TEXTO – “TEETO” DE PLATÃO: O QUE O TEXTO NARRA? O QUE O TEXTO REVELA? O QUE POSSO PENSAR A PARTIR DO TEXTO?

INTRODUÇÃO

Henrique Jorge da Silva Sacramento

Diante do fragmento do texto de Platão intitulado “Teeteto”, nos deparamos com a condição de responder as seguintes questões: A) O que o texto narra? B) O que o texto revela? C) O que posso pensar a partir do texto? Sendo assim, somos levados á refletir o que tal fragmento nos condiciona a reflexionar frente aos desafios filosóficos. O texto, mesmo como fragmento nos é uma janela aberta, um convite ao entendimento do que seja a dialética socrática, narrada por Platão. E aqui abriremos uma hermenêutica aberta a dialética frente aos novos desafios emaranhado na Didática e Ensino da Filosofia.

QUESTÕES REFERENTES AO “TEXTO” TEETO DE PLATÃO

A) O QUE O TEXTO NARRA?

Em si, o texto narra dialeticamente duas questões basilares, o saber e o conhecimento, o que é o saber? E o que é o conhecimento em si? Narra Sócrates apresentando e desenvolvendo e aplicando o método maiêutico como método auxiliador paternejador ás ideias de seus “alunos” em seu próprio saber.

B) O QUE O TEXTO REVELA?

No revela pedagogicamente e didaticamente um Sócrates que escolhe seguir não transmitir seus saberes nem seus conhecimentos aos demais, toda via, provoca o mesmo em seus discípulos a excitação mental e filosófica de por si mesmo desenvolverem como que por dores de partos mentais e filosóficas, suas próprias ideias. O mestre (aqui Sócrates) não se posiciona, não toma partido diante de opiniões de seus discípulos como detentor de saberes e conhecimento, no entanto, si proporcionava como um facilitador aos seus discípulos alçar os saberes e conhecimentos que, já estava em si.

O texto nos revela que a maiêutica como método de ensino no qual o educador não é visto como fonte do saber, antonimamente ele é aquele que auxilia o discípulo a gerar sua autonomia.

C) O QUE POSSO PENSAR A PARTIR DO TEXTO?

Partindo do ponto de vista do fragmento do texto de Teeteto, somos levados a entender que Platão nos apresenta uma característica indispensável ao exercício filosófico cuja magnitude de sua realidade se faz na realização da consistência do ato platônico na valorização do filosofar e não tão amiúde no decorar e no reproduzir de saberes já preestabelecidos, é preciso pensar, gerar em si, ou buscar em si aquilo que já está gerado, apresentado pela maiêutica socrática, Platão abre espaço para que a dialética possa alcançar seu espaço dentro de uma pedagogia e de uma didática educacional filosófica onde o dialogo seja um meio e não um fim em si mesmo, como diz Paviani:

O filosofar é mais decisivo do que a filosofia. Platão não ensina filosofia, ele procura dialeticamente a verdade. A filosofia é matéria, o filosofar é forma, método. O filosofar implica desenvolver argumentos, conduzir processos dialéticos dos conhecimentos e, ainda, tomar decisões, definir condutas, estabelecer modos de viver, assumir visões do mundo. (PAVIANI, 2008, p.23).

Passamos a compreender ser a Filosofia uma ciência ou um saber cuja sua composição se dilata, essencialmente, na e pela dúvida, pela pergunta, pela inquirição. O sagrado: “O que é?” “Como é?” “Por que é?” “Para que é?” “Será que é? “Como pode?”. São por sua natureza inquirições natas próprias do fazer filosófico, fazem parte desse processo partejante socrático, desse parto filosófico, dessas dores de parto maiêutico, se encontram na gênesis da atitude, no caráter e da práxis filosófica. Assim nos diz Marilena Chauí,

Se, por enquanto, deixarmos de lado os objetos com os quais a Filosofia se ocupa, veremos que a atitude filosófica possui algumas características que são as mesmas, independente do conteúdo investigado. Essas características são:

Perguntar o que é (uma coisa, um valor, uma ideia, um comportamento). Ou seja, a Filosofia pergunta qual é a realidade e qual é a significação de algo, não importa o quê;

Pergunta como é (uma coisa, uma ideia, um valor, um comportamento). Ou seja, a Filosofia indaga como é a estrutura ou o sistema das relações que constitui a realidade de algo;

Pergunta por que é (uma coisa, uma ideia, um valor, um comportamento). Ou seja, por que algo existe, qual é a origem ou a causa de uma coisa, de ideia, de um valor, de um comportamento.

A atitude filosófica inicia-se dirigindo essas indagações ao mundo que nos rodeia e às relações que mantemos com ele. Pouco a pouco, descobre que essas questões pressupõe a figura daquele que interroga e que elas exigem que seja explicadas a tendência do ser humano a interrogar o mundo e a si mesmo como o desejo de concebê-lo e conhecer-se. Em outras palavras, a Filosofia compreende que precisa pensar sobre nossa capacidade de pensar. (CHAUI, 2005, p, 20).

É por meio dessa perspectiva que nossa ótica analisa o exercitar filosófico, a Filosofia é uma ciência, um saber, o filosofar uma ação, uma práxis, que excita, instiga o pensamento a se abrir os olhos ao pensar perenemente. O fragmento do texto de Teeteto de Platão nos aponta um Sócrates instigador, que motivas seus discípulos a pensar, ao invés de apenas apresentar meras respostas preestabelecidas como muitas vezes nos é comuns dentro do nosso atual conjunto educacional. Qual a grande diferenciação presente na didática socrática? A dialética. É essa metodologia, essa didática do dialogo, da discussão, da troca de ideias que faz ser possível a maturação das ideias,

A expressão processo dialético aponta um conjunto de dinâmico de condutas cognitivas que implicam o estabelecimento de regras, uso de técnicas, habilidades aliadas aos conhecimentos e definição de procedimentos que tornam viável, racional e coerente a argumentação. (PAVIANI, 2001, p.13)

Essa didática socrática por um lado decompõe certos valores de ideias preconcebidas, destroem valores e opiniões infundadas, ou mal construídas logicamente, por preconceitos por juízos pré-moldados, entretanto encaminha rumo á compreensões rigorosas e basiladas aos assuntos levados em conta. A fidúcia, e a convicção que um aluno, um discípulo pode galgar, por seus próprios méritos, à construção e edificação de saberes e conhecimentos, frente á mera passividade receptora de informações e saberes já embutidos, fundados e formulados, que era o convencional da práxis educacional grega na época de Sócrates, e ao que parece, isso se repete nessa contemporaneidade. Considerando o fator pedagógico e a apresentação de Platão revelado não só como filósofo, mas sobre tudo como bom escritor, Paviani nos remete a pensar:

Platão possui a vocação de escritor e de professor. Quem observa o estilo e os processos dialéticos de seus textos, os procedimentos da pergunta e da resposta, não tem dúvidas sobre essas características marcantes do escritor e do professor. Por isso, e também por outros aspectos intrínsecos ao pensamento dos diálogos, ele nos oferece uma filosofia e uma pedagogia indissolúveis. Não se trata de duas dimensões arbitraria unidas, mas a unidade de uma face de múltiplos aspectos. (PAVIANI, 2001, p. 23)

É-nos aberto um convite em Platão, por meio o de suas obras para um múltiplo agir, ou atitudes para com o fazer filosófico, em todas as suas obras onde encontramos o diálogo, da mesma forma como se faz na obra de Teeteto, encontramos o incentivo a entender a característica do axioma platônico que “consiste na valorização do filosofar e não no estudo escolar da filosofia.” (PAVIONI, op. cit. 2001, p, 23). Em todo tempo somos incentivados a pensar a proposição real do agente do filosofar, ou o filosofando, aquele que se propõe a não apenas a narrar sobre filosofia, e sim, entre tudo, a filosofar,

O ensino filosófico da filosofia é, portanto, o desafio colocado pelo tema em questão. Colocar em ação a atividade do filosofar, para assim permitir que (...) filosofem, constitui a tarefa primeira do professor de filosofia. Mas em que consiste propriamente o filosofar? Para nós, “filosofar” é a prática ou o desenvolvimento de uma certa ação o filosofar são as metodologias filosóficas.” (SOFISTE, 2007, p. 21)

Pensando no contexto de Sócrates essa metodologia e didática dialógica e maiêutica, para nós outros é uma grandíssima novidade, diante do que sabemos do que foi a paíedia grega, e o que é nosso atual modelo real prático pedagógico. Pensando por esse viés Juarez Gomes Sofiste nos aponta,

Pressupomos que o ensino da filosofia , como qualquer outra disciplina, nos remete para questões da didática geral. Por outro lado, acreditamos que o tema especificidades e, enquanto tal, segundo nossa compreensão, tais especificidades nos remetem para o campo próprio da filosofia. O ensino da filosofia, assim não pode ser estudado apenas como um problema didático ou pedagógico.

Não queremos, contudo, pensar o ensino da filosofia à revelia da didática ou pedagogia, o que, para nós, reforçaria a dicotomia já existente entre ambas. A opção em usarmos os termos “pedagogia’ e “docência”, na formulação do titulo do texto que buscamos construir, indica que estamos considerando a didática do ensino de filosofia em termos mais amplos, ou seja, de uma perspectiva, também filosófica.

Um dos aspectos mais problemáticos do assunto em análise é o como fazer da aula de filosofia um exercício de filosofar, isto é, um ensino da filosofia, ou, em termos mais simples, como evitar que aula de filosofia se transforme na mera transmissão de conhecimentos de filosofia de uma perspectiva apenas didática. (SOFISTE, 2007, p. 19 -20).

Podemos observar que a mesma problemática vivenciada na época pedagógica na era socrática não diferencia muito dos nossos dias atuais, temos problematizações símiles, falta-nos desenvolvemos no fazer filosófico justamente o que Platão nos oferece em seus textos, a construção de um fazer filosófico que permeie pela dialética das inquirições, buscando nelas os sentidos das coisas em si, e não apenas a conformidade com as informações advindas já prontas, sem nenhum esforço filosófico, sem nenhuma dor de parto cerebral, sem dores mentais, sem dores obstétricas filosóficas, pois assim, se assim for o filho filosófico nunca será nosso, será um filho alheio, sem propriedade nossa, sem nossa cara, sem nossas palavras, sem nossas ideias próprias, ficaríamos sempre como papagaios á papagaiar filosofias alheias.

De acordo com Sócrates, tão como sua progenitora, fora uma famosa parteira ele da mesma forma realizava o mesmo ofício. A diferença primordial era que Sócrates deixava claro é que, sua mãe praticava o parir do corporal, já ele, o parto da psiquê ou da alma. Não que ele ousasse afirmar que fazia nascer uma constante nascedouro de novas vidas a partir de outras, mas, fazia auxiliar seus discípulos a por para fora a luz do saber que já estava gerada dentro de si mesmo, fazendo assim com que seus discípulos se compreendessem ser eles não apenas discípulos, mas ao mergulharem si mesmo e passassem a pensar por si, transmutariam-se em filósofos.

O que podemos pensar até aqui é que a práxis filosófica de Sócrates apresentada no fragmento de Platão no diálogo de Teeteto, no aponta uma filosofia socrática que consiste não apenas em uma mera realização de um fazer filosofia, enquanto ensino de filosofia, mas um ato filosófico, um fazer filosófico, levando em plena consideração e estima que Sócrates tinha em seus diálogos uma ferramenta metodológica e didática para atingir uma finalidade prática e objetiva, á de extrair de seus discípulos o saber e o conhecimento que já estavam de uma certa forma latente dentro de cada um deles, bastava excita-los a pensar. E o fazer filosófico nos permite pensar ser isso, um poder pensar, um poder interrogar, um poder buscar nas inquirições e nas interrogações ás inquietações das dúvidas que carregamos dentro de cada um, de modo a fazer desse método um fazer filosofia, um fazer filosófico, um fazer dialético e maiêutico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação filosófica em nosso contexto ela é nova, levando em consideração a longevidade e longa história do processo educativo do velho continente frente á nossa realidade educacional, e vivenciamos uma realidade de desafios diante de tantos outros que faz com quê o desafio da educação do ensino da Filosofia seja por nós repensada com devoção á essa causa, desemos devoção porque o debruçar no exercício filosófico é um sacrifício voluntário, não há grandes méritos sociais á serem reconhecido pela massa, entretanto há uma suma importância no papel de modo geral na contextualidade da Educação, considerando a importância da Filosofia para todas as demais áreas do saber humano, pois ela interliga todos os demais saberes e conhecimentos, ela poder levar a tocha de Prometheus á todos os lugares, á todas as disciplinas e assim ilumina-las dando-as outras perspectivas e novos olhares, sem o olhar filosófico todo saber humano enxergará um mundo em preto e cinza, sem as cores vibrantes, sem as tonalidades que só ela nos pode apresentar, sem os porquês? Sem os O que é? Sem o como é? Sem o Por que é? O mundo do saber perde seu pai e sua mãe! Perde seu progenitor e sua progenitora. Esse fragmento platônico referente o diálogo de Teeteto, nos evidencia isto, Filosofia, vista pela ótica socrática é a Filosofia que nos permite olhar as coisas como elas são, nos permite perguntar, o que já foi preguntado, e re-preguntar, como também, perguntar o que não foi perguntado. E assim perenemente sempre perguntar.

REFERÊNCIAS

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 13ªed. 2005.

PAVIANI, Jayme. Platão e Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

---------------,Jayme.Filosofia e método em Platão. Porto Alegre: Edipucrs, 2001.

SOFISTE, Juarez Gomes. Sócrates e o Ensino da Filosofia – Investigação Dialógica: Uma Pedagogia para a docência de Filosofia. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2007

Henrique Sacramento
Enviado por Henrique Sacramento em 09/09/2014
Reeditado em 09/09/2014
Código do texto: T4955293
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