ANDRAGOGIA E EDUCAÇÃO 
A Arte e Ciência de Orientar Adultos a Aprender

     
     A Arte e Ciência de Orientar Adultos a Aprender
Todos os pais, pessoas de atitudes racionais, professores e quem convivem com crianças, estudam o comportamento humano e as ciências correlatas, sabem que elas não são ainda totalmente adequadas, adaptadas, ao meio em que vivem, São *incapazes de pleno discernimento, são indefesas e dependentes. Quando pequenas precisam ser alimentadas, protegidas, vestidas, banhadas, auxiliadas nos primeiros passos.
     Durante anos vivem nesta dependência. Um estágio normal do ambiente que as rodeia. Todas as crianças passam por esta fase da vida. Dentro de uma normalidade, chegam até a idade escolar e prosseguem nessa dependência, até atingirem seu pleno discernimento, uns prematuros outros mais tardios.
     A autoridade do professor e o acompanhamento deles hoje em dia, como orientadores , está em cheque. A palavra de um profissional médico, área da saúde , sem doutorado, não está! Mas de um profissional da educação, mesmo sendo doutor, estará!     Seriam uns profissionais inúteis, descartáveis? Não possuem conhecimento para o exercício da profissão, então por que os formam?
    Apenas um interlúdio que me ocorre sempre quando toco nesse assunto, talvez por ter origem na Educação e metade da vida vindo a exercê-la.
    Chegando à adolescência (que em termo bem humorado chamam-na de “aborrescência” ) vai-se climatizando outros ares e temperaturas. Passam a questionar e contrariar o que na vida é estabelecido, surgem modismos por imitação, as rebeldias trazem dissabores aos responsáveis por puro prazer da subversão ao mundo vigente, e na escola a autoridade do professor cai por terra por julgarem-no do “passado”. As ordens que os professores repassam obedientes a uma hierarquia-administrativa, não são para eles tão absolutas assim, e o descumprimento é a ordem da “galera”.
    Querem saber por que não podem beijar e agarrar suas namoradinhas em qualquer lugar que queiram. Por que não podem fazer sexo no banheiro. Por que não podem fumar, atender ou ligar o celular em classe. Por que tem que usar a camiseta com identificação da escola. Para não dizer o mais simples, por que devem aprender determinada matéria que detestam: seja matemática, português, geografia ou qualquer outra. Se forem contrariados podem até ficar agressivos.
    Diversos casos - hoje são globais - de alunos adolescentes, esfaquearem colegas, agredirem professores, quebrarem os vidros do carro da diretora que os repreendeu ou de professores que os encaminhou à diretoria. E, muitos outros casos: de banais, aos muito preocupantes no campo criminal-juvenil, como portar arma e dela fazer uso na escola.
   
    Fui até uma escola nas periferias de Americana-SP, em que a diretora estava sendo ameaçada de morte, por quatro ex-alunos. Estes invadiram o prédio, quebrando os vidros das janelas, e soltando bombas de alta potência explosiva (petardos) nos interiores das classes (para pôr em pânico e terror os alunos). Foram até a cantina e comeram o que puderam e beberam refrigerantes. Esparramando e destruindo tudo por onde passavam.     Fumando drogas, - o maldito crack - um deles armado de revólver ameaçava matá-la por ela os ter expulsado; exatamente por uso e portes de drogas no interior da escola. (Este é apenas um exemplo concreto, para corroborar e validar a teoria).
    É preciso, de alguma forma, conjurar as forças - de todas as Ciências correlatas à Educação - para perquirir estudos, levantamentos comportamentais, baseados em registros afetos ao mesmo fim, ou seja, quebrar o vínculo do noviciado com os alunos veteranos no vício, construindo um fosso sem ponte, para que o tempo possa passar, levando-os até a uma faixa etária de maior discernimento, quebrando este vínculo, que já está parecendo obrigatório como “prova de fogo”, um ritual de passagem aos mais jovens adolescentes a uma adolescência plena, que já se confunde com a maioridade (o cúmulo de faltarem quinze dias para o jovem completar dezoito anos, devem ser considerados pelo ECA "de menor" - qualquer crime que cometam não são presos, são "apreendidos" e não podem ser transportados no compartimento fechado do carro de presos, algemas nem pensar. E muitas vezes acabaram de cometer duplo assassinato.
     Só uma introdução aos malefícios gerados pelo sistema que podem ser atrelados para a vida adulta e ao analfabetismo. O analfabeto não é uma pessoa completa. Falta-lhe o vetor dos sentidos, que só são assimilados positivamente por si só. A Andragogia, aliás, fala muito claramente sobre os conhecimentos que apenas são trasladados de uma fonte pensante para outra fonte receptora: o educando; o aprendiz do alfabeto, o candidato a ser alfabetizado e de maneira geral ao adulto que precisa abrir os horizontes de sua mente para descortinar conhecimenntos que venham somar-se à sua prática. Passar de uma vida de "escravidão" servil, a ter independência em ler os nomes dos bairros escritos nos coletivos, sem estar perguntando a outras pessoas, humilhando-se em diversas situações. Poder conseguir um emprego que possa ganhar mais, se exige que saiba ler e escrever.
Ri Castro nos diz que o Brasil tem trinta e um milhões de analfabetos (metade deles já dá para eleger um governante para todos nós). Só no nordeste existem dezessete milhões de analfabetos. E esse cômputo geral são eleitores, têm (o direito?) ao voto. A maioria dos menores até os dezesseis anos são analfabetos funcionais, aqueles que não conhecem pontuação, virgulação e interpretação do que leram. Em suma, não sabem "fazer leitura"e escrever quase nada. As regras mais comesinhas não saõ conhecidas, não sabem pegar no lápis ou caneta, agarram-nos com todos os dedos juntos, não só com o indicador e o polegar apoiado no dedo médio, colocam a língua de fora para escrever, não sabem as quatro operações. É por que não frequentaram a escola? Frequentaram sim! Terminaram a oitava série. E minha funcionária doméstica tem o segundo gráu (antigo colegial) e não sabe escrever direito, troca as letras, não pontua, não faz concordância. Não lê, diz que não gosta...! E fala tudo errado: drento, mortandela, cardeneta, vistruis (avestruz), áio, sar, Conselho Telular, leite intregal, mertalúgio (metalúrgico) etc. Lamentável, sofrível, apocalíptico o ensino neste país, que teria tudo para ser diferente disso que se vê!
    O que não pode ocorrer é pensarmos que a Heurística como Ciência se trata de uma Utopia. Se não, do que valem todas essas Ciências voltadas à Educação?
    A partir da Heurística, todas as demais podem ser extintas por inutilidade! Como fizeram com a Educação Moral e Cívica (cuja denominação motiva sua razão de existir) ou Estudos de Problemas Brasilleiros e Organização Social e Política Brasileira, o ranço fóbico anti-militares por razões mais que ideológicas (absurdos que se podem explicar no campo dogmático-ideológico) as retiraram dos olhos dos alunos, que no mínimo ficariam sabendo o que é um político, o que fazem, o que deveriam fazer, por que fazem. O que é um presidente da república e suas obrigações, a razão da existência de deputados, por que pagamos tantos impostos e para onde vão! Teriam noção dos fins últimos do ser humano, o que é vida em sociedade, o que é crime, os males do vício, os desvirtuamentos do homem, suas qualidades, seus deveres e obrigações, enfim a Honestidade dentro do campo da Moral!  - Não! Isso seria pernicioso demais às crianças e adolescentes...!
    Na "Terra dos Cegos" (Aldous Huxley), diz  "que deliberaram arrancar os olhos de um visitante que via; para livrá-lo daquelas 'alucinações' que contava aos cegos, que existia no mundo para se ver: formas e cores, balançar da relva, montanhas, nuvens...!"
    De que adiantam as Universidades e seus cursos, pedagógicos, educacionais, terapêuticos, paramédicos, auxiliares da saúde; psicologia, terapêutica educacional, psicopedagogia, e um rol enorme de matérias afins?
    Os jovens, aqui (ressalvadas todas as exceções) costumam reunir os mais novos adolescentes, os adolescentes mais velhos e os jovens adultos para a eles ministrarem suas orientações básicas, que serão seguidas ao agrado ou dosadas compulsoriamente ou com o preço da vida.
    É muito sério o assunto e preocupante, pois é desta faixa etária que sairão nossos futuros adultos e governantes. Não queremos mais outro Hitler, outro Mussolini, Stalim, ou Nero, Calígula e outros monstros da política e do poder (geração corrompida, sem horizontes e mentes alucinadas). Sem estes espécimes ditos e deturpados, já estamos vivendo em um país que é um “hospício de loucos”!
   A qualidade e o  potencial de uma nova geração para dirigir a vida social do país, num mediato futuro, também é de reponsabilidade deste extrato sócio-educativo. A observar a governança política.
   Quem obrigatoriamente deverá estar em segundo momento junto a esse contingente senão os profissionais de saúde, que serão apenas lenitivos (pela mesma obviedade da área educacional), quando todos aqueles que de alguma forma têm correlação com as Ciências da Educação foram tolhidos de exercer plenamente suas funções (noticiários da mídia, quanto ao desleixo governamental: desde salários às estruturas básicas).
    Por terceiro recai tudo no colo da polícia, como se estes fossem: psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, clínicos, professores, terapeutas, mágicos, bruxos, milagreiros (tudo ao contrário, são carentes de muito mais meios básicos que todas as outras áreas juntas, inclusive a salarial, e modernidade de equipamentos (em segurança não cabe mais improvisar) para enfrentar aquilo de que todos fogem, desviam e nem querem ver.)
    Necessário dizer isso pelo fato de que essa carga toda recairá por sobre uma nova sociedade, formada por nossos filhos e netos. Esses que estão aí corruptamente roubando o país, logo morrerão, e pelo andar da carruagem darão lugar a seus descendentes que têm uma formação pior do que a deles, pois foram formados nesse caldo de cultura que aí está.
    As forças vivas, ponderadas, sábias, que também existem no Brasil, haverão por honra e heroismo de cunhar estadistas, estes sim poderão fazer frente à essa tempestade que se avizinha. E o Caminho mais curto, mais duradouro, mais internalizado é a educação de um povo. Até para contar a sua própria história. 
    A idade adulta trás a relativa independência, caso não traga a reboque a herança maldita das falhas do ensino, educação da adolescência e fase jovem, por extrita culpa dos governantes.  O indivíduo de forma genérica - é certo - acumula experiências de vida, visão de mundo, aprende com os próprios erros, apercebe-se daquilo que não sabe, e neste ponto da consciência, o quanto a educação faz-lhe falta. Vai constituir família, escolher ou procurar saber uma profissão e quando seria possível analisar as informações que o mundo lhe fornece , classificando-as como úteis ou descartáveis.
    Esta evolução, de acontecimento real e gritante quanto descrita, é ignorada totalmente pelos sistemas tradicionais vigentes de ensino, propostos e impingidos pelo governo. Nossas escolas, nossas universidades falando de adultos agora, tentam ainda ensinar com as mesmas técnicas didáticas usadas nos colégios, primários ou secundários, suas tábulas não são renovadas, reescritas. Na base, na origem, a maneira atual da escola pública sem a disciplina e a autoridade que seriam necessárias, para no mínimo alfabetizar.
    A mesma pedagogia é usada em crianças e adultos, na fase educacional, embora a própria origem da palavra se refira à educação e ensino das crianças (do grego paidós = criança).
Linderman, E.C, em 1926, pesquisando as melhores formas de educar adultos para a "American Association for Adult Education" percebeu algumas impropriedades nos métodos utilizados e disse:


"Nosso sistema acadêmico se desenvolveu numa ordem inversa: assuntos e professores são os pontos de partida, e os alunos são secundários ... O aluno é solicitado a se ajustar a um currículo pré-estabelecido ... Grande parte do aprendizado consiste na transferência passiva para o estudante da experiência e conhecimento de outrem ".

    Mais adiante:

"Nós aprendemos aquilo que nós fazemos. A experiência é o livro-texto vivo do adulto aprendiz".

    A partir de 1970 , Malcom Knowles trouxe a tona as idéias plantadas por Linderman. Publicou várias obras, entre elas "The Adult Learner - A Neglected Species" (1973), introduzindo e definindo o termo Andragogia - A Arte e Ciência de Orientar Adultos a Aprender. Daí em diante, muitos educadores passaram a se dedicar ao tema, surgindo ampla literatura sobre o assunto.
Lança assim as bases para o aprendizado centrado no estudante, e do aprendizado tipo "aprender fazendo".

    Infelizmente sua percepção ficou esquecida durante muito tempo.



 
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 19/12/2013
Reeditado em 19/12/2013
Código do texto: T4618345
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