Eras...

O alcance de seu interesse pelo passado, e seu excepcional domínio dos temas pelos quais se embrenhava sempre espantaram a muitos, principalmente na série de quatro volumes A era das… na qual se destila a história do mundo capitalista de 1789 a 1991. Afirma-se ainda que “A capacidade de Hobsbawm de armazenar e recuperar detalhes atingiu agora a escala normalmente alcançada apenas por grandes arquivos com grandes equipes”... E completam: Tanto por seu conhecimento de detalhes históricos quanto por seu extraordinário poder de síntese, tão bem colocados no projeto dos quatro volumes, ele foi incomparável.

Kettle & Wedderburn

Em A Era das Revoluções: 1789 a 1848, nos mostra como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial inglesa abriram o caminho para a renascença das ciências, da filosofia, da religião e das artes; mas não conseguiram resolver os impasses criados pelas fortes contradições sociais, que transformaram este período numa conturbada fase de movimentos revolucionários; Em A Era do Capital: 1848 a 1875 teorizam que no apagar das chamas revolucionárias (1848), surgiu uma época de relativa paz, um período em que se desenvolveram um novo estilo e uma nova escala de valores que, juntos, formaram a era do capital. Análise detalhada da ascensão do capitalismo industrial e da consolidação da cultura burguesa; Em sua obra Era dos Impérios: 1875 a 1914 relatam sobre os anos que definiram o mundo no século XX, quando um longo período de paz, expansão capitalista e dominação européia desembocou em guerra e crise. Sabiamente, ele integra a cultura, a política e a vida social das décadas que antecederam à Primeira Guerra Mundial, e constrói uma interpretação estimulante e inovadora; e, por fim, no livro A Era dos Extremos: Breve século XX – 1914 a 1991, ele abandona seu silêncio voluntário para contar, em linguagem simples e envolvente, a história da era das ilusões perdidas, pois ele vê o século XX marcado por duas grandes eras, a da catástrofe (de 1914 a 1948) e a de ouro (de 1949 a 1973). Para Hobsbawm, neste século mataram-se mais seres humanos do que em qualquer outra época e nele se chegou a níveis de bem-estar e a transformações jamais vistas na experiência humana.

Caminhos abertos para a renascença das ciências; surgimento de uma época de relativa paz e um período no qual se desenvolveram um novo estilo e uma nova escala de valores, mais a expansão capitalista e a dominação européia que desembocou em guerras e crises e que somados à integração da cultura, da política e da vida social das décadas que antecederam à Primeira Guerra Mundial. Essas como tantas outras interpretações permitem-nos construir, hermeneuticamente, outras análises, numa linha de pensamento crítico, político-social-administrativa, sobre as estimulantes ações inovadoras e catastróficas fundamentadas no bem-estar das classes políticas que se substituíram na administração da nação brasileira a partir de 1991.

Este livro trata do pensamento político que emergiu no Brasil a partir dos anos 80 do século XX, sobre o qual vários partidos políticos se uniram e propuseram levar adiante determinados valores e concepções que se contrapunham à filosofia do militarismo que se firmara desde os anos 64 do referido século. Em que pese as ricas intenções partidárias, não nos ocuparemos aqui de uma exposição apenas política, e muito menos em análise de governos, embora episodicamente tais elementos possam ser encontrados ao longo deste trabalho mas, também do conjunto de forças políticas e sociais que se emaranharam e, posteriormente, se confrontaram e se alinharam em diversos momentos com vistas a forjar uma hegemonia política protagonizada por embates travados por ocasião do surgimento de uma “Nova república” cujos projetos desintegrou-se em detrimento das filosofias partidárias e individualistas que se fazem prevalecer nos dias atuais.

Nesse sentido, procuramos reexaminar o entendimento que se tem sobre a “Nova República, dispensando, para fazê-lo, aquela perspectiva, quase sempre caracterizada pela conotação meramente personalista de um mero apego a qualquer personagem político que seja. Esta visão holística busca ajudar a compreensão do pensamento político, econômico e social que se apresentou como verdadeiro enigma a ser decifrado a partir do ano de 1991.

Assim, situamo-nos em três dimensões que, muito embora independentes, se articulam necessariamente em face do universo que encerram. Referimo-nos, de um lado, à greve na região do ABC Paulista, 1978, que deu origem à corrente partidária denominada de “Lulismo”, equacionada através das relações partidárias nem sempre cordial entre partidos que podemos definir como um pequeno espaço onde seriam realizados acordos para que se pudesse realizar uma grande política que culminaria, seis anos mais tarde, em nossa segunda dimensão caracterizada nos ideais das “Diretas Já”.

Por outro lado, entre os movimentos protagonizados por diversas classes de artistas, instituições, associações e civis de modo em geral, é possível perceber que agiram movidos quase exclusivamente por fundamentos doutrinários contrários à doutrina militar que governava o país. Da mesma forma, há que se mencionar os que concebiam a “Nova República” como uma ruptura das práticas políticas vigentes e os que a conduziram em nome de objetivos mais pragmáticos, bem como, os que acreditavam que sua implantação decorreria de um processo de convencimento de determinadas parcelas das elites mais sensíveis ao ideário daquela nova era que estava para surgir: A Era das Enganações.