto-refletiva oriental. Tratando-se dos ensinamentos referente ao budismo e em especial “As Quatro Nobres Verdades”, ensinadas e escritas pelo próprio Buddah, Chodron assim nos diz,

O primeiro ensinamento dado pelo Buda descreveu a sua realização em termos de quatro fatos sobre a existência, conhecidos como as Quatro Nobres Verdades. Estas quatros verdades são (1) Passamos por experiências indesejáveis – a verdade do sofrimento – e insatisfatórias que devem ser identificadas. (2) Estas experiências possuem causas: ignorância e atitudes desordenadas - a verdade da causa, as quais devem ser abandonadas. (3) Existe uma situação de paz na qual todas essas experiências indenizáveis e suas causas são eliminadas – a verdade da cessação. A cessação de cada atitude desordenada de ser realizada. (4) Existe um caminho que nos conduzirá a este estado de paz – a verdade do caminho. O caminho de ser praticado. (CHODRON, 2007, p. 164).

De acordo com a teologia3 budista, ao atingir a auto iluminação, o Buddah viu que o universo dos fenômenos funciona de acordo com a verdade da Origem Condicionada. Quando decidiu ensinar o que tinha visto, o Buddah percebeu que o Principio Condicionado seria de difícil compreensão e pode¬ria até gerar medo se fosse explicada de pronto e imediato. Por isso, em vez de começar pelo ponto inicial primário de todas as coisas, o Buddah ensinou primeiro as Quatro Nobres Verdades. O primeiro período dos ensinamentos do Budda é chamado “Primeiro Giro da Roda do Dharma”.

As Quatro Nobres Verdades não diferem da verdade da Gênese Condicionada e, por certo, não a contradizem. Elas simplesmente dirigem o foco da Gênese Condicionada para a vida humana, fazendo com que esta pareça mais relevante para as pessoas e fique mais fácil de entender. Em síntese se resume em dizer que na existência há: a verdade do sofrimento; a ver-da¬de da origem do sofrimento; a verdade da cessação do sofrimento; a verdade do caminho que leva à cessação do sofrimento.

A palavra “sofrimento” nesse contexto é a tradução consagra¬da do sânscrito dukkha, expressão mais próxima em nosso termo séria na língua hindu - दुख 2 cujo significado mais aproximado seria o de “insatisfação”. A Primeira Nobre Verdade é a verdade do sofrimento. O Buddah viu com perfeita clareza algo que as pessoas vislumbram ocasionalmente: não é possível ao ser humano conquistar total satisfação neste mundo. A Segunda Nobre Verdade é a verdade da origem do sofrimento, que está na cobiça, na raiva e na ignorância. Os seres sencientes acorrentam-se ao penoso e iludibriável mundo dos fenômenos, por causa de seu forte apego a essas fontes de ilusão, também conhecidas como os Três Venenos. A Terceira Nobre Verdade é a verdade da cessação do sofrimento. “Cessação do sofrimento” é o mesmo que nirvana, um estado que não pode ser descrito por meio de palavras. É algo que está além de cobiça, raiva, ignorância e sofrimento; além da dualidade e das distinções entre certo e errado, você e os outros, bem e mal, vida e morte. A Quarta Nobre Verdade é a verdade do caminho que leva à cessação do sofrimento, aquele que nos mostra como superar as causas do sofrimento.

O budismo pode ser considerada uma religião sem caráter proselitista e soteriológico, ou seja, sem a pretensão de converter ou de anunciar a salvação ao mundo, como também pode ser entendida como uma filosofia de vida baseada nos ensinamentos deixados por Siddhartha Gautama ou Sakyamuni o Buddhah histórico, que viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.e.c – a.C. na Índia. Tendo como ensinamentos básicos: evitar o mal, fazer o bem e cultivar a própria mente tendo como objetivo o fim do ciclo de sofrimento, retirando-se da roda do samsara , despertando no praticante o entendimento da realidade última – o Nirvana. A moral búdica ou budista está alicerçada nos princípios de preservação da vida e moderação. O básico da mentalidade budista está sobre o ideal da libertação das leis do karma e da roda do samsara, para assim chegar ao Nirvana. Ideia essa que Siddartha herdou do próprio conceito teológico hindu, como nos aponta Dass:

Buda acreditava em reencarnação, o que significa que ele achava que algo reencarna. A literatura páli diz: “Não existem egos enquanto entidades reais no oceano do renascimento, mas meramente ondas da vida que, de acordo com sua natureza e atividades, se manifestam aqui como homens, ali como animais e em outro lugar como coisas invisíveis”. “Ondas de vida” – uma boa imagem. No hinduísmo, elas são chamadas vasanas, formas-pensamentos sutis. A cada ato criamos vasanas, ondas de vida baseadas nos desejos ligados ao ato. Estas ondas de vida vão e vêm. Mesmo quando morremos, elas continuam; o corpo físico morre, e o que permanece são aquelas ondas sutis de vida, aquelas tendências mentais que funcionam com um tipo de código de DNA psíquico para determinar a próxima rodada. No hinduísmo isso é chamado de karma. Karma é basicamente um padrão de ondas de vida, ou ondas de desejo, que mantêm indo e vindo, vida após vida, até que se esgotem. Quando se esgotam, não existem mais desejo individual, separação, e, portanto não há mais reencarnação. (DASS, 2007, p. 68 – 69).

Percebemos a herança hinduísta no pensamento budista, já ensinado pela tradição religiosa indiana. Em uma das passagens do famoso canto do Bhagavad Gita, Krishna, antecedendo a Buddah já dizia: “Quando o teu conhecimento se libertar de qualquer ilusão, então compreenderás a verdade daquilo que ouviste e ainda ouvirás, e te possuirás a ti mesmo imperturbavelmente”. (KRISHNA, 2012, p. 32). Podemos ter uma concepção introdutória á cerca do budismo, conhecendo seus textos históricos fundadores do ideal filosófico budista, entretanto, segundo a visão budista é preciso vivenciar o budismo para compreender o quê o mesmo tem a dizer ao mundo. Dizem que é impossível descrever ou explicar o que é o Nirvana, podendo apenas ser vivenciado. Não é um céu, como ideal de uma topografia, de um lugar, antes um estado, não um lugar para onde a pessoa vai após a morte, mas sim uma possibilidade - proposta que está ao alcance de todos, no aqui e no agora, e não em um futuro escatológico. Reprisando o pensamento de Thunbten na mesma nos diz:

Embora tenhamos prazer com os objetos dos sentidos, este prazer é limitado. Se examinarmos as nossas vidas mais de perto, descobriremos aquilo que nos trás prazer em um momento pode nos deixar infelizes em outro. Por exemplo, a comida é agradável quando começamos a comer, mas não quando comemos demais (...). Segundo o budismo, todos os seres devem sentir prazer e ser felizes. Entretanto, precisamos examinar de perto o que é felicidade e as suas causas (...). O budismo nos direciona para a felicidade suprema, que vem da transformação das nossas mentes. (...). É o apego a uma visão não realista que causa a confusão. (...). Se a felicidade fosse uma qualidade inerente à comida, então quanto mais comêssemos, mais felizes ficaríamos. Este certamente não é o caso. (...). Se a comida contivesse a felicidade, o ato de comer na quantidade certa nos deixaria eternamente satisfeito. Mas, após algumas horas, estamos novamente com fome. (CHODRON, 2007, p. 38 – 39).

Como vimos, o pensamento budista adentra-se profundamente na práxis da vivencia humana, como disse Bubbah no seu Dhammapada ou a “Senda da Virtude”, “o apego surge das concepções erradas, por isso, conheçam-na como raiz do apego. Evitem as conceituações e, então, o apego não surgirá”. Afirma-se que a própria palavra significa “apagar, extinguir”. Assim, alguns definem o Nirvana como a cessação de toda paixão e desejo; uma existência isenta de todo sentimento sensorial, como a dor, o medo, a ânsia, o amor ou o ódio; um estado de eterna paz, descanso e imutabilidade. Como nos orienta Kyokai,

Os homens, muitas vezes, arruínam suas vidas na tentativa de concretizar os desejos. Roubarão, insultarão e cometerão adultério, e então, sendo apanhados, sofrerão com a desgraça e a punição. Eles violarão contra o próprio corpo, língua e mente, embora sabendo perfeitamente que, no final das contas, a satisfação dos desejos lhes trará infelicidade e sofrimento. E, então sofrem neste mundo e, após a morte, terão que arrostar as agonias e os sofrimentos em outros mundos de trevas (mentais). (KYOKAI, 2012, p. 70.)

É esse mergulho na dor, como fruto da ignorância mental ensinado pelo budismo que vamos encontrar como paralelo no pensamento de Arthur Schopenhauer. Em suma o budismo aponta, para a cessação da existência individual e ilusória.

2.2 Schopenhauer e seu encanto com o budismo.

Foi justamente no ano de 1818 na época do lançamento de seu grande e mais precioso livro “O mundo como vontade e representação,” Schopenhauer inicia o primeiro parágrafo da sua obra capital. Este mundo de fenômenos em que cada indivíduo está situado, sendo também um fenômeno como os demais, esta realidade que conhecemos pelos olhos e pelos demais sentidos do corpo, este mundo que nos chega pela sensibilidade e pelo entendimento, é, para Schopenhauer, assim como para Kant, representação para um sujeito, e enquanto representação difere daquilo que é em si mesmo, a realidade, para além do alcance das formas a priori do intelecto e inacessível para este. Em relação a esta distinção, Schopenhauer declara: “O maior mérito de Kant é a distinção entre fenômeno e realidade. – com base na demonstração de que entre as coisas e nós sempre ainda está o intelecto, pelo que elas não podem ser conhecidas conforme seriam em si mesma.” (SCHOPENHAUER, 2001, p. 223). Ainda aludindo a Kant, Schopenhauer, nos apresenta uma forma de pensar muito próximo do pensamento budista, mesmo como uma alusão ao pensamento de Kant (SCHOPENHAUER, 2005, p. 526), e aqui temos a tal ideia em si:

Pois, descoberta com inteira autonomia e de maneira totalmente nova, ele apresentou aqui a mesma verdade, por um novo lado e um novo caminho, que já Platão incansavelmente repete e na maioria das vezes exprime em sua linguagem do seguinte modo: este mundo que aparece aos sentidos não possui nenhum verdadeiro ser, mas apenas um incessante devir, ele é, e também não é; sua apreensão não é tanto um conhecimento, mas uma ilusão. [... Kant] nomeia o fenômeno em oposição à coisa-em-si, [...] [o fenômeno] como este mundo visível no qual estamos um efeito mágico que aparece na existência, uma aparência inconstante e inessencial, em si destituída de ser, comparável à ilusão de ótica e ao sonho, um véu que envolve a consciência humana, um algo do qual é igualmente falso e igualmente verdadeiro dizer que é, ou não é. – Kant, porém, não só expressou a mesma doutrina de um modo totalmente novo e original, mas fez dela, mediante a exposição mais calma e sóbria, uma verdade demonstrada e incontestável. (SCHOPENHAUER, 2005, p. 527)

Por súbito que Arthur Schopenhauer teve seu primeiro contato com as obras budistas e percebeu que grande parte de suas ideias se encontravam com os pensamentos de Buddah, principalmente no que tange com os assuntos referentes ao sofrimento-dor, a ilusão sensorial, pois Buddah apontava já no século IV a.e.c, ideias que foram florescer na filosofia ocidental séculos á frente, Schopenhauer criou um verdadeiro monumento perene ao budismo dentro de um pensamento filosófico ocidental que ficou registrado em sua grande obra:

Ao encontrarmos na vida de homens santos aquela calma e bem-aventurança que descrevemos apenas como a florescência nascida da constante ultrapassagem da Vontade, vemos também como o solo onde se dá essa floração é exatamente a contínua luta com a Vontade de vida. (SCHOPENHAUER, UNESP, 2005, p.12).

Esta vontade representada por Schopenhauer em muitos aspectos assemelhasse à visão de mundo correspondente a filosofia de vida, no sentido nato do termo. O mundo, ou melhor, a esfera da ambiência humana como representação de uma realidade objetiva que surge de forma simultaneamente com a consciência psíquica, por meio da faculdade intuitiva (do saber-entendimento), é o reflexo-espelho pelo qual tal “Vontade” reconhece a si mesma nos múltiplos fenômenos existências no decorrer do existir humano, sendo quê, somente o “ser” humano atinge, ou tanger o patamar máximo de seu próprio conhecimento de si, e por meio de si e não por outro, a essência impetuosa cega, de seus desejos eternamente insatisfeitos e produtora dos sofrimentos, e assim da “dor”. Por essa hermenêutica ou ponto de vista filosófico, em muito Schopenhauer se aproximou do quê séculos atrás Siddartha havia ensinado, correspondente a dor e ao sofrimento como reflexo da mentalidade humana, fruto dos impulsos controlados pelas forças cegas de uma leitura de mundo feita pelo viés sensorial ilusório. Em suas palavras,

O indivíduo vitimado pelas angústias da morte nos oferece um espetáculo verdadeiramente estranho e até mesmo risível: o senhor dos mundos, que tudo com o seu ser, aquele que confere existência a tudo o que é, possui a sua existência, perde a coragem, teme morrer e afundar-se no abismo do nada eterno; e na verdade, tudo está cheio dele, e não há lugar algum no qual ele não esteja ser algum no qual ele não viva; pois não é a existência que o sustém, e sim ele que é o suporte da existência, É ele, no entanto, quem no indivíduo sofre e se desespera com o medo da morte, uma principium individuationis, de que a sua existência esteja limitada à do ser que morre neste momento: essa ilusão faz parte do sonho opressivo, no qual ele mergulhou enquanto vontade de vida. (SCHOPENHAUER, 2001, p 66.)

Como é esclarecido em Da morte – Metafísica do Amor – Do sofrimento do mundo. Esta afirmação ou negação da Vontade é o tema central do quarto livro de O mundo como vontade e como representação, onde Schopenhauer expõe sua ética e o significado das ações humanas, como bem coloca Deyve: “o fundamental dessa metafísica dos costumes apresentada no quarto livro é a exposição do fundamento e do sentido das duas posturas fundamentais que a Vontade pode assumir ao conhecer-se a si mesma: afirmação e negação da vontade” (REDYSON, 2010, p. 110)

Enquanto a humanidade segue a via dos motivos egoicos, permanecendo na ação pendular, balanceando entre a dor e o enfado existencial, sobressai no sofrimento de maneira irrefletida. Desta forma é “acorrentada” à Vontade, pois o estado natural em que se encontra não foi uma opção e atitude consciente, simplesmente é levado pelos desejos e impulsos tal como o veleiro à deriva é levado pelo direcionamento desgovernado do vento. Trata-se, neste caso, da afirmação plenamente cega da Vontade, dita por Schopenhauer e dita por Siddartha como sendo as Ilusões Sensoriais que segue seu livre curso, perseguindo os objetos de desejos que se sucedem inflamada perenemente no ser natural. Desta maneira, o homem por meio da Vontade natural reluta em “adquirir consciência” desta diferença ilusória, do engano da individualização do eu, ao mesmo tempo em que se reconhece como portadora do sofrimento inerente à vida, podendo, a partir daí, afirmar-se ou negar-se.

Ao “Homem”, venhamos a pensar não lhe é permitido deixar de ser o quê é por natureza, “Homem”, sendo assim, consciente de si, resta-lhe viver, afirmando-se ou negando-se, entretanto nunca deixando de ser o quê é: “Humano” em toda sua extensão.

Considerações finais

Falar sobre as Quatro Nobres Verdades do Budismo associando-as ao pensamento schopenhaueriano para como a “dor” é mergulhar em temáticas mais do quê atuais, levando em consideração as reais dores pela qual nossa sociedade contemporânea vivencia, justamente por uma falta equilibrada de um conhecimento mais aprofundado em saberes referentes ás humanidades, perdendo-se cada vez mais em uma sociedade mercantilista, fria, tecnicista; parece que nunca vivenciamos um modelo de sociedade onde o antagonismo humano se alojou tão na contra mão do dito progresso de determinados saberes produzidos por essa mesma humanidade; gritantes são os uivos das dores deste mundo, somente os muito doentes de ouvidos não os ouvem, como aferra o pensamento na seguinte afirmação em Introdução dos Aforismos:

Apesar do sofrimento enquanto marca registrada da existência é possível um otimismo de natureza prática, sobretudo se formos guiados pela sabedoria de vida. As páginas que se seguem são, por conseguinte, um ensaio no qual o leitor poderá observar que um recanto protetor poderá ser encontrado em meio aos sofrimentos do mundo. E a filosofia ajuda nessa tarefa, pois pode ser consoladora. Neste sentido, podemos definir o pensamento de Schopenhauer como pendular, vale dizer, ele oscila continuamente entre pessimismo metafísico e otimismo prático. (SCHOPENHAUER, 2002a, p. XIII)

Além das aparências da filosofia de Schopenhauer há um convite a compreender a vida, e compreendendo a negatividade da mesma, optar pela vontade do querer, do querer realizar, do querer viver, um convite otimista perante o negativismo de forma pragmática, entretanto é preciso ter olhos para ver além do pessimismo aparente. Um viver mais artístico do quê acadêmico, mais belo do quê teórico. O que não difere em parte do convite feito inicialmente por parte de Buddah e formulado posteriormente pelo budismo ao conceito de “dor” e “sofrimento” e o modo pelo qual o homem em si se desperta para iluminar-se e assim extirpar tal mal natural. Si Schopenhauer ver a dor e o sofrimento como elemento natural, Buddah o via como elemento fruto da ilusão mental. Aqui não se fecha o diálogo filosófico entre o pensar ocidental e oriental, ao que pensamos hoje, abrem-se novas perspectivas.

Referências

DASS, Ram. Caminhos para Deus – Ensinamentos do Bhagavad Gita. Rio de Janeiro, Ed. Nova Era, 2007.

CHODRON, Thubten. Coração aberto, mente limpa. Rio de Janeiro: Ed. Nova Era, 2007.

KRISHNA. Bhagavad Gita. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2003.

PLATÃO. Fedro. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2007.

REDYSON, Deyve. Arthur Schopenhauer no Brasil: em memória dos 150 anos da morte

de Schopenhauer. João Pessoa: Ideia, 2010.

SCHOPENHAUER, Arthur. Aforismos para a Sabedoria de Vida. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

------------------------------------. Da morte – Metafísica do amor – Do Sofrimento do mundo. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2001.

--------------------------------------. O mundo como vontade e como representação. Tradução, apresentação, notas e índices Jair Barboza. São Paulo: UNESP, 2005.

--------------------------------------. Sobre o fundamento da moral. Tradução Maria Lúcia Mello Oliveira Cacciola. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Nota:

1.Licenciado em Filosofia pelo Programa de Formação Especial de Docente PROCEF pela FSC - Faculdade de Santa Cruz da Bahia – www.fsc.edu.br (2014); Bacharelado convalidado em Teologia pela Faculdade Batista Brasileira - FBB (2008) e graduação em Bacharel em Teologia pelo Instituto Teológico Presbiteriano Francis Schneider (2002). Pós-graduado em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela Faculdade de Santa Cruz da Bahia; Interessado no campo de pesquisa das Ciências da Religiões, Filosofia, e Ciências Sociais onde tenta pleitear o mestrado pela UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos – RS, na mesma área na linha de Pesquisa Identidades e Sociabilidades. Considera a cultura em sua dimensão vivida, examinando as lógicas identitárias operantes nos processos de pertencimento social, de desfiliação e de exclusão, de grupos e indivíduos. Estuda as práticas sociais relativas à vida cotidiana, a suas dinâmicas de interação e de sociabilidade, bem como os processos e as implicações teóricas e políticas relacionadas à construção de identidades, ao direito às diferenças, às religiões e ao multiculturalismo.

2.Buddah termo que deriva do sânscrito: बुद्ध – Iluminado, ou aquele que alcançou a auto- iluminação.

3. . Teologia ateológica de fato, uma vez que no budismo o fator “Deus” é impensado, não motivações para se pensar em “Deus”, sendo assim a única religião ateológica.

Henrique Sacramento
Enviado por Henrique Sacramento em 09/09/2014
Código do texto: T4955332
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