Historia Nova do Brasil e a Independência: auxilio para professores de História

Vivemos em outros tempos e colhemos os bons frutos do movimento da História Nova do Brasil, fundado em 1955. Os estudantes modernos utilizam livros didáticos que permitem análises, concretas, amplas, profundas e críticas do que foi a independência. Mas no seio da sociedade e do estudantado residem dificuldades de colocar a comemoração nos devidos termos. Nossa geração formou-se nos antigos manuais recheados da visão romântica, monarquista, triunfalista, mitológica e anedótica da História do Brasil, pautada na decoreba de datas, personagens e rituais. Criando e destacando indivíduos, cultuando e forjando heróis, subtraiu-se o povo e a sociedade do processo histórico, coisas imperdoáveis até na história do imperialismo. Intencionalmente relegaram a população uma sacra passividade e comodismo cordial, recebendo das classes dominantes as ações transformadores para seu progresso, enquanto cumprem fielmente o papel que a natureza lhes delegou, manter-se nos limites rigorosos da lei e da ordem vigentes. Nesse quadro tenebroso porque ideológico, se insere os exageros sobre o grito do Ipiranga, falsamente demonstrado como momento heróico da emancipação, revestido de enredo mágico, escondendo o autentico quadro da época. O Brasil colonial esteve longe de ser país sem conflitos sociais ou classes antagônicas. Nossa sociedade nunca foi homogênea e eram evidentes e conflituosos os interesses entre os escravos, servos, camadas médias e senhores de terra e de escravos. As classes que trabalhavam, lutaram, arduamente, por transformações sociais e econômicas profundas. O papel que a historiografia reacionária lhes outorga de passivos e conformados é sabidamente mentirosa. Muitas destas expressões evocavam a concepção republicana para a nação. Dadas as condições de sofrimento, manipulação e dominação da sociedade, alienação educacional e o fortalecimento do latifúndio, coloriu-se o processo de independência diverso das reais necessidades do povo, uma revolução política, não econômica nem social. A classe dominante brasileira não pensava na categoria povo, nem um projeto de nação para o país. Pautava-se por preservar a ordem social vigente, o modelo econômico escravista, o latifúndio, a ocultação da miséria e a dependência colonial. Mas a classe senhorial atropelava-se com as mudanças internacionais que determinavam mudanças também nessas concepções arcaicas nos países latinoamericanos. Ventos do liberalismo e da revolução industrial, que originavam a burguesia na Inglaterra, França e Holanda. Outra questão inventada pela historiografia laudatória e vesga, nossa independência não se deu por acaso nem pelo temperamento impulsivo do príncipe. Foi determinada pelas circunstâncias históricas dos acontecimentos mundiais. Aconteceria. O liberalismo e as idéias de Adam Smith impuseram mudanças nas relações de trabalho e produção, superação dos monopólios do mercantilismo. Estas contradições nos legaram um tipo de independência falso. Diferentes, mantivemos a monarquia, preservamos a escravidão e transferimos nossa dependência para os falsos amigos ingleses. Essas estruturas arcaicas resistirão no país ao longo da história, alcançando nossos dias. Em tempos de neoliberalismo, nosso povo ainda aguarda a realização de uma revolução nacional, pautada em reformas sociais e políticas que ampliem a cidadania e as condições de vida da maioria da população, democratizando a riqueza e tornando os direitos humanos constitucionais para além da ficção jurídica.